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CRIME
Morte pode ter relação com conflitos de terra; Polícia Federal vai investigar o caso
Líder indígena é assassinado em PE
VANDECK SANTIAGO
da Agência Folha, em Recife
O líder da tribo Xucuru, Francisco de Assis Araújo, 46, conhecido
como "Cacique Chicão", foi assassinado a tiros de revólver ontem de manhã, na porta da casa da
irmã, em Pesqueira (214 km de
Recife).
A morte do índio está ligada a
conflitos de terra na região, segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
Os xucurus reivindicam uma
área de 27.555 hectares na cidade.
Hoje, a tribo (cerca de 7.500 pessoas) ocupa 2.000 hectares desse
total. O restante é ocupado por 181
fazendas, segundo o Cimi.
Na nota sobre a morte do líder
indígena, emitida ontem à tarde
em Brasília, o Cimi acusa o presidente Fernando Henrique Cardoso de "se omitir na sua responsabilidade de demarcar, fiscalizar
e proteger as terras indígenas".
"Chicão" estava saindo de um
automóvel da marca Niva (pertencente à tribo) quando foi atingido
por seis tiros, segundo o delegado
de Pesqueira, Cleodon Coelho.
O criminoso seria "alto e loiro" e teria saído "andando
apressadamente" após efetuar os
disparos, segundo informações
obtidas pela polícia. A Polícia Federal enviou ontem uma equipe à
cidade para investigar o caso.
O clima é de revolta entre os índios xucurus. "É mais um crime
contra o povo indígena, que esperamos que não fique impune como já ficaram tantos", disse o vereador Antônio Pereira (PSB),
membro da tribo e primo do líder
assassinado.
Coordenador
"Chicão" era uma das principais lideranças indígenas do Nordeste e um dos coordenadores da
Apoinme (Articulação dos Povos
Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo).
Tinha sete filhos, todos maiores
de idade. Desde 1988, quando teve
início a luta para a demarcação
dos 27.555 hectares, o líder indígena denunciava que sofria ameaças
de morte.
"Chicão" já havia participado
de encontros na França e Suécia
sobre a questão indígena. Ele foi
eleito líder indígena dos xucurus
em eleição direta.
Nas eleições municipais de 94, os
xucurus elegeram vereador pelo
PSB um dos integrantes da tribo,
Antônio Pereira, apoiado por
"Chicão".
A área reivindicada pelos xucurus chegou a ser demarcada pela
Funai em 1995, mas no ano seguinte um mandado de segurança
impetrado por fazendeiros e posseiros no STJ (Superior Tribunal
de Justiça) conseguiu anular a demarcação, disse Sando Lôbo, assessor jurídico do Cimi.
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