São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Coordenador de Mercadante ligou revista a Vedoin

Segundo "IstoÉ", Hamilton Lacerda negociou a entrevista em que Serra foi acusado de envolvimento com máfia

Redator-chefe da revista, Mário Simas Filho, diz que Lacerda foi pessoalmente à Redação da "IstoÉ" negociar a entrevista com os Vedoin


Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Mercadante concede entrevista sobre o envolvimento de petistas no caso do dossiê contra Serra


CATIA SEABRA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O coordenador do programa de TV da campanha de Aloizio Mercadante ao governo do Estado, Hamilton Lacerda, foi afastado ontem do cargo por ter oferecido à revista "IstoÉ" munição contra o PSDB.
O redator-chefe da revista, Mário Simas Filho, afirma que Lacerda foi pessoalmente à Redação da "IstoÉ", em pleno feriado de Sete de Setembro, negociar a entrevista em que os Vedoin acusam o tucano José Serra de envolvimento na máfia dos sanguessugas.
Identificando-se apenas como Hamilton, ele orientou que Simas Filho -autor da reportagem- procurasse duas pessoas para a realização da entrevista em Cuiabá (MT): Oswaldo e Expedito. Só agora, com a explosão da crise, disse o jornalista, ele sabe que se tratava dos petistas Oswaldo Bargas e Expedito Afonso Veloso.
"Sem sobrenomes. Só me deram isso [o nome] e os telefones. Cheguei a Cuiabá, liguei para o Oswaldo ou para o Expedito. Eles vieram ao meu encontro e foi marcada a entrevista", disse Simas Filho, relatando a reunião que tiveram em um hotel em Cuiabá na quarta-feira da semana passada, na véspera da entrevista na casa de um dos Vedoin.

Relato
Segundo Simas Filho, Hamilton telefonou para a "IstoÉ" entre 11h e meio-dia de Sete de Setembro, perguntando se havia interesse numa entrevista dos Vedoin. Às 16h, ele foi à redação e participou de uma reunião com Simas Filho e um grupo de editores da revista.
"Quem falou comigo em São Paulo foi o Hamilton. Ligou e pedi que viesse pessoalmente falar comigo. Na redação, eu não o conhecia, e o recebi junto com mais dois ou três editores da revista numa sala de reunião. Ele falou que os Vedoin teriam novos documentos que envolveriam o Serra e perguntou se eu teria interesse em fazer uma entrevista", lembra Simas Filho, descrevendo sua reação: "claro que tenho. Eles foram fonte de todas as investigações até agora. "Então [disse ele], em Cuiabá, você tem que procurar Oswaldo e Expedito'".
Simas Filho disse que, no início da semana passada, Lacerda voltou a procurá-lo confirmando a entrevista e passando os telefones de Oswaldo e Expedito, com quem se encontrou na quarta-feira em Cuiabá. "Eu queria saber: "que documentos são esses?" Eles falaram que eram depósitos bancários que iam para um indicado pelo Serra e pelo Barjas Negri".
Segundo Simas Filho, em nenhum momento os três falaram em nome do PT. "Ele se identificou como Hamilton, falando em nome do advogado do Vedoin", disse. "Todos usavam esse discurso. Sempre falando em nome dos Vedoin. Nunca falando em nome do PT".
"Evidente que eu tinha alguma desconfiança", disse o jornalista. "Sabia a quem interessava aquilo".
Simas Filho repete que foi movido por interesse jornalístico e que, para a edição da semana que vem, se dedica à investigação da participação dos tucanos na máfia dos sanguessuga. "Não me arrependo. Faria de novo. O que eles [os Vedoin] falaram tem de de ser investigado. Tem que ir para cadeia quem comprou [o dossiê]. Mas o que eles falaram tem de ser investigado", disse.
Procurado pela reportagem da Folha, por telefone, o editor e diretor-responsável da "IstoÉ", Domingo Alzugaray, não atendeu os telefonemas nem retornou para o jornal até o fechamento desta edição.

Petistas
Os dois petistas que, segundo Simas Filho, intermediaram a entrevista trabalham na campanha de Lula. Oswaldo Bargas é ex-secretário do Ministério do Trabalho, e Expedito Afonso Veloso foi até a tarde de ontem diretor de gestão de risco do Banco do Brasil.
Segundo Simas Filho, a dupla assistiu, calada, à entrevista dos Vedoin. Além deles, o advogado da família, Otto Medeiros, estava na sala. Medeiros insistia em frisar que os documentos apresentados à revista já estavam em poder da Justiça. Na quinta à noite, Simas Filho, Bargas e Expedito embarcaram no mesmo vôo da TAM com destino a São Paulo e escala em Brasília.
Às 16h46, após a entrevista, o empresário Luiz Antonio Vedoin telefonou para Valdebran Padilha da Silva, seu emissário encarregado de receber, em São Paulo, o dinheiro saído do PT. "Luiz diz que está na mão dos caras e que já embarcaram. Luiz diz que a parte dele ele fez", descreve o relatório da escuta nos telefones dos Vedoin.
Do primeiro contato até a entrevista, a negociação consumiu uma semana.


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