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ANÁLISE
Ambigüidade do governo terá preço
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A rejeição da emenda da reeleição que beneficiaria os presidentes da Câmara e do Senado, em
votação na noite de anteontem,
terá conseqüências durante vários meses dentro do Congresso.
O episódio representou uma
derrota quase humilhante para
João Paulo Cunha (PT-SP) e José
Sarney (PMDB-AP), presidentes
da Câmara e do Senado, respectivamente. Eles são o terceiro e o
quarto homens na hierarquia da
República. Assumem o Planalto
na falta de Luiz Inácio Lula da Silva e de José Alencar.
A humilhação ficou por conta
de João Paulo Cunha ter dito repetidas vezes que teria votos suficientes para aprovar a emenda da
reeleição na Câmara. Declarou
em público ter recebido o apoio
de Lula. O presidente da República negou em seguida.
Sarney, mais discreto, não falava publicamente sobre o assunto,
mas também tinha confiança de
que sairia vitorioso.
Houve ambigüidade por parte
de Lula no episódio. Em um primeiro momento, o presidente de
fato estimulou João Paulo e Sarney a articularem a favor da
emenda da reeleição. Depois, recuou. "Lula me deixou na chuva.
Os ministros do PMDB estão
usando a máquina para evitar a
aprovação da emenda", dizia o
presidente da Câmara anteontem,
antes da derrota.
O comportamento ambivalente
do Planalto é apontado pelos derrotados como a razão principal
para o fracasso da emenda da reeleição. O preço a ser pago pelo governo não pode ser mensurado
com precisão, pois será cobrado
aos poucos pelos que se sentiram
prejudicados. Projetos de lei de
interesse de Lula não serão rejeitados, mas poderão tramitar de
maneira mais lenta que a usual.
Ontem, dentro do Congresso, o
clima entre os derrotados era de
que "as coisas serão acertadas
mais à frente". Os primeiros testes
serão com os projetos sobre o salário mínimo, a lei de falências e o
PPP (Parceira Público Privada).
Para apaziguar os ânimos será
necessário coesão interna no governo. Os ministros de Lula terão
de trabalhar para acalmar João
Paulo e Sarney. Não é fácil.
Vários ministros ficaram em
campos opostos na noite de anteontem, quando a Câmara dos
Deputados votava a emenda da
reeleição. Até dentro do Palácio
do Planalto houve uma clara divisão. O ministro da Casa Civil, José
Dirceu, foi a favor de João Paulo e
de Sarney. Numa sala a poucos
metros de Dirceu, o ministro da
Coordenação Política, Aldo Rebelo, foi contra.
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