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ACADEMIA
Filósofa e professora da USP é condecorada com "honoris causa" pela Universidade de Paris 8
Chaui recebe título e faz elogio da filosofia
FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PARIS
A filósofa Marilena de Souza
Chaui, 61, recebeu ontem à tarde o
título de "doutora honoris causa"
da Universidade de Paris 8, tornando-se a primeira brasileira a
receber essa distinção.
Acompanhada à mesa pelo presidente da Universidade de Paris
8, Pierre Lunel, pelo filósofo Claude Lefort e pelos professores Jacques Poulain e Patrice Vermeren,
Chaui foi saudada por cada um
deles pelo conjunto de sua obra e
por suas ações públicas em defesa
dos direitos políticos e civis.
Pierre Lunel destacou a tripla
experiência da "filosofia, da liberdade e da igualdade" como ideais
presentes na trajetória da pensadora. Vermeren foi além: "Para
alguns, a filosofia é uma carreira
universitária. Para outros, infelizmente mais raros, ela é um combate. Era, certamente, o caso de
Espinosa. E é também, sem dúvida, o de Marilena Chaui".
Seu amigo Claude Lefort recordou que, em 1974, ao retornar à
USP para lecionar, fora alertado
pelo então diretor do departamento de filosofia, João Cruz Costa, sobre o fato de que os estudantes estavam então "subjugados
por um novo e jovem professor:
uma mulher". Sobre a professora,
que logo viria a conhecer, Lefort
declarou: "Todos aqueles que a
conhecem se impressionam por
sua eloquência, pelo calor com o
qual exprime suas convicções, a
rapidez de sua inteligência, o alcance de sua cultura filosófica e literária; entretanto essas notáveis
qualidades não devem fazer esquecer esse traço que a caracteriza: a paciência do pensamento".
Lefort lembrou ainda seu engajamento político: "Recentemente,
após ter colocado sua confiança
no poder emergido das últimas
eleições, você soube, todavia, se
preservar do exercício de responsabilidades públicas. Você associa
filosofia e política, mas você sabe
que elas nos submetem a exigências diferentes. Estou feliz que, pela presente conjuntura, esse doutorado de Estado recompense sua
vocação à filosofia", declarou.
Na platéia estava a mãe da filósofa, Laura de Souza, 90, que viajou a Paris para assistir à entrega
do título e chorou na cerimônia.
Pela manhã, duas mesas de debate sobre temas brasileiros tinham reunido os franceses Jean-Michel Blanquer e Sylvie Debs e
os brasileiros Luiz Felipe de Alencastro e Afrânio Garcia.
"Fiquei muito emocionada com
tudo", declarou Chaui: "A França
sempre foi uma presença muito
intensa para mim, tanto no sentido da minha formação como pelos horizontes de cultura, política
e do trabalho filosófico. Mas sempre considerei que havia uma distância intransponível, e que jamais me colocaria na posição de
um par daqueles que haviam sido
meus professores".
Pouco antes, no seu discurso de
agradecimento, ela resumira sua
escolha pessoal e profissional para o auditório: "Eu sei que, hoje,
considera-se a filosofia uma profissão como qualquer outra. Mas
penso, no entanto, que alguém
que escolheu a filosofia como forma de expressão de seu pensamento, de seus sentimentos, seus
desejos e suas ações, escolheu um
modo de vida, um certo tipo de
interrogação e uma certa relação
com a verdade, a liberdade e a justiça", disse Chaui.
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