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PROTESTO
Em Viena, líder dos sem-terra diz porém que MST apóia a campanha petista à Presidência da República
Invasão continuaria com Lula, diz Stedile
RODRIGO AMARAL
enviado especial a Viena
O economista
João Pedro Stedile, um dos
principais líderes do MST, disse ontem em
Viena que as invasões de terra promovidas pelo
movimento vão seguir mesmo se
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir a Presidência da República.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), no
entanto, já acertou o apoio à candidatura petista, e líderes do movimento, como o próprio Stedile,
devem subir no palanque de Lula.
"As ocupações não dependem
da vontade do MST. Quem decide
quando ocupar e que fazenda ocupar é a nossa base no interior",
disse Stedile. "Enquanto houver
latifúndio e enquanto houver gente sem terra, as ocupações vão
continuar."
Ainda ontem, Stedile, que participou de seminários de movimentos de esquerda e de uma reunião
com ONGs na sede da ONU em
Viena, disse que um eventual governo Lula pode assentar 2 milhões de famílias em dois anos.
Leia a seguir os principais trechos
da entrevista concedida à Folha:
Folha - Os principais líderes do
MST podem participar de comícios
e viajar junto com Lula?
João Pedro Stedile - Claro. Já
estamos fazendo isso. É até o contrário: temos feito manifestações
públicas no interior e convidamos
o Lula e o Brizola para participar.
Folha - O Lula tem procurado
mostrar uma posição mais moderada politicamente. Há divergências com o MST?
Stedile - Temos conversado
muito com o Lula, e a convergência é muito grande. O que temos
dito ao Lula, e nos parece que ele
também tem essa opinião, é que,
mais do que discutir grandes propostas de plano de governo, é preciso mostrar que, nas eleições, vão
estar em jogo dois modelos econômicos: esse do FHC, que subordina nossa economia ao capital financeiro, ou outro que reorganize
a economia, resgate a soberania
nacional, distribua a renda e fortaleça o mercado interno.
Folha - De todo modo, o PT vai
ter de apresentar um plano de governo. O MST está apresentando
propostas concretas a esse plano?
Stedile - O PT vai realizar plenárias sobre isso, e certamente a
base do MST vai participar. Eu,
pessoalmente, não estou preocupado com o plano de governo, que
é, no Brasil, só mais uma carta de
propaganda eleitoral. Se a vitória
do Lula for contundente, ele poderá fazer mudanças mais avançadas. Se a vitória for muito apertada
e depender de muitas alianças políticas, certamente o programa de
governo do Lula vai ficar muito
aquém da própria vontade dele.
Folha - Quanto o MST acha possível assentar com essas medidas?
Stedile - Nós nos guiamos pelos estudos do falecido professor
José Gomes da Silva, que mostrou
que é possível, em dois anos de governo, assentar 2 milhões de famílias. O governo Lula tem que trabalhar com uma meta desse tipo.
Folha - As invasões vão continuar
durante a campanha eleitoral?
Stedile - As ocupações de terra
são uma forma de pressão social e
não dependem da vontade do
MST. Quem decide quando e que
fazenda ocupar é a nossa base no
interior, que tem total autonomia.
Enquanto houver latifúndio improdutivo e gente sem terra, elas
vão continuar. Por isso, mesmo
durante um governo Lula, elas vão
seguir.
Folha - Os saques no Nordeste
podem influenciar o eleitorado de
classe média contra o MST e consequentemente prejudicar a candidatura de Lula?
Stedile - Na classe média, é
possível que tenha alguma repercussão negativa. Mas eu tenho dito
ao Lula que, se ele ganhar as eleições, terá sido com o apoio do povo. Ele que se esqueça da classe
média, que, além de ser pequena, é
conservadora e nunca vai votar no
Lula. Mas acho que o Lula vai ter
mais votos na classe média do que
em 94, devido ao desemprego e aos
problemas nas áreas de serviços
como planos de saúde e colégios
particulares, nos quais a inflação
passa de 100%.
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