São Paulo, segunda-feira, 21 de setembro de 2009

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Negociação de caças se assemelha à ocorrida durante regime militar

CLAUDIA ANTUNES

DA SUCURSAL DO RIO

A disputa entre EUA e França pela venda de aviões de combate ao Brasil remete à ocorrida na virada dos anos 60 para os 70, durante a ditadura militar, com ingredientes semelhantes de nacionalismo e cálculo geopolítico.
Na época, o presidente Lyndon Johnson (1963-1969), afogado na Guerra do Vietnã, distanciava-se do regime brasileiro. Em julho de 1967, ele pediu ao Brasil que adiasse a compra de caças F-5, precursor dos F-18 que disputam com os Rafale franceses a atual concorrência da FAB -hoje é o último dia para os concorrentes entregarem as propostas finais.
Johnson alegou, em carta ao general-presidente Arthur da Costa e Silva (1967-1969), que haveria "sérias repercussões" nos EUA com a venda dos caças.
Três meses depois, quando o francês Charles de Gaulle (1958-1969) liberou a venda dos supersônicos Mirage ao Brasil, os EUA informaram que o fornecimento dos F-5 seria autorizado.
Costa e Silva, no entanto, não concordou com a desistência dos Mirage, modelo favorito da Aeronáutica -e que será substituído pelo que será comprado agora.
Quando veio, em 1970, o anúncio formal da aquisição dos franceses pelo Brasil, já sob comando do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), os EUA divulgaram nota insistindo na venda do F-5 -que o Brasil acabou comprando cinco anos depois.
O episódio está detalhado no livro "O Grande Irmão -da Operação Brother Sam aos Anos de Chumbo" (Civilização Brasileira), do historiador Carlos Fico, professor da UFRJ. O livro, de 2008, narra as relações entre os EUA e os governos militares no período de 1964 a 1973.
Fico vê semelhanças entre a disputa passada e a atual: "Os EUA sempre tiveram a política de armar o menos possível os latino-americanos, até para evitar uma corrida armamentista. Há também o fato óbvio de que continuam sendo uma superpotência, e continuamos em sua zona de influência".
Mas ele também aponta diferenças: "Havia bastante desrespeito pelas autoridades brasileiras [do regime militar]. O Brasil é hoje muito mais respeitável, como democracia consolidada, e tem maior projeção internacional. Comprar armas da França ou de outro país não representa problema político da mesma dimensão".


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