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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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ACADEMIA

Filósofa e professora da USP é condecorada com "honoris causa" pela Universidade de Paris 8

Chaui recebe título e faz elogio da filosofia

FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PARIS

A filósofa Marilena de Souza Chaui, 61, recebeu ontem à tarde o título de "doutora honoris causa" da Universidade de Paris 8, tornando-se a primeira brasileira a receber essa distinção.
Acompanhada à mesa pelo presidente da Universidade de Paris 8, Pierre Lunel, pelo filósofo Claude Lefort e pelos professores Jacques Poulain e Patrice Vermeren, Chaui foi saudada por cada um deles pelo conjunto de sua obra e por suas ações públicas em defesa dos direitos políticos e civis.
Pierre Lunel destacou a tripla experiência da "filosofia, da liberdade e da igualdade" como ideais presentes na trajetória da pensadora. Vermeren foi além: "Para alguns, a filosofia é uma carreira universitária. Para outros, infelizmente mais raros, ela é um combate. Era, certamente, o caso de Espinosa. E é também, sem dúvida, o de Marilena Chaui".
Seu amigo Claude Lefort recordou que, em 1974, ao retornar à USP para lecionar, fora alertado pelo então diretor do departamento de filosofia, João Cruz Costa, sobre o fato de que os estudantes estavam então "subjugados por um novo e jovem professor: uma mulher". Sobre a professora, que logo viria a conhecer, Lefort declarou: "Todos aqueles que a conhecem se impressionam por sua eloquência, pelo calor com o qual exprime suas convicções, a rapidez de sua inteligência, o alcance de sua cultura filosófica e literária; entretanto essas notáveis qualidades não devem fazer esquecer esse traço que a caracteriza: a paciência do pensamento".
Lefort lembrou ainda seu engajamento político: "Recentemente, após ter colocado sua confiança no poder emergido das últimas eleições, você soube, todavia, se preservar do exercício de responsabilidades públicas. Você associa filosofia e política, mas você sabe que elas nos submetem a exigências diferentes. Estou feliz que, pela presente conjuntura, esse doutorado de Estado recompense sua vocação à filosofia", declarou.
Na platéia estava a mãe da filósofa, Laura de Souza, 90, que viajou a Paris para assistir à entrega do título e chorou na cerimônia.
Pela manhã, duas mesas de debate sobre temas brasileiros tinham reunido os franceses Jean-Michel Blanquer e Sylvie Debs e os brasileiros Luiz Felipe de Alencastro e Afrânio Garcia.
"Fiquei muito emocionada com tudo", declarou Chaui: "A França sempre foi uma presença muito intensa para mim, tanto no sentido da minha formação como pelos horizontes de cultura, política e do trabalho filosófico. Mas sempre considerei que havia uma distância intransponível, e que jamais me colocaria na posição de um par daqueles que haviam sido meus professores".
Pouco antes, no seu discurso de agradecimento, ela resumira sua escolha pessoal e profissional para o auditório: "Eu sei que, hoje, considera-se a filosofia uma profissão como qualquer outra. Mas penso, no entanto, que alguém que escolheu a filosofia como forma de expressão de seu pensamento, de seus sentimentos, seus desejos e suas ações, escolheu um modo de vida, um certo tipo de interrogação e uma certa relação com a verdade, a liberdade e a justiça", disse Chaui.



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