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ELIO GASPARI
José Dirceu, o Napoleão de "Diário Oficial"
Seria muito bom se o comissário José Dirceu, nomeado presidente da Câmara
de Desenvolvimento Econômico, viesse a se transformar num
contraponto à ekipekonômica
que impôs ao Brasil dez anos de
estagnação econômica e ruína
social.
Dirceu irá para a posição onde se dá o maior índice de mortalidade da administração nacional. No governo FFHH, explodiram quatro ministros e
hierarcas suspeitos de tentar o
contraponto fatal. Os seguintes:
- José Serra, apesar de ter começado o governo como um poderoso ministro do Planejamento, em 1998 tornou-se um festejado ministro da Saúde.
- Luiz Carlos Mendonça de
Barros presidia o BNDES e foi
abatido em vôo a caminho do
Ministério do Desenvolvimento.
Capotou em 1999, na curva dos
grampos da privataria. (Justiça
seja feita: a banca e a ekipe nada tiveram a ver com isso.)
- Clóvis Carvalho, nomeado
ministro do Desenvolvimento,
foi eletrocutado em setembro de
1999 por ter dito que "excesso de
cautela pode ser sinônimo de covardia". O ministro Pedro Malan decapitou-o em menos de 48
horas.
- O presidente do BNDES, Andrea Calabi, ensaiou divergências com a ekipe e foi defenestrado em fevereiro de 2000 pelo então ministro Alcides Tápias. No
ano seguinte, Tápias acabou
preferindo o caminho de casa.
Na sua encarnação petista, a
ekipekonômica não conseguiu
defenestrar o professor Carlos
Lessa da presidência do BNDES.
Engoliu a exoneração do presidente da Anatel, depois de ter
propagado que "os mercados"
reagiriam negativamente a semelhante exercício do poder republicano. No ano passado,
uma tentativa de assenhorear-se da concepção da política social do governo acabou em retirada, mas não em desistência.
Desde já, é bom lembrar que
não é o comissário José Dirceu
quem assusta a banca internacional. O que a assusta é o nível
suicida de endividamento do
Brasil. Hoje a dívida pública está em 56,8% do PIB, contra
55,5% ao fim do tucanato.
Quando os sábios do PSDB capturaram a política econômica
do governo brasileiro, a dívida
estava em 14% do PIB. Parece
que eles sentiram algum cheiro
de queimado, pois começaram a
mostrar-se preocupados com o
tema.
Seria muito bom se o comissário conseguisse se transformar
num contraponto à ekipekonômica. Sua crônica, contudo, não
estimula grandes esperanças. O
único desenvolvimento pelo
qual José Dirceu briga e triunfa
é o da publicidade de seus poderes.
Deve-se ao professor Cláudio
Gonçalves Couto a enumeração
de algumas características dos
superpoderes da Câmara de Desenvolvimento Econômico. Ela
tem 14 ministros e uma comissão executiva composta por 30
hierarcas. Ou seja, o aparelho
desenvolvimentista do comissário não cabe no Airbus de 40 lugares que Lula comprou na Europa. Ademais, Dirceu já preside quatro Câmaras. A saber:
Câmara de Política Social, Câmara de Política Cultural, Câmara de Política de Recursos
Naturais e a Câmara de Politicas de Integração Nacional e
Desenvolvimento Regional.
Se tantos poderes fossem poucos, a Casa Civil de José Dirceu
participa de 37 dos 55 grupos de
trabalho criados pelo governo
de Lula e coordena 16.
Tudo o que se precisa é de um
contraponto à ekipekonômica.
Pela tenacidade pessoal e pela
biografia política, José Dirceu
está habilitado para essa tarefa.
Infelizmente, em um ano e meio
de poder, o chefe da Casa Civil
revelou-se um Napoleão de
"Diário Oficial". É lá, e só lá, que
se mostra invencível.
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