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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Coordenador de Mercadante ligou revista a Vedoin
Segundo "IstoÉ", Hamilton Lacerda negociou a entrevista em que Serra foi acusado de envolvimento com máfia
Redator-chefe da revista, Mário Simas Filho, diz que Lacerda foi pessoalmente à Redação da "IstoÉ" negociar a entrevista com os Vedoin
Rogério Cassimiro/Folha Imagem
![](../images/n2109200601.jpg) |
Mercadante concede entrevista sobre o envolvimento de petistas no caso do dossiê contra Serra |
CATIA SEABRA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
O coordenador do programa
de TV da campanha de Aloizio
Mercadante ao governo do Estado, Hamilton Lacerda, foi
afastado ontem do cargo por
ter oferecido à revista "IstoÉ"
munição contra o PSDB.
O redator-chefe da revista,
Mário Simas Filho, afirma que
Lacerda foi pessoalmente à Redação da "IstoÉ", em pleno feriado de Sete de Setembro, negociar a entrevista em que os
Vedoin acusam o tucano José
Serra de envolvimento na máfia dos sanguessugas.
Identificando-se apenas como Hamilton, ele orientou que
Simas Filho -autor da reportagem- procurasse duas pessoas
para a realização da entrevista
em Cuiabá (MT): Oswaldo e
Expedito. Só agora, com a explosão da crise, disse o jornalista, ele sabe que se tratava dos
petistas Oswaldo Bargas e Expedito Afonso Veloso.
"Sem sobrenomes. Só me deram isso [o nome] e os telefones. Cheguei a Cuiabá, liguei
para o Oswaldo ou para o Expedito. Eles vieram ao meu encontro e foi marcada a entrevista", disse Simas Filho, relatando a reunião que tiveram em
um hotel em Cuiabá na quarta-feira da semana passada, na
véspera da entrevista na casa
de um dos Vedoin.
Relato
Segundo Simas Filho, Hamilton telefonou para a "IstoÉ"
entre 11h e meio-dia de Sete de
Setembro, perguntando se havia interesse numa entrevista
dos Vedoin. Às 16h, ele foi à redação e participou de uma reunião com Simas Filho e um grupo de editores da revista.
"Quem falou comigo em São
Paulo foi o Hamilton. Ligou e
pedi que viesse pessoalmente
falar comigo. Na redação, eu
não o conhecia, e o recebi junto
com mais dois ou três editores
da revista numa sala de reunião. Ele falou que os Vedoin
teriam novos documentos que
envolveriam o Serra e perguntou se eu teria interesse em fazer uma entrevista", lembra Simas Filho, descrevendo sua
reação: "claro que tenho. Eles
foram fonte de todas as investigações até agora. "Então [disse
ele], em Cuiabá, você tem que
procurar Oswaldo e Expedito'".
Simas Filho disse que, no início da semana passada, Lacerda
voltou a procurá-lo confirmando a entrevista e passando os
telefones de Oswaldo e Expedito, com quem se encontrou na
quarta-feira em Cuiabá. "Eu
queria saber: "que documentos
são esses?" Eles falaram que
eram depósitos bancários que
iam para um indicado pelo Serra e pelo Barjas Negri".
Segundo Simas Filho, em nenhum momento os três falaram em nome do PT. "Ele se
identificou como Hamilton, falando em nome do advogado do
Vedoin", disse. "Todos usavam
esse discurso. Sempre falando
em nome dos Vedoin. Nunca
falando em nome do PT".
"Evidente que eu tinha alguma desconfiança", disse o jornalista. "Sabia a quem interessava aquilo".
Simas Filho repete que foi
movido por interesse jornalístico e que, para a edição da semana que vem, se dedica à investigação da participação dos
tucanos na máfia dos sanguessuga. "Não me arrependo. Faria
de novo. O que eles [os Vedoin]
falaram tem de de ser investigado. Tem que ir para cadeia
quem comprou [o dossiê]. Mas
o que eles falaram tem de ser
investigado", disse.
Procurado pela reportagem
da Folha, por telefone, o editor
e diretor-responsável da "IstoÉ", Domingo Alzugaray, não
atendeu os telefonemas nem
retornou para o jornal até o fechamento desta edição.
Petistas
Os dois petistas que, segundo
Simas Filho, intermediaram a
entrevista trabalham na campanha de Lula. Oswaldo Bargas
é ex-secretário do Ministério
do Trabalho, e Expedito Afonso
Veloso foi até a tarde de ontem
diretor de gestão de risco do
Banco do Brasil.
Segundo Simas Filho, a dupla
assistiu, calada, à entrevista dos
Vedoin. Além deles, o advogado
da família, Otto Medeiros, estava na sala. Medeiros insistia em
frisar que os documentos apresentados à revista já estavam
em poder da Justiça. Na quinta
à noite, Simas Filho, Bargas e
Expedito embarcaram no mesmo vôo da TAM com destino a
São Paulo e escala em Brasília.
Às 16h46, após a entrevista, o
empresário Luiz Antonio Vedoin telefonou para Valdebran
Padilha da Silva, seu emissário
encarregado de receber, em
São Paulo, o dinheiro saído do
PT. "Luiz diz que está na mão
dos caras e que já embarcaram.
Luiz diz que a parte dele ele
fez", descreve o relatório da escuta nos telefones dos Vedoin.
Do primeiro contato até a entrevista, a negociação consumiu uma semana.
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