São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO TRT
Como não foi possível desvincular imagem de FHC da do ex-secretário-geral da Presidência, estratégia mudou
Governo agora defende Eduardo Jorge

Roberto Jayme - 04.jul.2000 "Valor"
Eduardo Jorge, que passa a ser defendido pelo governo federal


ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Como não conseguiu desvincular a imagem de Eduardo Jorge Caldas Pereira da do presidente Fernando Henrique Cardoso, o governo decidiu mudar sua estratégia: antes, tinha entregado EJ às feras; agora, passa a defendê-lo enquanto esteve no governo.
A intenção é negar que EJ participasse de negócios escusos na condição de secretário-geral da Presidência (entre janeiro de 94 e abril de 98) admitindo, porém, que faz ou fazia lobby para empresas nos gabinetes de ministérios e estatais depois de deixar o Planalto. Usando seu prestígio junto ao presidente.
Na nova versão, tanto ele não estava metido em desvio de verbas públicas que saiu do governo justamente sob a alegação de que trabalhava muito, recebia pouco e "precisava ganhar dinheiro".
Essa versão tem sido discretamente disseminada até para algumas embaixadas em Brasília, tentando minimizar a crise. Num almoço anteontem, um embaixador opinou que EJ apenas agia como lobista depois de sair do governo -"o que é normal".
Em qualquer hipótese, os governistas estão dispostos a jurar que FHC não sabia de nenhuma atividade ilícita do ex-assessor. Contam, inclusive, que o presidente se mostrou abatido e cansado numa conversa recente e desabafou: "Não consigo imaginar o Eduardo Jorge sentado numa mesa dividindo dinheiro com o juiz Lalau. Parece impossível".
Em duas entrevistas, entretanto, FHC não defendeu EJ e até admitiu implicitamente a possibilidade de ele ser culpado. Ao jornal "Valor", disse que não era propriamente amigo do ex-assessor de mais de 15 anos e que se ele tivesse culpa no cartório, devia pagar por isso. Em Maputo, na terça passada, além de não defender EJ, até se defendeu preventivamente: se houve algo, disse, foi "individual".
O Planalto e os tucanos têm pressa em evitar que as denúncias contra EJ continuem ocupando o centro da cena política em 15 de agosto, quando entram no ar os programas eleitorais gratuitos.
No cronograma traçado por eles, aprovado por FHC, EJ deve depor no Congresso nas duas primeiras semanas de agosto. A partir daí, o assunto seria concentrado no Ministério Público e esgotado no Congresso e no Executivo.
O temor é que os fatos atropelem a estratégia e o cronograma governista. Os dois fatores decisivos podem ser a prisão do juiz Nicolau dos Santos Neto e o surgimento de novos indícios.
Na avaliação governista, já houve um "estrago irreversível" na credibilidade do governo e nas possibilidades de FHC recuperar popularidade, mas ainda não surgiu nada que incrimine EJ.
Conforme a Folha apurou, o próprio Ministério Público admite que, até aqui, o que existe não é suficiente para, por exemplo, sustentar a quebra de sigilo bancário e fiscal ou pedir o depoimento de testemunhas importantes sobre as atividades do ex-assessor.
Uma dessas testemunhas é Cláudio Haidamus, sócio de EJ no grupo Meta e um lobista de êxito no primeiro governo FHC. Ex-marido de uma sobrinha de Lídice, mulher de EJ, Haidamus está na mira dos procuradores. Mas eles não têm bala na agulha.
Outras possibilidades de apuração dependem do governo, mas não devem ir adiante. Exemplo: os eventuais vôos de EJ com o juiz Nicolau em jatinhos oficiais. Se existiram, a FAB não conta.
O imponderável, portanto, se chama Nicolau dos Santos Neto, o juiz que está para ser preso e sabe de tudo.


Texto Anterior: Panorâmica: Justiça cassa liminar em SP
Próximo Texto: Para Lula, FHC "se porta pior" que Collor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.