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AMBIENTE
Substâncias potencialmente cancerígenas atingiram água que é captada por poços artesianos na região de Santo Amaro
Área na zona sul de SP está contaminada com produtos tóxicos
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma área na região de Santo
Amaro, na zona sul de São Paulo,
entre as pontes Interlagos e do Socorro está contaminada com solventes clorados, altamente tóxicos, que podem provocar danos
nos rins, fígado e sistema nervoso
central, além de serem potencialmente cancerígenos.
A contaminação chegou a pelo
menos cem metros de profundidade e atingiu parte de um aqüífero (reservatório de água subterrânea). A água normalmente é captada por empresas privadas por
meio de poços artesianos. O mesmo recurso pode ser utilizado para abastecer casas e edifícios.
O problema foi descoberto depois que a indústria Gillette do
Brasil fez um relatório ambiental
da planta da Duracell (empresa
que o grupo adquiriu em 1996),
instalada na região, e apontou a
presença dos solventes cloreto de
vinila, dicloroetano, dicloroeteno,
tetracloroeteno e tricoloeteno na
água e no solo. A Gillette diz que
nunca usou a área para fabricar
nenhum de seus produtos.
Os dados foram repassados para a Cetesb (agência ambiental
paulista), que fez uma análise do
entorno da área (em cerca de 1
km2) e encontrou outros sete poços artesianos contaminados com
as mesmas substâncias. Todos
eles foram interditados.
O gerente da agência da Cetesb
em Santo Amaro, Ronald Pereira
Magalhães, disse que outras análises ainda serão feitas para determinar a extensão da contaminação. "Não é possível afirmar a origem do problema. Outras empresas manipulam os mesmos compostos e podem também ser responsáveis pela contaminação."
Segundo ele, a situação é grave e
é necessário impedir o uso indiscriminado dessa água, especialmente em poços clandestinos. "O
problema está muito disperso,
mas isso não significa que o aqüífero inteiro esteja contaminado."
O toxicologista Eduardo Mello
de Capitani, coordenador do
Centro de Controle de Intoxicação da Unicamp, disse que os efeitos dos compostos no organismo
dependem do tempo de exposição e da quantidade absorvida.
"Essa água está condenada.
Quem a utiliza para cozinhar, escovar os dentes e principalmente
beber está em contato direto com
as substâncias, mesmo que diluídas. Essas pessoas podem sofrer
problemas a longo prazo."
Segundo Ricardo Hirata, professor do Instituto de Geociências
da USP e especialista em águas
subterrâneas, os solventes podem
ficar por muito tempo nas águas
subterrâneas. "O primeiro passo é
identificar a origem para impedir
a chegada dessas substâncias na
água. Para barrar a expansão dos
compostos na água, é preciso fazer a remediação do aqüífero para
chegar a níveis fora de risco. É
uma técnica cara e demorada."
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