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SUCESSÃO
Campanha de 1998 ocorre em Brasil de inflação baixa, mas com desemprego alto e economia enfraquecida
Após 4 anos, FHC concorre em "outro país'
VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
O Brasil do
candidato Fernando Henrique Cardoso é
hoje bem diferente daquele
vivido por ele há
quatro anos,
quando se lançou pela primeira
vez como pretendente ao Palácio
do Planalto.
Oficializado ontem como candidato do PSDB, PFL e PPB, é inegável que o tucano terá números positivos para apresentar em seus
comícios e propaganda de TV. A
queda da inflação é a sua mais vistosa conquista.
Mas FHC coleciona também dados negativos que, com certeza,
serão usados por seus adversários.
Encabeça essa categoria a alta taxa
de desemprego.
Além disso, o presidente convive
com um fator inexistente na campanha anterior: a crise asiática que
abala vários países, inclusive o
Brasil. Além de ser novo, trata-se
de um fenômeno sobre o qual o
governo tucano não tem controle.
Os números de FHC
Apesar de batido, a queda da inflação anual de 5.167% em junho
de 94 para meros 3,12% anuais no
mês passado continuará como
principal trunfo de FHC.
O presidente dispõe de números
que o eleitorado de baixa renda
compreende com facilidade. É o
caso da cesta básica, cujo preço
anteontem era de R$ 127,72, abaixo do salário mínimo de R$ 130.
Quando se lançou candidato pela primeira vez, em 94, a cesta básica custava R$ 106,40, um valor
bem acima do salário mínimo da
época -R$ 64,79.
Nesses quatro anos, entretanto,
o presidente colecionou indicadores que servirão de munição para
seus adversários. São números tão
fáceis de entender como a taxa de
inflação e o preço da cesta básica.
Trata-se do desemprego e do
menor crescimento da economia.
Em 94, recém-saído do Ministério
da Fazenda, FHC entrou em campanha com uma taxa de desemprego de 5,5%.
Hoje, o percentual mudou de
patamar. Está em 7,94%. Chegou a
8,2% em março, o segundo pior
índice da série histórica do IBGE.
Para o eleitor, essa foi a consequência mais visível das medidas
recessivas adotadas em outubro
do ano passado para combater os
efeitos da crise asiática no Brasil.
Naquele mês, várias economias da
Ásia entraram em colapso.
Economia lenta
As medidas tomadas pelo governo brasileiro tornaram a economia do país mais lenta. Uma situação bem diferente da vivida pelos
brasileiros em 94.
Durante o ano da primeira candidatura de FHC, o país cresceu
5,9% do PIB (Produto Interno
Bruto, medida das riquezas produzidas no país).
Em 98, quando tentará se reeleger, o crescimento da economia ficará entre 1,5% e 2% segundo as
previsões mais otimistas. No mercado, alguns economistas chegam
a apostar em mero 0,5% do PIB.
O crescimento medíocre atinge
em cheio a saúde das empresas.
Em junho de 94, 371 empresas pediram falência na cidade de São
Paulo. No mês passado, 855 empresários foram obrigados a decretar falência de suas firmas. Neste mês, até quinta-feira, 508 empresas já haviam falido.
A principal reclamação dos empresários é contra os juros altos. A
taxa de juros cobrada pelo BC dos
bancos, descontada a inflação de
3,12%, está em 17,06% por ano,
uma das mais altas do mundo.
Apesar de elevada, essa taxa
nunca é conseguida por pequenos
empresários e cidadãos comuns.
Pesquisa do Procon de São Paulo
no mês passado em 14 bancos registrou que as instituições cobram, em média, 5,97% ao mês
(100,5% ao ano) para empréstimos pessoais. E 11,02% mensais
(250,6% ao ano) para quem entra
no cheque especial.
FHC também é criticado pela
política cambial. O real valorizado
não melhora as exportações e incentiva as importações, prejudicando a produção nacional.
Quando o tucano se lançou candidato pela primeira vez, o país tinha superávit de US$ 6,7 bilhões
na sua balança comercial. Era junho de 94.
Hoje, quatro anos depois, o número se tornou negativo: em maio
deste ano as importações superaram as exportações em US$ 6,8 bilhões no acumulado dos últimos
12 meses.
Esse dado adverso já está sendo
explorado pelo principal adversário de FHC. O programa de TV
exibido pelo PT na quinta-feira
mostrou um jogador de futebol
usando roupas e acessórios importados.
O PT concluía dizendo que a
pessoa mostrada como jogador
era um desempregado de uma fábrica nacional de produtos esportivos. Uma vítima, portanto, da
política cambial.
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