|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/TROCA DE GUARDA
Nova titular toma posse às 16h; destino da Coordenação Política segue indefinido
Lula confirma Dilma para a vaga de Dirceu na Casa Civil
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva oficializou ontem a escolha
de Dilma Rousseff para substituir
José Dirceu na Casa Civil, como
antecipou a Folha no sábado. Dilma toma posse às 16h de hoje, em
cerimônia no Palácio do Planalto.
Lula antecipou ontem a volta do
Paraguai para discutir com petistas a reforma ministerial. Dilma,
57, foi convidada por Lula na
quinta-feira passada -dia em
que José Dirceu anunciou que sairia da Casa Civil e reassumiria
amanhã o mandato de deputado
federal por São Paulo.
A queda de Dirceu, que já se enfraquecera no caso Waldomiro
Diniz (2004), foi uma resposta à
maior crise política do governo
Lula e dos 25 anos de história do
PT, sobre os quais pairam acusações de corrupção. O ministro
saiu após as duas entrevistas à Folha em que o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson, o
acusou de ser um dos comandantes de suposto esquema de mesada do PT a deputados federais do
PP e do PTB. Dirceu nega.
Maurício Tolmasquim, ex-secretário-executivo de Minas e
Energia e hoje presidente da Empresa de Pesquisa Energética, responderá interinamente pela pasta. Lula pretende negociá-la com
o PMDB -o senador José Sarney
(AP) teria preferência na indicação e tende a sugerir o nome de Silas Rondeau (Eletronorte).
O presidente pediu a Dilma que
mantivesse segredo até segunda-feira [ontem]. Queria deixar a
sexta e o final de semana "livres"
para que Dirceu fosse o personagem central do governo e dos assuntos do PT. Nesse período,
houve um ato de desagravo a Dirceu na sexta. No sábado, ele participou de reunião do partido.
Ouvido antes por Lula, Dirceu
foi decisivo na escolha de Dilma.
Dirceu telefonou para a ministra
na quinta-feira para dizer que ela
era a escolha certa. Amigos, os
dois têm em comum um passado
de combate à ditadura militar de
1964 em organizações guerrilheiras de esquerda.
Com a volta da democracia,
Dirceu fez carreira na política,
tornando-se o principal estrategista da inflexão do PT ao centro
(moderação econômica e política), o que levou o partido ao poder central em 2002. Já Dilma, de
carreira técnica, foi do PDT até
2001, quando ingressou no PT.
Estilo "trator"
Lula gosta do estilo "trator" de
Dilma, similar ao de Dirceu. Não
raro rude com auxiliares, ela tem
fama de durona e trabalhadora.
Ganhou pontos com Lula por ter,
na visão dele, colocado o setor
energético "em ordem" após o
apagão de 2001 durante o governo
de Fernando Henrique Cardoso.
Será a primeira mulher a chefiar a
Casa Civil na história.
Dirceu avalia que Dilma tem
um perfil "desenvolvimentista" e
pode manter contraponto ao
"monetarista" ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que
chegou a ser cogitado para a Casa
Civil. Apesar de esses rótulos serem uma definição pouco precisa,
Dirceu e a cúpula do PT avaliaram
que a escolha de Dilma evitaria a
concentração hegemônica de poderes em Palocci.
Lula, porém, já pediu que Dilma
atue afinada com a Fazenda. Ele
deseja acabar com o clima de cabo-de-guerra que existiu entre
Dirceu e Palocci. A divergência
era sobre o grau da ortodoxia monetária e fiscal. Havia também diferenças de estilo. Palocci, discreto e sempre consultando Lula.
Dirceu, mais distante e independente do presidente.
Com Dilma, Lula busca uma
Casa Civil eminentemente técnica, retomando o modelo de FHC,
que teve dois gerentes na pasta -
Clóvis Carvalho e Pedro Parente.
Lula já pediu a Dilma "choque
de gestão" na Casa Civil, onde há
projetos e medidas paralisados ou
em lenta tramitação devido ao
bombardeio sofrido por Dirceu
nas últimas semanas e às missões
políticas que ele desempenhava.
Apesar de ter perdido formalmente as atribuições políticas na
reforma ministerial de janeiro de
2004, Dirceu nunca deixou a área,
o que o sobrecarregava.
O presidente disse à ministra
que deseja acelerar cinco ou seis
grandes projetos que estão patinando, especialmente as PPPs
(Parcerias Público Privadas).
Coordenação política
Após reuniões com ministros,
Lula recebeu ontem o prefeito de
Aracaju, Marcelo Déda, que na semana passada esteve cotado para
a Casa Civil. Auxiliares de Lula
disseram que Déda poderia substituir Aldo na Coordenação Política. Assim, teria uma técnica na
Casa Civil e um articulador político com trânsito no PT, na oposição e no Congresso.
O presidente hesita entre acabar
com a pasta da Coordenação Política, transferindo toda essa área
para o Congresso, ou colocar um
petista no posto. Aldo, que chegou a sugerir o nome de Déda
quando pediu demissão no começo de maio, está fazendo todo o tipo de pressão interna ao seu alcance para permanecer no cargo.
Já Déda teria que deixar o mandato de prefeito e desistir de concorrer a governador de Sergipe em
2006. Prefeito bem avaliado, ele lidera de longe as pesquisas sobre a
sucessão sergipana.
Outras opções petistas para o
lugar de Aldo são Jaques Wagner
e o ex-presidente da Câmara João
Paulo Cunha (SP). Wagner, amigo de Lula e Dirceu, já foi deputado e tem trânsito no PT e na oposição. João Paulo sempre foi defendido por Dirceu para a Coordenação Política.
Lula estuda trocar ainda os ministros da Saúde, Humberto Costa, e das Cidades, Olívio Dutra,
abrindo espaço para composições
com o PMDB, ainda que essas
pastas não sejam especificamente
dadas a esse partido. Lula avalia
dar mais dois ministérios ao
PMDB, que já tem Comunicações
e Previdência.
O presidente deverá intensificar
negociações com os diversos grupos do PMDB. Avalia ainda dar
uma pasta ao PP. Lula analisa nomear um ou dois nomes de peso
da sociedade. O empresário Abílio Diniz (grupo Pão de Açúcar) e
o ex-ministro da Saúde Adib Jatene são cotados.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Questão de gênero: "Ministra tem um lado macho", diz Gil Índice
|