São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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Serra investe contra Ciro no 1º dia de propaganda na TV

Programa tucano destoa dos demais ao recorrer a campanha negativa contra candidato do PPS

RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

Com menos de 50 dias para tentar reverter uma desvantagem de 14 pontos percentuais em relação a Ciro Gomes (PPS), José Serra (PSDB) partiu para o ataque no primeiro dia do horário gratuito.
Contrariando declarações tucanas de que a propaganda de TV só recorreria à desqualificação de adversários caso fosse alvo da mesma tática, o programa exibido na noite de ontem teve seu bloco final ocupado por artilharia pesada contra o candidato do PPS.
O tema desta vez não foram as mentiras -reais e supostas- de Ciro, tecla batida por Serra desde o debate entre os presidenciáveis.
O objetivo era frisar que "Ciro agride todo mundo". Foram enumeradas antigas frases desabonadoras do candidato a respeito de partidos e políticos que hoje o apóiam: "Tenho nojo do PFL", "Brizola é a fina flor do atraso", "O Fleury é um aborto da natureza". Para completar, foi citado o episódio em que Ciro chamou de "burro" o ouvinte de uma rádio.
Na tentativa de se preservar de eventuais prejuízos causados pela campanha negativa, estilo de propaganda política muitas vezes rejeitado pelo eleitor, a equipe de Serra mudou radicalmente o estilo do programa no momento em foram iniciados os ataques: outro locutor, outro gênero de imagem, nenhuma identificação de autoria. Logo depois da pergunta de encerramento -"Ciro: mudança ou problema?"- entrou no ar o programa do candidato do PPS.
Depois da exibição, Torquato Jardim e Helio Parente, advogados da campanha de Ciro, reuniram-se para preparar pedido de direito de resposta.
O programa noturno de Serra foi bastante diferente do vespertino. À tarde, os ataques foram contidos. Serra se limitou a dizer que para governar não se pode ter "desequilíbrio emocional", senha tucana para falar de Ciro (à noite, FHC elogiou seu candidato por ser "equilibrado").
Outra diferença: a "entrevista" do tucano à apresentadora Valéria Monteiro deu lugar, à noite, a Gugu Liberato funcionando como âncora da biografia de Serra.
A propaganda tucana foi campeã em figuras da indústria do entretenimento. Além de Gugu e da atriz Solange Couto (que, na pele da personagem "dona Jura", fez a passagem para o bloco anti-Ciro), apareceram Chitãozinho e Xororó, o grupo KLB e Elba Ramalho.
Os músicos entoaram um jingle sobre criação de empregos tomado emprestado de uma marca de cerveja -vale lembrar que Nizan Guanaes, responsável pela propaganda de Serra, utilizou o mesmo recurso para Roseana Sarney.
O tucano não foi o único a mudar de discurso da tarde para a noite. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apareceu no seu programa vespertino em imagem externa, mangas de camisa e dirigindo-se aos trabalhadores (especialmente desempregados). No bloco noturno, estava em estúdio, rodeado de "notáveis" do PT e falando preferencialmente aos empresários.
À tarde, o programa de Ciro deu ênfase a manifestações de rua e a apoios conquistados pelo candidato. À noite, em estúdio como Lula, concentrou-se em elencar problemas e propor soluções.
Na soma das emissoras, o horário noturno alcançou 48 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 47 mil domicílios da Grande SP).


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