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No Paraguai, Lula é atacado por jornal local
Editorial na capa do principal impresso do país chama Brasil de "imperialista e explorador" por não rever Tratado de Itaipu
Governo Lula minimiza as críticas, diz que relação com o Paraguai vive um bom momento e que não mexerá no tratado, válido até 2023
RODRIGO RÖTZSCH
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem, por
volta das 16h45 locais (17h45
em Brasília), para sua primeira
visita oficial ao Paraguai, sob
uma chuva fina que ajudava a
esfriar o clima na capital. Na
imprensa local, a recepção também não foi nada calorosa.
O "ABC Color", principal jornal do país, publicou na capa de
sua edição de ontem um editorial de página inteira intitulado
"Brasil, um país imperialista e
explorador". O editorial critica
Lula por não rever o Tratado de
Itaipu, "assinado pelas costas
do povo paraguaio em épocas
de ditadura militar". Entre outros termos, o texto diz que o
povo paraguaio é obrigado a suportar "um roubo descarado".
O editorial diz que a posição
"imperialista" do Brasil pode
ser responsável por "situações
de violência física entre cidadãos de ambos os países".
Fontes do governo brasileiro
minimizaram a importância do
editorial, dizendo que críticas
ao Brasil são comuns na imprensa paraguaia, mas que a relação Brasil-Paraguai vive um
de seus melhores momentos.
A virulência do ataque do
"ABC" foi atribuída também ao
fato de o jornal não ter participado da entrevista que Lula
concedeu nessa semana a seus
dois principais concorrentes,
"Última Hora" e "La Nación",
em Brasília. Segundo a Folha
apurou, o "ABC" não participou da entrevista porque não
fez esse pedido à Presidência.
Com tiragem diária de cerca
de 30 mil exemplares, em um
país com 6,3 milhões de habitantes, o "ABC" costuma pautar discussões em outros meios
de comunicação do Paraguai.
O embaixador do Brasil em
Assunção, Valter Pecly Moreira, disse ontem que não está
em discussão uma mudança no
Tratado de Itaipu, válido até
2023 e que, entre outros, determina que o Paraguai, por não
consumir toda a energia que
produz em Itaipu, é obrigado a
vendê-la ao Brasil. Setores reivindicam poder vender a energia a outro país, no caso, a Argentina, por um "preço justo".
"Achamos que o tratado é
um ato jurídico perfeito. Não
consideramos a reabertura de
negociações", disse Moreira.
Ele sustentou que as reivindicações feitas pelo Paraguai
foram atendidas -a de elevar o
valor que o Brasil paga pela
energia excedente e eliminar o
reajuste com base na inflação
dos EUA da dívida da estatal.
Biocombustíveis
O tema principal de discussões da visita de Lula a Assunção será a implantação de um
plano para produção de biocombustíveis no Paraguai. Esse
deve ser o tema de um dos mais
de dez acordos que devem ser
assinados hoje pelos países.
Ontem à noite, Lula participou de uma reunião com empresários paraguaios e brasileiros e depois foi recebido pelo
seu colega paraguaio, Nicanor
Duarte Frutos, para um jantar.
Na chegada a Assunção, Lula
não falou com a imprensa. O
ministro Silas Rondeau (Minas
e Energia), que teve seu nome
envolvido nas investigações da
Operação Navalha faz parte da
comitiva. Ele falou rapidamente e negou as acusações de participação no esquema.
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