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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DEPOIS DO "MENSALINHO"
Procuradoria descobre que secretária do presidente da Câmara repassou ao deputado a maior parte do dinheiro pago por Buani
Depósito derruba explicação de Severino
Alan Marques/Folha Imagem
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O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que deve renunciar hoje, em sua casa em Brasília |
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Gabriela Kênia Martins, secretária do presidente da Câmara,
Severino Cavalcanti (PP-PE),
transferiu para uma conta bancária do deputado pernambucano
R$ 6.800 no mesmo dia em que
sacou o cheque de R$ 7.500 do
empresário Sebastião Buani.
O documento registrando a
transferência está em poder da
Procuradoria Geral da República.
Seria a prova contra Severino. Poderia, inclusive, dispensar a quebra de sigilo bancário do deputado para provar que ele recebia o
"mensalinho" para manter com
Buani a exploração de um restaurante na Câmara dos Deputados.
No verso do cheque, descontado no dia 30 de julho de 2002, havia uma anotação indicando que
do total deveria ser descontado
R$ 690,00. Ou seja, a secretária de
Severino teria subtraído esse valor
dos R$ 7.500 e transferido R$
6.800 para a conta do deputado.
Segundo a Folha apurou, a Procuradoria avalia que o documento desmonta a versão da secretária e do presidente da Câmara, de
que o dinheiro era destinado a
despesas da campanha eleitoral
de José Severino Cavalcanti Jr., filho do deputado, à Assembléia
Legislativa de Pernambuco. Essa
versão não bate com a prestação
de contas à Justiça Eleitoral, segundo a qual a primeira doação a
campanha ocorreu em 8 de agosto. Cavalcanti Jr. morreu num acidente de carro pouco depois.
O advogado de Severino, José
Eduardo Alckmin, afirmou que
só poderia fazer comentários
após analisar o documento, que
ele disse não conhecer.
Renúncia
Severino Cavalcanti vai renunciar a seu mandato hoje. A aliados, revelou apenas de maneira
truncada a história envolvendo
sua secretária. "Isso que o procurador-geral da República disse
que tem deve ser coisa da Gabriela
e do marido dela com o Buani.
Acho que eles faziam essas coisas
de empréstimo e agiotagem também", disse Severino ontem a alguns interlocutores.
A Folha apurou a informação
sobre o depósito na conta de Severino no início da noite. Tentou
falar com o presidente da Câmara, mas ele não respondeu às ligações. Seus assessores também não
souberam explicar a existência
dessa operação.
A suspeita na Procuradoria Geral da República é que familiares
ou funcionários do gabinete do
presidente da Câmara possam ter
sido usados para receber dinheiro
em nome de Severino.
Há um fato que mostra a ligação
de funcionários de Severino à família Cavalcanti. A campanha em
2002 para deputada estadual em
Pernambuco de Ana Cavalcanti,
filha de Severino, teve 15 doadores. Desses, pelo menos seis eram
parentes e três eram funcionários
do presidente da Câmara, inclusive a secretária Gabriela Kênia.
Apesar de ter dito que havia recebido documentos que confirmariam o envolvimento de Severino no suposto "mensalinho", o
procurador-geral da República,
Antônio Fernando de Souza, decidiu ontem pedir a abertura de
inquérito ao STF (Supremo Tribunal Federal) e novas diligências.
O procurador-geral informou
que devolverá o caso ao Supremo
ainda hoje. Não divulgou, no entanto, se deve pedir a quebra de sigilo bancário e telefônico de Severino e do empresário Sebastião
Buani, como havia sugerido a Polícia Federal.
Souza disse, por meio de sua assessoria de imprensa, não ter condição neste momento de apresentar denúncia contra Severino. Segundo o procurador-geral, documentos importantes, como a
prorrogação do contrato de concessão que o presidente da Câmara teria assinado e o laudo confirmando ou não a veracidade da assinatura, não estavam entre os enviados pela Polícia Federal ao Supremo.
De acordo com a assessoria do
procurador, os documentos que
ele recebeu anteontem serviram
para tirar dúvidas sobre o caso.
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