São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DEPOIS DO "MENSALINHO"

Procuradoria descobre que secretária do presidente da Câmara repassou ao deputado a maior parte do dinheiro pago por Buani

Depósito derruba explicação de Severino

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que deve renunciar hoje, em sua casa em Brasília


VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Gabriela Kênia Martins, secretária do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), transferiu para uma conta bancária do deputado pernambucano R$ 6.800 no mesmo dia em que sacou o cheque de R$ 7.500 do empresário Sebastião Buani.
O documento registrando a transferência está em poder da Procuradoria Geral da República. Seria a prova contra Severino. Poderia, inclusive, dispensar a quebra de sigilo bancário do deputado para provar que ele recebia o "mensalinho" para manter com Buani a exploração de um restaurante na Câmara dos Deputados.
No verso do cheque, descontado no dia 30 de julho de 2002, havia uma anotação indicando que do total deveria ser descontado R$ 690,00. Ou seja, a secretária de Severino teria subtraído esse valor dos R$ 7.500 e transferido R$ 6.800 para a conta do deputado.
Segundo a Folha apurou, a Procuradoria avalia que o documento desmonta a versão da secretária e do presidente da Câmara, de que o dinheiro era destinado a despesas da campanha eleitoral de José Severino Cavalcanti Jr., filho do deputado, à Assembléia Legislativa de Pernambuco. Essa versão não bate com a prestação de contas à Justiça Eleitoral, segundo a qual a primeira doação a campanha ocorreu em 8 de agosto. Cavalcanti Jr. morreu num acidente de carro pouco depois.
O advogado de Severino, José Eduardo Alckmin, afirmou que só poderia fazer comentários após analisar o documento, que ele disse não conhecer.

Renúncia
Severino Cavalcanti vai renunciar a seu mandato hoje. A aliados, revelou apenas de maneira truncada a história envolvendo sua secretária. "Isso que o procurador-geral da República disse que tem deve ser coisa da Gabriela e do marido dela com o Buani. Acho que eles faziam essas coisas de empréstimo e agiotagem também", disse Severino ontem a alguns interlocutores.
A Folha apurou a informação sobre o depósito na conta de Severino no início da noite. Tentou falar com o presidente da Câmara, mas ele não respondeu às ligações. Seus assessores também não souberam explicar a existência dessa operação.
A suspeita na Procuradoria Geral da República é que familiares ou funcionários do gabinete do presidente da Câmara possam ter sido usados para receber dinheiro em nome de Severino.
Há um fato que mostra a ligação de funcionários de Severino à família Cavalcanti. A campanha em 2002 para deputada estadual em Pernambuco de Ana Cavalcanti, filha de Severino, teve 15 doadores. Desses, pelo menos seis eram parentes e três eram funcionários do presidente da Câmara, inclusive a secretária Gabriela Kênia.
Apesar de ter dito que havia recebido documentos que confirmariam o envolvimento de Severino no suposto "mensalinho", o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, decidiu ontem pedir a abertura de inquérito ao STF (Supremo Tribunal Federal) e novas diligências.
O procurador-geral informou que devolverá o caso ao Supremo ainda hoje. Não divulgou, no entanto, se deve pedir a quebra de sigilo bancário e telefônico de Severino e do empresário Sebastião Buani, como havia sugerido a Polícia Federal.
Souza disse, por meio de sua assessoria de imprensa, não ter condição neste momento de apresentar denúncia contra Severino. Segundo o procurador-geral, documentos importantes, como a prorrogação do contrato de concessão que o presidente da Câmara teria assinado e o laudo confirmando ou não a veracidade da assinatura, não estavam entre os enviados pela Polícia Federal ao Supremo.
De acordo com a assessoria do procurador, os documentos que ele recebeu anteontem serviram para tirar dúvidas sobre o caso.


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