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Reforma política
é discutida em debate na Folha
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar do clamor de apoio que
vem recebido em discursos oposicionistas e governistas, uma reforma política mais profunda não
deve sair do papel agora. A própria turbulência da crise a inibirá.
A análise emergiu no debate
"Reforma Política Eleitoral", promovido pela Folha e pelo Instituto de Direito Político e Eleitoral na
última quarta. Participaram Maria Hermínia Tavares de Almeida,
professora do Departamento de
Ciência Política da USP; José
Eduardo Alckmin, advogado especialista em direito eleitoral e ex-ministro do TSE; José Afonso da
Silva, professor aposentado da
Faculdade de Direito da USP e
presidente da Associação Brasileira dos Constitucionalistas Democratas; e o cientista político
Amaury de Souza, doutor pelo
Massachusetts Institute of Technology. A mediação foi feita pelo
advogado Luís Francisco Carvalho Filho, diretor da Biblioteca
Mário de Andrade.
Antes da reforma, debateu-se a
natureza da crise. "Estamos diante de uma crise institucional ou de
uma crise de governo?", perguntou Maria Hermínia aos debatedores. Na avaliação geral, qualquer que seja o diagnóstico da crise, reformas mais profundas seriam desaconselháveis enquanto
a crise atual não se resolver.
Para a professora da USP, a crise
que o país atravessa não resulta
do mau funcionamento das instituições. Tem outra raiz: o "sistema muito particular de presidencialismo, no qual é necessário fazer coalizões muito amplas para
garantir maioria no Congresso".
Sem minimizar as dificuldades
para que cada governo faça esse
ajuste, e admitindo que é possível
aprimorar as instituições, ela
questiona se é preciso mudanças
"que alterem significativamente o
desenho institucional no qual o
país vive". "Talvez a resposta sejam reformas moderadas", disse.
Embora ressalte que seja difícil
separar a crise de governo e a crise
institucional, Amaury de Souza
concorda que "a raiz da crise é a
necessidade de coalização". Ele vê
nas discussões em torno do impeachment sinais de uma crise
institucional: "Chegamos ao ponto em que uma atitude de incompetência possa ser argüida como
razão para se derrubar um presidente. (...) Isso me parece um sintoma seguro de que temos uma
crise institucional profunda".
Para José Eduardo Alckmin, "as
crises políticas, lamentavelmente,
quase sempre acabam degenerando para crises institucionais".
Segundo José Afonso da Silva,
"a crise atual é uma crise ética,
que se resolve punindo os responsáveis". Já a crise institucional
"vem de longe". "Devemos repensar o presidencialismo."
Sobre o financiamento público
-muito discutido em meio às
comprovações de uso de caixa
dois-, Eduardo Alckmin, Maria
Hermínia e Souza se mostraram
céticos sobre sua eficácia. "É preciso parar de ver as doações privadas como ilegítimas", disse, por
sua vez, Amaury de Souza.
Segundo Alckmin, é preciso dotar o Ministério Público, com a
colaboração dos Tribunais de
Contas dos Estados e da Receita
Federal, de mecanismos ágeis e
procedimentos contábeis para
acompanhar a arrecadação nas
campanhas eleitorais.
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