São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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Calandra afirma desconhecer fotos

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sentado num amplo gabinete no 16º andar do prédio da Polícia Civil de São Paulo, o delegado Aparecido Laertes Calandra, conhecido pelo codinome "Capitão Ubirajara", disse ontem desconhecer as fotografias que supostamente exibem o jornalista Vladimir Herzog, nu e abatido, antes de ser morto sob custódia da Força, em outubro de 1975.
"Não sei do que você está falando. Não sei nada disso. Tenho trabalhado muito e não vi nada", disse ontem Calandra, enquanto despachava com um assessor.
O "Capitão Ubirajara" estava de serviço num sábado, dia 25 de outubro de 1975, quando Herzog morreu no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo.
Foi o "Capitão" quem comunicou à divisão de criminalística a existência de um morto na cela especial nº 1, requerendo os serviços da perícia. Esse pedido foi assinado pelo "Capitão Ubirajara", codinome que Calandra não reconhece como sendo dele.
Questionado sobre o dia em que o jornalista morreu e se considerava possível as fotos serem mesmo de Herzog, voltou a responder que desconhecia o assunto. "Realmente não sei do que você está falando", disse Calandra, que afirmou não ter autorização para falar com repórteres.
Em maio do ano passado, em entrevista à Folha, Calandra disse que não conheceu Herzog e que "não tem nada com essa história". Também não respondeu sobre o pedido de perícia encaminhado por ele no dia da morte.
Calandra trabalha hoje no setor de materiais do Departamento de Administração do Pessoal (DAP) da Polícia Civil, no bairro da Luz (centro de SP). O cargo é ocupado por ele desde agosto de 2003, quando o governador Geraldo Alckmin (PSDB), sem maior alarde, determinou sua transferência para um setor burocrático.
Antes, o delegado trabalhava no Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol) e tinha acesso a informações sigilosas, o que causou grande revolta em organismos de direitos humanos, que exigiram seu afastamento.
A identidade completa do delegado só foi conhecida em 1983, quando ele foi trabalhar com o senador Romeu Tuma (PFL-SP) na superintendência da Polícia Federal. Até então, os ex-presos políticos o conheciam pelo codinome.
Entre amigos da polícia, apenas os mais antigos e mais íntimos têm a liberdade de chamá-lo de "Capitão Ubirajara". Sobre a atuação dele no DOI-Codi, os policiais evitam falar. Dizem apenas que Calandra é de "extrema direita" e recorre a expressões como "vermelho" ou "comunista" para se referir aos ex-presos políticos.


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