São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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ANÁLISE

Ambigüidade do governo terá preço

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A rejeição da emenda da reeleição que beneficiaria os presidentes da Câmara e do Senado, em votação na noite de anteontem, terá conseqüências durante vários meses dentro do Congresso.
O episódio representou uma derrota quase humilhante para João Paulo Cunha (PT-SP) e José Sarney (PMDB-AP), presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente. Eles são o terceiro e o quarto homens na hierarquia da República. Assumem o Planalto na falta de Luiz Inácio Lula da Silva e de José Alencar.
A humilhação ficou por conta de João Paulo Cunha ter dito repetidas vezes que teria votos suficientes para aprovar a emenda da reeleição na Câmara. Declarou em público ter recebido o apoio de Lula. O presidente da República negou em seguida.
Sarney, mais discreto, não falava publicamente sobre o assunto, mas também tinha confiança de que sairia vitorioso.
Houve ambigüidade por parte de Lula no episódio. Em um primeiro momento, o presidente de fato estimulou João Paulo e Sarney a articularem a favor da emenda da reeleição. Depois, recuou. "Lula me deixou na chuva. Os ministros do PMDB estão usando a máquina para evitar a aprovação da emenda", dizia o presidente da Câmara anteontem, antes da derrota.
O comportamento ambivalente do Planalto é apontado pelos derrotados como a razão principal para o fracasso da emenda da reeleição. O preço a ser pago pelo governo não pode ser mensurado com precisão, pois será cobrado aos poucos pelos que se sentiram prejudicados. Projetos de lei de interesse de Lula não serão rejeitados, mas poderão tramitar de maneira mais lenta que a usual.
Ontem, dentro do Congresso, o clima entre os derrotados era de que "as coisas serão acertadas mais à frente". Os primeiros testes serão com os projetos sobre o salário mínimo, a lei de falências e o PPP (Parceira Público Privada).
Para apaziguar os ânimos será necessário coesão interna no governo. Os ministros de Lula terão de trabalhar para acalmar João Paulo e Sarney. Não é fácil.
Vários ministros ficaram em campos opostos na noite de anteontem, quando a Câmara dos Deputados votava a emenda da reeleição. Até dentro do Palácio do Planalto houve uma clara divisão. O ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi a favor de João Paulo e de Sarney. Numa sala a poucos metros de Dirceu, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, foi contra.


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