São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/TROCA DE GUARDA

Nova titular toma posse às 16h; destino da Coordenação Política segue indefinido

Lula confirma Dilma para a vaga de Dirceu na Casa Civil

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializou ontem a escolha de Dilma Rousseff para substituir José Dirceu na Casa Civil, como antecipou a Folha no sábado. Dilma toma posse às 16h de hoje, em cerimônia no Palácio do Planalto.
Lula antecipou ontem a volta do Paraguai para discutir com petistas a reforma ministerial. Dilma, 57, foi convidada por Lula na quinta-feira passada -dia em que José Dirceu anunciou que sairia da Casa Civil e reassumiria amanhã o mandato de deputado federal por São Paulo.
A queda de Dirceu, que já se enfraquecera no caso Waldomiro Diniz (2004), foi uma resposta à maior crise política do governo Lula e dos 25 anos de história do PT, sobre os quais pairam acusações de corrupção. O ministro saiu após as duas entrevistas à Folha em que o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson, o acusou de ser um dos comandantes de suposto esquema de mesada do PT a deputados federais do PP e do PTB. Dirceu nega.
Maurício Tolmasquim, ex-secretário-executivo de Minas e Energia e hoje presidente da Empresa de Pesquisa Energética, responderá interinamente pela pasta. Lula pretende negociá-la com o PMDB -o senador José Sarney (AP) teria preferência na indicação e tende a sugerir o nome de Silas Rondeau (Eletronorte).
O presidente pediu a Dilma que mantivesse segredo até segunda-feira [ontem]. Queria deixar a sexta e o final de semana "livres" para que Dirceu fosse o personagem central do governo e dos assuntos do PT. Nesse período, houve um ato de desagravo a Dirceu na sexta. No sábado, ele participou de reunião do partido.
Ouvido antes por Lula, Dirceu foi decisivo na escolha de Dilma. Dirceu telefonou para a ministra na quinta-feira para dizer que ela era a escolha certa. Amigos, os dois têm em comum um passado de combate à ditadura militar de 1964 em organizações guerrilheiras de esquerda.
Com a volta da democracia, Dirceu fez carreira na política, tornando-se o principal estrategista da inflexão do PT ao centro (moderação econômica e política), o que levou o partido ao poder central em 2002. Já Dilma, de carreira técnica, foi do PDT até 2001, quando ingressou no PT.

Estilo "trator"
Lula gosta do estilo "trator" de Dilma, similar ao de Dirceu. Não raro rude com auxiliares, ela tem fama de durona e trabalhadora. Ganhou pontos com Lula por ter, na visão dele, colocado o setor energético "em ordem" após o apagão de 2001 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Será a primeira mulher a chefiar a Casa Civil na história.
Dirceu avalia que Dilma tem um perfil "desenvolvimentista" e pode manter contraponto ao "monetarista" ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que chegou a ser cogitado para a Casa Civil. Apesar de esses rótulos serem uma definição pouco precisa, Dirceu e a cúpula do PT avaliaram que a escolha de Dilma evitaria a concentração hegemônica de poderes em Palocci.
Lula, porém, já pediu que Dilma atue afinada com a Fazenda. Ele deseja acabar com o clima de cabo-de-guerra que existiu entre Dirceu e Palocci. A divergência era sobre o grau da ortodoxia monetária e fiscal. Havia também diferenças de estilo. Palocci, discreto e sempre consultando Lula. Dirceu, mais distante e independente do presidente.
Com Dilma, Lula busca uma Casa Civil eminentemente técnica, retomando o modelo de FHC, que teve dois gerentes na pasta - Clóvis Carvalho e Pedro Parente.
Lula já pediu a Dilma "choque de gestão" na Casa Civil, onde há projetos e medidas paralisados ou em lenta tramitação devido ao bombardeio sofrido por Dirceu nas últimas semanas e às missões políticas que ele desempenhava. Apesar de ter perdido formalmente as atribuições políticas na reforma ministerial de janeiro de 2004, Dirceu nunca deixou a área, o que o sobrecarregava.
O presidente disse à ministra que deseja acelerar cinco ou seis grandes projetos que estão patinando, especialmente as PPPs (Parcerias Público Privadas).

Coordenação política
Após reuniões com ministros, Lula recebeu ontem o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, que na semana passada esteve cotado para a Casa Civil. Auxiliares de Lula disseram que Déda poderia substituir Aldo na Coordenação Política. Assim, teria uma técnica na Casa Civil e um articulador político com trânsito no PT, na oposição e no Congresso.
O presidente hesita entre acabar com a pasta da Coordenação Política, transferindo toda essa área para o Congresso, ou colocar um petista no posto. Aldo, que chegou a sugerir o nome de Déda quando pediu demissão no começo de maio, está fazendo todo o tipo de pressão interna ao seu alcance para permanecer no cargo. Já Déda teria que deixar o mandato de prefeito e desistir de concorrer a governador de Sergipe em 2006. Prefeito bem avaliado, ele lidera de longe as pesquisas sobre a sucessão sergipana.
Outras opções petistas para o lugar de Aldo são Jaques Wagner e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP). Wagner, amigo de Lula e Dirceu, já foi deputado e tem trânsito no PT e na oposição. João Paulo sempre foi defendido por Dirceu para a Coordenação Política.
Lula estuda trocar ainda os ministros da Saúde, Humberto Costa, e das Cidades, Olívio Dutra, abrindo espaço para composições com o PMDB, ainda que essas pastas não sejam especificamente dadas a esse partido. Lula avalia dar mais dois ministérios ao PMDB, que já tem Comunicações e Previdência.
O presidente deverá intensificar negociações com os diversos grupos do PMDB. Avalia ainda dar uma pasta ao PP. Lula analisa nomear um ou dois nomes de peso da sociedade. O empresário Abílio Diniz (grupo Pão de Açúcar) e o ex-ministro da Saúde Adib Jatene são cotados.


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