DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL EM BRASÍLIA

Em depoimento fechado ao público na noite de ontem, em sessão conjunta das CPIs dos Bingos, dos Correios e do Mensalão, o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, disse ter recebido a informação de que o PT pagou R$ 8 milhões neste ano, nos meses de março e abril, em troca do apoio do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), recém-eleito.
Barcelona não soube especificar, mas disse acreditar que a maior parte dos recursos teria ficado com Severino.
Cinco congressistas que participaram da sessão das CPIs, incluindo um do PT, confirmaram em sigilo que Barcelona deu as declarações. Segundo os parlamentares, Barcelona disse que ouviu a informação sobre o suposto esquema de Severino do doleiro Najun Turner, quando dividiu uma cela com ele.
Os parlamentares disseram que o doleiro citou dois depósitos: um de R$ 5 milhões, que teria sido proveniente do esquema de Marcos Valério Fernandes de Souza, e outro de R$ 3 milhões, por intermédio do doleiro Dario Messer.
Os recursos, ainda de acordo com Barcelona, teriam sido passados ao deputado José Janene (PR), líder do PP, para convencer Severino a não fazer oposição ao governo. Na disputa pela presidência da Câmara, em fevereiro, Severino derrotou o candidato preferido pelo Planalto, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) confirmou o relato do depoente em entrevista. "Foi via [a empresa] Bônus-Banval. Hoje o Barcelona confirma que o dinheiro chegou a Severino nessa operação que já era de conhecimento do valerioduto [suposto esquema de caixa dois do empresário Marcos Valério]. O que o Toninho [Barcelona] fala é isso: que o [deputado José ] Janene [PP-PR) intermediou", disse Faria de Sá.

Antecedentes
No domingo, a Folha noticiou que a Polícia Federal investiga se Najun Turner atuou no esquema que Marcos Valério criou para alimentar o caixa dois do PT. Turner ficou conhecido em 1992, quando assessores do ex-presidente Fernando Collor inventaram um empréstimo de US$ 3,7 milhões, vindos do Uruguai, a chamada Operação Uruguai, para justificar a movimentação de dinheiro do esquema de PC Farias. O dinheiro, na farsa inventada, havia servido para comprar 318 quilos de ouro de Turner.
Preso desde 31 de março deste ano, Turner foi condenado a dez anos de prisão por crimes contra o sistema financeiro.
O depoimento de Toninho da Barcelona só foi fechado no final do dia. Na sessão aberta, durante a tarde, ele afirmou que, em 2002, o PT captava em dinheiro com o doleiro Dario Messer no Trade Link Bank, em uma suposta conta de Marcos Valério, e repassava o dinheiro à Bônus-Banval, que, por sua vez, o transferia ao próprio PT e a José Janene. Valério negou envolvimento no caso e disse que processará Barcelona.
Severino Cavalcanti (PP-PE) não comentou as denúncias por considerá-las "absurdas". Ao saber do teor das declarações de Barcelona, Janene foi ao local do depoimento do doleiro e bateu boca com ele. Ao sair, o líder do PP negou tudo.
O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), afirmou, no final do depoimento, que o doleiro "não fez revelações que possam ser consideradas inéditas, a não ser uma, quando disse que ouviu falar, mas não teve condições de comprovar essa afirmação".
O senador disse que o depoimento de Barcelona foi encerrado depois da intervenção do deputado Janene.


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