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foco
Negociação de caças se assemelha à ocorrida durante regime militar
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
A disputa entre EUA e
França pela venda de aviões
de combate ao Brasil remete
à ocorrida na virada dos anos
60 para os 70, durante a ditadura militar, com ingredientes semelhantes de nacionalismo e cálculo geopolítico.
Na época, o presidente
Lyndon Johnson (1963-1969), afogado na Guerra do
Vietnã, distanciava-se do regime brasileiro. Em julho de
1967, ele pediu ao Brasil que
adiasse a compra de caças F-5, precursor dos F-18 que
disputam com os Rafale
franceses a atual concorrência da FAB -hoje é o último
dia para os concorrentes entregarem as propostas finais.
Johnson alegou, em carta
ao general-presidente Arthur da Costa e Silva (1967-1969), que haveria "sérias repercussões" nos EUA com a
venda dos caças.
Três meses depois, quando o francês Charles de Gaulle (1958-1969) liberou a
venda dos supersônicos Mirage ao Brasil, os EUA informaram que o fornecimento
dos F-5 seria autorizado.
Costa e Silva, no entanto,
não concordou com a desistência dos Mirage, modelo
favorito da Aeronáutica -e
que será substituído pelo
que será comprado agora.
Quando veio, em 1970, o
anúncio formal da aquisição
dos franceses pelo Brasil, já
sob comando do general
Emílio Garrastazu Médici
(1969-1974), os EUA divulgaram nota insistindo na
venda do F-5 -que o Brasil
acabou comprando cinco
anos depois.
O episódio está detalhado
no livro "O Grande Irmão
-da Operação Brother Sam
aos Anos de Chumbo" (Civilização Brasileira), do historiador Carlos Fico, professor
da UFRJ. O livro, de 2008,
narra as relações entre os
EUA e os governos militares
no período de 1964 a 1973.
Fico vê semelhanças entre
a disputa passada e a atual:
"Os EUA sempre tiveram a
política de armar o menos
possível os latino-americanos, até para evitar uma corrida armamentista. Há também o fato óbvio de que continuam sendo uma superpotência, e continuamos em
sua zona de influência".
Mas ele também aponta
diferenças: "Havia bastante
desrespeito pelas autoridades brasileiras [do regime
militar]. O Brasil é hoje muito mais respeitável, como
democracia consolidada, e
tem maior projeção internacional. Comprar armas da
França ou de outro país não
representa problema político da mesma dimensão".
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