São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

José Dirceu afirma que a CPI dos Correios é um problema do ministro Aldo Rebelo

"Olha para minha cara pra ver se estou preocupado", diz Lula

Alan Marques/Folha Imagem
Lula durante cerimônia em homenagem ao Dia Internacional da Biodiversidade, ontem no Planalto


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante das dificuldades do Palácio do Planalto para evitar a criação de CPI para investigar suposta corrupção nos Correios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou ontem demonstrar tranqüilidade diante do eventual início da Comissão Parlamentar de Inquérito na próxima semana.
O ministro José Dirceu (Casa Civil) e o vice-presidente, José Alencar, também deram declarações na mesma linha.
Ontem pela manhã, abordado por jornalistas enquanto caminhava num dos corredores do Planalto para participar de uma solenidade em homenagem ao Dia Internacional da Biodiversidade, o presidente respondeu o seguinte ao ser questionado pela Folha se a eventual criação da CPI dos Correios o preocupava: "Olha para a minha cara pra você ver se eu estou preocupado com isso", disse o presidente, sorrindo, ao lado de Alencar e da ministra Marina Silva (Meio Ambiente).

Dirceu
Minutos depois, atrasado para participar do mesmo evento, o ministro-chefe da Casa Civil também falou rapidamente sobre o tema. Ao responder à mesma pergunta feita ao presidente, Dirceu afirmou: "Quem tem que se preocupar com isso não sou eu, é o ministro [da Coordenação Política] Aldo [Rebelo] e o [líder do governo no Senado, Aloizio] Mercadante. Eu estou preocupado com a Casa Civil", declarou o ministro.
Nos últimos dias, não surtiu efeito a pressão do Palácio do Planalto para forçar seus aliados a retirar o apoio à criação da CPI dos Correios, prevista para a próxima quarta-feira, em sessão conjunta marcada pelos presidentes da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Até o momento, o requerimento para a criação da CPI dos Correios conta com 49 assinaturas de senadores (das 41 necessárias) e de 218 assinaturas de deputados (de 171 necessárias).
Ontem, após a cerimônia no Planalto, o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, tentou demonstrar inicialmente que desconhecia as investidas do Planalto contra a CPI. "Isso [a criação da CPI] já foi definido. Já foi aprovado, né?", questionou aos jornalistas que o cercavam.

Alencar
Alencar, que com a viagem de Lula ao Japão e à Coréia do Sul na semana que vem assume a Presidência da República, voltou a defender a CPI, segundo ele, importante até para os investigados.
"Eu, quando era senador, assinava os pedidos de investigação porque eu sou a favor de que haja investigação sobre qualquer denúncia que possa representar indício de crime. Agora, nunca fiz prejulgamento. A priori, o cidadão é honesto. Agora se não é, o que vai comprovar é a investigação. Então a investigação é até boa para o investigado, porque o investigado terá a grande oportunidade de provar a inocência."
E, na mesma linha de Lula e Dirceu, tentou transmitir a tranqüilidade do Palácio do Planalto em torno da eventual criação da CPI, ao ser indagado se o tema é motivo de preocupação. "Eu penso que não, porque o presidente nunca me deu qualquer tipo de demonstração de preocupação com relação a nenhuma coisa dessa natureza. De forma alguma", declarou.


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