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PODERES
Para maioria dos especialistas, Judiciário precisa ser autônomo, mas há quem veja como natural o caráter político
Advogados criticam trânsito STF-governo
UIRÁ MACHADO
DA REDAÇÃO
A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que considerou
constitucional a taxação dos servidores inativos levantou a discussão sobre o relacionamento
entre o Executivo e o Judiciário. A
maioria dos advogados ouvidos
pela Folha criticou suposta submissão de um poder ao outro.
"O Judiciário precisa estar autônomo, principalmente do Executivo. Se existir relação, deixou de
existir a imparcialidade, característica absoluta da Justiça", afirma
Celso Antônio Bandeira de Mello,
professor de direito da PUC (Pontifícia Universidade Católica). "É
um vício de origem existir relação
entre os ministros do STF e o governo", afirmou.
Bandeira de Mello criticou a decisão da taxação dos inativos, que,
para ele, "acaba com a segurança
jurídica. Se o STF pode fazer isso,
está falido o Estado de Direito".
As críticas ao relacionamento
entre o Supremo e o governo não
são unânimes. O presidente da
Sociedade Brasileira de Direito
Público, Carlos Ari Sundfeld, afirma que o impacto político das decisões do STF é uma "conseqüência natural do sistema", mas que
isso "não quer dizer que o órgão
seja político".
Segundo Sundfeld, "aumentou
o número de matérias constitucionais [assuntos regulados pela
Constituição] e, portanto, aumentou a participação do STF".
Ele afirma que essa "constitucionalização" foi muito importante
para "resguardar a democracia no
país".
Para o professor de direito da
USP (Universidade de São Paulo)
Dalmo de Abreu Dallari, a decisão
foi política e "torna crítica a situação do direito adquirido no Brasil". Mas ele destaca, porém, que o
Supremo " está caminhando no
sentido de se tornar claramente
um instrumento político desde o
governo de Fernando Henrique
Cardoso". Para Dallari, esse "caminho" tem levado o Supremo a
exercer "muito mal sua função,
que é guardar a Constituição".
Fábio Konder Comparato, também professor da USP, afirma que
o problema existe desde que foi
proclamada a República, em 1891.
Ele diz ver com muita preocupação a politização do STF, mas
afirma: "Isso não me causa nenhuma surpresa". Comparato explica que o chefe do Executivo
consegue exercer pressões sobre o
Supremo, e influencia as decisões.
"O presidente da República não
só nomeia [os ministros do STF],
mas também pressiona. Os nomeados acabam tendo uma atitude de reverência natural e, até de
boa-fé, votam a favor do governo". Para Comparato, se a tendência continuar no mesmo sentido, o "STF, em vez de guardião
da Constituição, vai se tornar o
guardião do governo".
Democracia
Goffredo Telles Júnior, professor emérito da USP, diz que "a
nossa democracia não está bem".
Perguntado sobre como vê a relação entre o STF e o governo, responde: "Vejo com muita preocupação. É preciso tomar muito cuidado num momento como esse".
Virgílio Afonso da Silva, professor da USP, também acha que as
decisões do Supremo, "em maior
ou menor escala, envolvem temas
constitucionais e políticas públicas. É natural que tenham um cunho político".
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