São Paulo, domingo, 21 de junho de 1998

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SUCESSÃO
Campanha de 1998 ocorre em Brasil de inflação baixa, mas com desemprego alto e economia enfraquecida
Após 4 anos, FHC concorre em "outro país'

VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O Brasil do candidato Fernando Henrique Cardoso é hoje bem diferente daquele vivido por ele há quatro anos, quando se lançou pela primeira vez como pretendente ao Palácio do Planalto.
Oficializado ontem como candidato do PSDB, PFL e PPB, é inegável que o tucano terá números positivos para apresentar em seus comícios e propaganda de TV. A queda da inflação é a sua mais vistosa conquista.
Mas FHC coleciona também dados negativos que, com certeza, serão usados por seus adversários. Encabeça essa categoria a alta taxa de desemprego.
Além disso, o presidente convive com um fator inexistente na campanha anterior: a crise asiática que abala vários países, inclusive o Brasil. Além de ser novo, trata-se de um fenômeno sobre o qual o governo tucano não tem controle.

Os números de FHC
Apesar de batido, a queda da inflação anual de 5.167% em junho de 94 para meros 3,12% anuais no mês passado continuará como principal trunfo de FHC.
O presidente dispõe de números que o eleitorado de baixa renda compreende com facilidade. É o caso da cesta básica, cujo preço anteontem era de R$ 127,72, abaixo do salário mínimo de R$ 130.
Quando se lançou candidato pela primeira vez, em 94, a cesta básica custava R$ 106,40, um valor bem acima do salário mínimo da época -R$ 64,79.
Nesses quatro anos, entretanto, o presidente colecionou indicadores que servirão de munição para seus adversários. São números tão fáceis de entender como a taxa de inflação e o preço da cesta básica.
Trata-se do desemprego e do menor crescimento da economia. Em 94, recém-saído do Ministério da Fazenda, FHC entrou em campanha com uma taxa de desemprego de 5,5%.
Hoje, o percentual mudou de patamar. Está em 7,94%. Chegou a 8,2% em março, o segundo pior índice da série histórica do IBGE.
Para o eleitor, essa foi a consequência mais visível das medidas recessivas adotadas em outubro do ano passado para combater os efeitos da crise asiática no Brasil. Naquele mês, várias economias da Ásia entraram em colapso.

Economia lenta
As medidas tomadas pelo governo brasileiro tornaram a economia do país mais lenta. Uma situação bem diferente da vivida pelos brasileiros em 94.
Durante o ano da primeira candidatura de FHC, o país cresceu 5,9% do PIB (Produto Interno Bruto, medida das riquezas produzidas no país).
Em 98, quando tentará se reeleger, o crescimento da economia ficará entre 1,5% e 2% segundo as previsões mais otimistas. No mercado, alguns economistas chegam a apostar em mero 0,5% do PIB.
O crescimento medíocre atinge em cheio a saúde das empresas. Em junho de 94, 371 empresas pediram falência na cidade de São Paulo. No mês passado, 855 empresários foram obrigados a decretar falência de suas firmas. Neste mês, até quinta-feira, 508 empresas já haviam falido.
A principal reclamação dos empresários é contra os juros altos. A taxa de juros cobrada pelo BC dos bancos, descontada a inflação de 3,12%, está em 17,06% por ano, uma das mais altas do mundo.
Apesar de elevada, essa taxa nunca é conseguida por pequenos empresários e cidadãos comuns.
Pesquisa do Procon de São Paulo no mês passado em 14 bancos registrou que as instituições cobram, em média, 5,97% ao mês (100,5% ao ano) para empréstimos pessoais. E 11,02% mensais (250,6% ao ano) para quem entra no cheque especial.
FHC também é criticado pela política cambial. O real valorizado não melhora as exportações e incentiva as importações, prejudicando a produção nacional.
Quando o tucano se lançou candidato pela primeira vez, o país tinha superávit de US$ 6,7 bilhões na sua balança comercial. Era junho de 94.
Hoje, quatro anos depois, o número se tornou negativo: em maio deste ano as importações superaram as exportações em US$ 6,8 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses.
Esse dado adverso já está sendo explorado pelo principal adversário de FHC. O programa de TV exibido pelo PT na quinta-feira mostrou um jogador de futebol usando roupas e acessórios importados.
O PT concluía dizendo que a pessoa mostrada como jogador era um desempregado de uma fábrica nacional de produtos esportivos. Uma vítima, portanto, da política cambial.



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