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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT
Ex-ministro declara estar certo da cassação e por isso se recusa a deixar a chapa do Campo Majoritário na eleição interna do PT
Dirceu quer sair do PT de "cabeça erguida"
KENNEDY ALENCAR
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os petistas que procuraram José
Dirceu na última semana para
que ele deixasse a chapa do Campo Majoritário que concorre nas
eleições do partido ouviram do
ex-ministro da Casa Civil e deputado federal um apelo: "Sei que
vou ser cassado. Me deixem sair
do PT com a cabeça erguida".
Os pedidos para que Dirceu se
afaste da chapa que representa a
tendência dominante no PT são
feitas por moderados que temem
um "efeito Quércia" no partido.
Mesmo morto eleitoralmente,
Dirceu manteria forte influência
sobre a máquina partidária, como
mostram suas seguidas vitórias
contra a nova direção petista.
O ex-governador Orestes Quércia controla o PMDB paulista,
apesar de ter perdido todas as
eleições majoritárias desde que
transmitiu o governo paulista a
Luiz Antonio Fleury Filho em
1991. Quércia, eleito senador em
1974, na ditadura militar, foi um
político importante até deixar o
Palácio dos Bandeirantes.
Ciente de que perderá o mandato e os direitos políticos por oito
anos devido ao escândalo do
mensalão, Dirceu argumenta que,
deixar a chapa do Campo Majoritário antes da decisão da Câmara,
significaria assumir uma "condenação antecipada": "Não sou bandido e não quero ser humilhado.
Cumpri missões partidárias", tem
dito o deputado a ministros e assessores do presidente Lula. Ele
prometeu que não dará declarações ou adotará atitudes para prejudicar o governo, tentando dividir responsabilidade com Lula.
Em troca, quer controlar o processo de sua saída do partido.
Com a cassação, diz Dirceu, ele
perderá a filiação partidária e estará fora do PT de qualquer modo: não poderá mais influenciar
as decisões do Diretório Nacional.
Deputados de seu grupo político
que também correm o risco de
cassação também deixariam a vida partidária compulsoriamente.
O problema é que o processo de
cassação deverá ser longo, e os
moderados do PT têm marcada a
eleição direta do novo presidente
do partido para 18 de setembro.
Com Dirceu na chapa do Campo
Majoritário e com suas intervenções nos bastidores, eles avaliam
que poderão perder o domínio de
dez anos sobre o partido.
O receio é o de uma alta abstenção, que leve não mais do que
25% dos 820 mil filiados às urnas,
desiludidos com a crise que demoliu a imagem ética do PT. Nos
últimos três anos, após a eleição
de Lula, o PT ganhou 400 mil filiados, dobrando de tamanho.
Segundo cálculos de um dos
coordenadores do Campo Majoritário, 250 mil dessas adesões são
resultado do trabalho coordenado pelo ex-secretário-geral do PT
Sílvio Pereira -hoje fora do partido-, a mando de José Dirceu.
Mas agora teme-se que esse inchaço, que parecia uma boa idéia
para perpetuar no poder o grupo
que o promoveu, saia pela culatra.
"Essas filiações todas são frágeis,
sem conteúdo. A maioria dos novos filiados certamente vai ficar
em casa. Pior ainda, é provável
que alguns deles, sentindo-se enganados, acabem optando pela
esquerda", diz um dos expoentes
do Campo Majoritário.
Hoje nem os mais convictos otimistas do Campo Majoritário
crêem na possibilidade de uma vitória no primeiro turno, como se
previa há menos de três meses. E,
num segundo turno, temem a
aliança entre representantes de
correntes atuantes e disciplinadas
no partido -como Raul Pont
(Democracia Socialista) e Valter
Pomar (Articulação de Esquerda)- e um candidato como Plínio de Arruda Sampaio, membro
histórico do PT e que pode seduzir a militância "independente".
"Foi feito um processo de filiação em massa pelo Campo Majoritário, gente que veio sem a adequada formação política. Ouvi dizer que fizeram isso até pela internet. O número exato de membros
é uma incógnita", diz Plínio.
Se o quórum for realmente baixo, acredita a esquerda petista,
sua força aumenta. "Os filiados
que entraram o fizeram na esteira
da empolgação com Lula e hoje
perderam isso. Ao mesmo tempo,
nossos apoiadores são os militantes históricos, mais enraizados,
que vão comparecer em grande
número à eleição", declara Plínio.
Para enfrentar a ameaça de perder o controle do PT para a esquerda, os moderados gostariam
que Dirceu seguisse o gesto do ex-presidente do PT José Genoino e
se retirasse da chapa. Ao mesmo
tempo, avaliam que terão de recorrer aos filiados recentes e que
precisarão mobilizá-los por meio
da burocracia partidária, como
cabos eleitorais profissionais.
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