São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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PROTESTO
Manifestantes pedem programas de habitação popular à direção da Caixa e ficam 45 minutos dentro do edifício
Sem-teto e mutuários invadem CEF

da Sucursal de Brasília

Cerca de 200 manifestantes da UNMP (União Nacional por Moradia Popular) invadiram ontem de manhã o saguão do edifício sede da Caixa Econômica Federal, em Brasília.
Os manifestantes, entre eles crianças e adolescentes, conseguiram chegar ao local minutos antes dos 40 soldados enviados pela Polícia Militar.
Os PMs não conseguiram evitar a entrada dos manifestantes, mas impediram que eles fossem para outras dependências do edifício.
Quinze minutos depois da invasão, chegaram mais 15 soldados. Segundo o major Alexandre Nogueira, foram deslocados 55 PMs para fazer a segurança do local. A Folha contou 80 policiais.
Os manifestantes ficaram dentro do prédio por cerca de 45 minutos gritando palavras de ordem em defesa da moradia popular.
Eles saíram apenas quando José Coelho, diretor administrativo da CEF, concordou em receber uma comissão do movimento, que entregou as reivindicações do grupo.
Os manifestantes ainda ficaram em frente à porta do edifício até as 11h, quando saíram com destino ao Gran Circo Lar, onde estavam acampados.
A UNMP quer a aprovação do projeto de lei que cria o Fundo e o Conselho Nacional de Moradia Popular e a criação de programas de habitação popular nos centros das grandes cidades.
Além disso, quer a revisão dos contratos e garantia de permanência dos mutuários de baixa renda da Caixa Econômica Federal.
Segundo Evariza Rodrigues, coordenadora executiva da UNMP, essa é a nona vez que os sem-teto e mutuários que fazem parte dessa associação vêm a Brasília para fazer manifestações.
"É uma ocupação simbólica, mas é uma maneira de pressionar o governo, que precisa atender nossas reivindicações o quanto antes", afirmou.

Luta por teto
Albertina Oliveira Reis, 74, uma das manifestantes que vieram de São Paulo, disse que já é o segundo ato feito pela UNMP em Brasília do qual ela participa.
Ela mora em uma casa alugada, recebe aposentadoria de R$ 123 mensais e está participando das manifestações porque acredita que "tem muita gente precisando de teto no Brasil".
"Mesmo que eu consiga a minha casinha, vou continuar lutando para que os outros tenham condições de conquistar a deles."

Descontrole
O presidente da CUT do Distrito Federal, José Zunga, reconheceu pela manhã que o movimento não tinha o controle dos manifestantes. "Não há como controlar uma massa dessas", disse às 11h30.
O sindicalista começou a perceber que havia perdido o controle sobre o movimento logo cedo, quando os líderes da UNMP pegaram um carro de som e foram invadir a sede da CEF, contrariando a orientação da coordenação da Jornada Nacional de Luta por Emprego e Direitos Sociais.
Os líderes da UNMP pediram autorização para usar o carro de som a Sandra Cabral, da CUT nacional, mas não informaram que planejavam a invasão da CEF.
Logo em seguida, anunciaram pelo próprio carro de som que estavam se dirigindo à sede da CEF para fazer uma invasão. A PM recebeu a informação e chegou ao local junto com os manifestantes.
Zunga disse que o movimento estava muito amplo, com a participação de trabalhadores rurais e urbanos, estudantes e militantes de partidos políticos. "É extremamente perigoso. Mas é necessário, porque todas essas questões (moradia, emprego, educação) estão interligadas", disse.
Na tentativa de evitar a agressão de um manifestante, em frente ao Congresso, Zunga acabou atingido por um golpe de cassetete. Ficou estirado no chão, com dificuldade de respirar.



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