São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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AMBIENTE
Substâncias potencialmente cancerígenas atingiram água que é captada por poços artesianos na região de Santo Amaro

Área na zona sul de SP está contaminada com produtos tóxicos

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma área na região de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, entre as pontes Interlagos e do Socorro está contaminada com solventes clorados, altamente tóxicos, que podem provocar danos nos rins, fígado e sistema nervoso central, além de serem potencialmente cancerígenos.
A contaminação chegou a pelo menos cem metros de profundidade e atingiu parte de um aqüífero (reservatório de água subterrânea). A água normalmente é captada por empresas privadas por meio de poços artesianos. O mesmo recurso pode ser utilizado para abastecer casas e edifícios.
O problema foi descoberto depois que a indústria Gillette do Brasil fez um relatório ambiental da planta da Duracell (empresa que o grupo adquiriu em 1996), instalada na região, e apontou a presença dos solventes cloreto de vinila, dicloroetano, dicloroeteno, tetracloroeteno e tricoloeteno na água e no solo. A Gillette diz que nunca usou a área para fabricar nenhum de seus produtos.
Os dados foram repassados para a Cetesb (agência ambiental paulista), que fez uma análise do entorno da área (em cerca de 1 km2) e encontrou outros sete poços artesianos contaminados com as mesmas substâncias. Todos eles foram interditados.
O gerente da agência da Cetesb em Santo Amaro, Ronald Pereira Magalhães, disse que outras análises ainda serão feitas para determinar a extensão da contaminação. "Não é possível afirmar a origem do problema. Outras empresas manipulam os mesmos compostos e podem também ser responsáveis pela contaminação."
Segundo ele, a situação é grave e é necessário impedir o uso indiscriminado dessa água, especialmente em poços clandestinos. "O problema está muito disperso, mas isso não significa que o aqüífero inteiro esteja contaminado."
O toxicologista Eduardo Mello de Capitani, coordenador do Centro de Controle de Intoxicação da Unicamp, disse que os efeitos dos compostos no organismo dependem do tempo de exposição e da quantidade absorvida.
"Essa água está condenada. Quem a utiliza para cozinhar, escovar os dentes e principalmente beber está em contato direto com as substâncias, mesmo que diluídas. Essas pessoas podem sofrer problemas a longo prazo."
Segundo Ricardo Hirata, professor do Instituto de Geociências da USP e especialista em águas subterrâneas, os solventes podem ficar por muito tempo nas águas subterrâneas. "O primeiro passo é identificar a origem para impedir a chegada dessas substâncias na água. Para barrar a expansão dos compostos na água, é preciso fazer a remediação do aqüífero para chegar a níveis fora de risco. É uma técnica cara e demorada."


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