São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2004

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Mutirão articula para manter R$ 260

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos aliados que reconfirmem o salário mínimo de R$ 260 em votação na Câmara amanhã como forma de demonstrar "força política" e "governabilidade" na véspera de encontro com investidores nos Estados Unidos.
Consequência: jantar hoje na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), reunirá um mutirão de mais de dez ministros (incluindo os de partidos aliados) e líderes partidários que apóiam Lula para contar votos nas bancadas e ter certeza da aprovação do valor de R$ 260 em nome da "governabilidade".
O objetivo é evitar divisão na articulação política e vencer com uma grande operação para mostrar força. Na quinta passada, o Senado elevou o mínimo para R$ 275 por 44 a 31 votos, o que devolveu o texto à Câmara.
Exemplo: Eunício Oliveira (Comunicações) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), que são deputados federais, buscarão votos em seus partidos -respectivamente PMDB e PSB. Os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) participarão da reunião, sugerida por João Paulo a Lula na última sexta-feira. O vice-presidente da República e cacique do PL, José Alencar, foi convidado.
Por cortesia, João Paulo convidará líderes da oposição, mas é improvável que compareçam.
Lula viaja amanhã para Nova York. No dia seguinte, abrirá o seminário "Brasil Encontra o Mercado", no qual há aproximadamente 450 inscritos.
Na sexta passada, um dia depois da derrota no Senado, Lula e Palocci tiveram como maior preocupação mostrar ao mercado que o governo não perdera o controle de sua base congressual.
"Seria importante votar logo, antes da viagem a Nova York", disse Palocci a Lula. O presidente afirmou que usará a "caneta" para vetar o mínimo de R$ 275 caso perca na Câmara. Num gesto calculado, Palocci deu entrevista. Minimizou o efeito econômico e disse que houve "tropeço".
Interessado em agradar Lula para reapresentar a emenda constitucional que permitiria a reeleição dele e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para seus respectivos cargos, João Paulo voltou a garantir ao presidente que ele não sofreria o desgaste de vetar os R$ 275. Ele acertou com líderes que a votação será amanhã, antes da debandada para os festejos de São João, na quinta.
A medida provisória do salário mínimo volta à Câmara para votação definitiva. A Casa já derrotou o valor de R$ 275 uma vez, por 266 a 167 votos. O governo espera arregimentar entre 260 e 270 votos para reconfirmar os R$ 260. Precisará da presença de pelo menos 257 deputados para garantir o quórum da votação, no qual vence com maioria simples.
João Paulo, o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), e os líderes aliados enviaram telegramas a deputados pedindo presença na terça.
"Recebi telegramas do João Paulo, do Luizinho e do Arlindo [Chinaglia, líder do PT na Câmara]. Essa votação é importante para a governabilidade do Lula", afirmou o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), presidente da Comissão de Orçamento.
Segundo Bernardo, se não for aprovado os R$ 260, a primeira pergunta que Lula ouvirá em Nova York será: "Como é que o senhor quer atrair investimentos se não tem força para aprovar um projeto por maioria simples no Senado e na Câmara?".


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