|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIAGEM À CHINA
Dissidentes e organizações de defesa dos direitos humanos exortam o presidente a mencionar o tema durante sua visita ao país
Lula é cobrado por violações na China
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Organizações de defesa dos direitos humanos e dissidentes chineses consultados pela Folha
exortaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a defender o respeito aos direitos humanos e à liberdade de expressão em sua visita à China, que começa amanhã.
A Folha procurou membros da
delegação brasileira que vai à China para comentar o apelo, porém
não obteve resposta.
Lula não tocou no tema em sua
visita oficial a Cuba, outro país
duramente criticado por violar os
direitos humanos, em 2003. Ela
foi classificada de "decepcionante" por Elizardo Sánchez, presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos. Em abril, o Brasil ajudou a bloquear uma resolução na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, que
condenava a situação na China.
"Apoiávamos o texto contra a
China na ONU. Acreditávamos
que fosse importante que a comissão da ONU publicasse uma
declaração clara sobre a situação
dos direitos humanos no país,
pois os abusos continuam. Ficamos decepcionados com a decisão de vários países, incluindo o
Brasil, de não apoiá-la", disse Sara
Davis, da Human Rights Watch.
"Por outro lado, sabemos que a
China busca influenciar os outros
Estados de várias maneiras. E, em
alguns casos, ela acaba ameaçando impor duras sanções comerciais. Devemos lembrar que todos
os países precisam fazer negócios
com a China hoje", acrescentou.
De acordo com a Anistia Internacional, "sérias violações aos direitos humanos continuam a existir na China, e, em alguns aspectos, a situação se deteriorou".
"Dezenas de milhares de pessoas
continuam a ser detidas ou encarceradas por exercer pacificamente seu direito à liberdade de expressão, de associação ou de credo", apontou a assessoria de imprensa da Anistia Internacional.
Para a organização Repórteres
Sem Fronteiras, que, em 13 de
maio, lançou um trabalho sobre a
China intitulado "O Livro Negro",
"a pena de morte, a reeducação
forçada, a tortura, o uso político
da psiquiatria, a repressão a minorias étnicas e religiosas e o controle sobre a internet" ainda são
graves problemas na China.
Afinal, ainda segundo a entidade, "o Ministério da Segurança
Pública e o da Segurança do Estado ainda são os mestres do Estado
policial chinês, que não tolera nenhuma contestação ao monopólio do Partido Comunista".
Davis lembrou que, "embora tenha havido alguns esforços na
China -como a reforma do sistema legal e uma tênue abertura no
que tange à liberdade de imprensa-, a situação das minorias étnicas, sobretudo no Tibete, e a falta de direitos trabalhistas ainda
constituem uma preocupação".
"Há muitos abusos impostos
aos trabalhadores. A razão mais
comum de protestos de trabalhadores é a falta de pagamento.
Com freqüência, trabalhadores
temporários fazem seu trabalho e
não recebem pagamento. Aí começam a fazer protestos e têm
problemas com a polícia, pois os
protestos são proibidos. Ademais,
eles não podem organizar sindicatos para defender seus direitos,
e, em muitos casos, as pessoas trabalham em condições extremamente perigosas", disse Davis.
No que diz respeito à mídia, a
pesquisadora indicou que, apesar
da tênue abertura, "as prisões arbitrárias de editores que admitem
a publicação de textos contrários
ao governo não cessaram".
De acordo com o dissidente e
defensor dos direitos humanos
chinês Yan Dunzheng, 74, Lula
deveria fazer questão de falar sobre a situação dos trabalhadores
chineses. "Afinal, ele foi um reputado líder sindical no Brasil."
Vale ressaltar que a União Européia e os EUA, que são parceiros
comerciais da China bem mais
importantes do que o Brasil, não
deixam de criticar a situação dos
direitos humanos no país e apoiaram a resolução que condenava a
China na comissão da ONU.
Yan enfatizou, contudo, que,
embora Lula tenha a obrigação
moral de tocar no assunto durante sua visita, suas palavras "não terão grande efeito sobre as posições chinesas". "Os novos líderes
chineses são tão surdos quanto
seus predecessores", afirmou.
Texto Anterior: "Vida é sempre arriscada", diz João Paulo Próximo Texto: Outro lado: Governo chinês diz que situação tem melhorado Índice
|