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Político baiano passou meio século próximo a presidentes
ACM iniciou carreira em 1954 na UDN, mas logo passou a apoiar Juscelino, do PSD
Principal líder do Estado desde os anos 70, rompeu com o regime militar para aderir a Tancredo, o que lhe garantiu sobrevida na Bahia
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Amor e ódio não faltaram na
vida do baiano Antonio Carlos
Peixoto de Magalhães, detentor de uma das mais longevas
trajetórias na política nacional.
Morreu aos 79 anos como senador depois de passar o último
meio século em diversos cargos
públicos. Foi deputado estadual, deputado federal (três vezes), prefeito nomeado de Salvador, governador da Bahia
(três vezes, duas delas por via
indireta), presidente de estatal,
ministro de Estado e presidente do Senado. Após fazer carreira no regime militar em cargos
"biônicos", tornou-se um político popular e terminou a vida
pública com grandes votações.
Era o portador de três características: 1) soube, como ninguém, viver colado aos governos do país nas últimas mais de
cinco décadas; 2) procurava fazer indicações não só políticas,
mas de técnicos competentes
para funções públicas de destaque e 3) adorava se relacionar
com a mídia -durante anos fez
a festa de dezenas de colunas.
Seu sonho maior era chegar à
Presidência. Sublimou o desejo
e o projetou para seu filho predileto, o deputado federal Luís
Eduardo Magalhães, que morreu de infarto em 1998. ACM
perdeu então a frieza típica que
lhe havia rendido no passado o
apelido de "Toninho Malvadeza" -fama cultivada com gosto.
Sem um sucessor, no início
desta década pensou em se candidatar a presidente. Resultados desalentadores de pesquisas de opinião particulares em
2000 e em 2002 o demoveram
da idéia. Concentrou suas esperanças em Antônio Carlos Magalhães Neto, eleito deputado
federal em 2002 pela primeira
vez. Mas mesmo a presença do
neto não foi capaz de reanimar
o patriarca. Nos últimos anos
sua energia esvaneceu gradualmente, enquanto sua saúde dava sinais de deterioração.
Em sua última eleição, em
2002, declarou um patrimônio
de R$ 4,110 milhões. Não atribuiu, porém, valores a vários de
seus bens, como a TV Bahia.
Trajetória
Nascido na ladeira da Independência, em Salvador (BA),
em 4 de setembro de 1927,
ACM era médico -como seu
pai. Graduou-se em 1952 pela
Universidade Federal da Bahia
e exerceu a profissão brevemente em 1953, quando também foi professor de higiene na
universidade. Trabalhou ainda
como redator de debates da Assembléia Legislativa e redator
do jornal "Estado da Bahia".
Mas tudo na vida do baiano
era acessório na comparação
com sua paixão pela política.
Começou em 1954, elegendo-se
deputado estadual pela UDN
(União Democrática Nacional).
Depois foi eleito deputado federal três vezes: 1958, 1962 e
1966. Uma de suas marcas foi a
coerência: pertenceu a poucos
partidos, todos de direita
-além da UDN, a Arena (Aliança Renovadora Nacional), o
PDS (Partido Democrático Social) e o PFL (Partido da Frente
Liberal, atual Democratas).
A habilidade maior de ACM,
porém, foi encostar-se no poder, não importando a coloração ideológica. No final dos
anos 50, durante o governo de
Juscelino Kubitschek, ainda
um jovem deputado udenista,
telefonava para o presidente da
República por volta das 7h da
manhã, já com os jornais lidos e
interpretados. Ganhou o apelido de "despertador do JK".
A popularidade e o círculo de
amigos cultivados nos primeiros anos de vida pública fizeram com que fosse nomeado
prefeito de Salvador pelo governador Luís Viana Filho, em
1967. Em 1970 foi indicado pelo
presidente-general Emílio
Garrastazu Médici para ser o
governador da Bahia e foi eleito
pela Assembléia Legislativa.
De 1971 a 1975, fez mais de
200 quilômetros de esgoto, urbanizou Salvador com largas
avenidas e consolidou a Bahia
como pólo turístico, com novas
estradas, museus e hotéis.
Em 1975, o presidente Ernesto Geisel nomeou-o presidente
da Eletrobrás. Em 1978, voltou
a ser eleito indiretamente governador da Bahia. Com a reforma partidária, ACM filiou-se ao PDS em 1980. Em 1982,
elegeu o sucessor, João Durval.
Em 1984, o baiano anteviu a
derrocada do regime: afastou-se de Paulo Maluf (PDS) e aderiu à candidatura do oposicionista Tancredo Neves (PMDB).
Concessões de TV
Com a morte de Tancredo e a
posse de José Sarney na Presidência, em 1985, assumiu o Ministério das Comunicações.
Apoiou os cinco anos de mandato para o então presidente e,
para angariar votos na Constituinte, distribuiu 958 concessões de rádio e TV a políticos e
seus aliados -um recorde.
Nessa época consolidou sua
mais sólida amizade no mundo
empresarial: com Roberto Marinho (1904-2003), da TV Globo. No final dos anos 80, a família Magalhães -dona, desde
1979, do jornal "Correio da Bahia"- passou a ser detentora
dos direitos de retransmissão
da Globo em Salvador. Quando
Marinho morreu, ACM declarou: "Nós nos amávamos".
Em 1990, ACM ganhou pela
terceira vez o governo da Bahia
-a primeira pelo voto direto.
Com um tino quase infalível
para sair do barco antes do naufrágio, só errou o prognóstico
com o presidente Fernando
Collor de Mello (1990-1992), a
quem acompanhou até a queda.
Não conseguiu se aliar a Itamar Franco (1992-1994). Acuado, dizia ter um dossiê sobre
corrupção no governo. Recebido por Itamar no Planalto, sofreu uma grande humilhação: o
presidente deixou a imprensa
entrar na sala e assistir à apresentação das acusações. Nada
havia de inédito nelas. Colou no
baiano a pecha de mais ameaçar que cumprir o prometido.
Enfraquecido em Brasília,
continuava um campeão de votos na Bahia. Em 1994, elegeu-se senador, fez o sucessor e
apoiou a eleição de Fernando
Henrique Cardoso ao Planalto.
Aliança com FHC
FHC e o senador baiano viveram em lua-de-mel enquanto
esteve vivo Luís Eduardo Magalhães, o filho em quem ACM
projetava o que gostaria de ter
sido. Protagonista do jogo sucessório em 2002, morreu em
21 de abril de 1998, deixando o
pai órfão de futuro político.
Eleito presidente do Senado
em 1997, usou seu poder para
conseguir incentivos para indústrias na Bahia: "Vocês de
São Paulo pensam que a Bahia
só pode produzir rapadura. Nós
vamos provar que podemos ser
também um Estado industrial".
Reeleito para o cargo em
1999, não conseguiu conseguiu
fazer seu sucessor na Casa, em
2001. Afastou-se de FHC e entrou em uma disputa inglória
contra Jader Barbalho (PMDB-PA). Renunciou ao mandato
para não ser cassado por violar
o sigilo do painel do Senado.
Conseguiu se recuperar: em
2002, foi eleito senador com
2.995.559 votos (30,6% do total) e apoiou Ciro Gomes (PPS)
a presidente em 2002. No segundo turno, outra guinada:
embarcou na canoa do antes rival Luiz Inácio Lula da Silva.
ACM teve uma relação conturbada com Lula no primeiro
mandato (2003-2006). Enxergou no Planalto alguém que
apenas o tolerava, o que não
impediu ACM de exercer certa
influência no governo, sobretudo a partir de 2004, quando Lula enfrentou várias crises. O ministro José Dirceu procurava
ACM com freqüência. Em 15 de
março de 2004, ACM voltou ao
Planalto pela primeira vez desde o governo FHC: "Fui lá de
noite, por volta das 21h. Não tinha ninguém para me ver".
Em junho de 2005, quando
explodiu o mensalão, ACM teve
a expectativa de ter mais um
presidente nas mãos: "O Lula
agora fica até o fim, faz um
grande acordo e não se candidata à reeleição". Um ano depois, sua previsão não virou
realidade: o petista não deu importância ao partido de ACM,
ganhou mais quatro anos no
Planalto e ajudou a eleger o petista Jaques Wagner para o governo baiano, impondo forte
derrota ao carlismo.
Na campanha de 2006, o
baiano acusou o petista de "ladrão", e Lula chamou ACM de
"hamster" -uma alusão aos
dentes do senador. As ofensas
se diluíram após a posse de Lula, quando a saúde de ACM entrou em sua fase mais instável.
O petista fez um check-up no
Incor em São Paulo em março
último, ocasião em que o baiano estava internado no mesmo
local. O presidente foi ao quarto do adversário para abraçá-lo.
Casou-se em 1952 com Arlete Maron, com quem teve quatro filhos: Antonio Carlos Júnior (seu suplente no Senado),
Teresa Helena, Luís Eduardo
(morreu em 1998) e Ana Lúcia
(suicidou-se em 1986).
Colaborou o Banco de Dados
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