|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Secretário de Lula ligou para Lorenzetti ao saber de prisões
Conversa ocorreu antes de vir a público a ligação do churrasqueiro do presidente com dossiê
"Disseram que o Lorenzetti
estava no rolo. Então, liguei
pra ele", afirmou Gilberto
Carvalho, se referindo às
prisões de emissários do PT
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A quebra do sigilo telefônico
do petista Jorge Lorenzetti,
personagem central do dossiegate, revela que ele trocou telefonemas com Gilberto Carvalho, secretário particular de
Luiz Inácio Lula da Silva, no dia
em que o esquema veio à tona.
As ligações telefônicas entre
os dois ocorreram num momento em que o nome de Lorenzetti, amigo do presidente
Lula, ainda não estava vinculado ao caso, o que veio a acontecer somente três dias depois.
Lorenzetti e Carvalho conversaram pelo menos duas vezes em 15 de setembro, dia em
que veio a público a tentativa de
compra de um dossiê contra
políticos tucanos por petistas.
Lorenzetti está sob investigação da PF por conta de seu
envolvimento no caso do dossiê. Por isso teve o sigilo telefônico quebrado. Ele chefiava o
birô de "inteligência" do comitê
de campanha de Lula, onde estavam lotados os principais
"aloprados" do dossiê.
Deu-se pouco depois das 10h
da manhã do dia 15 de setembro o primeiro contato telefônico entre Lorenzetti e Carvalho. Quem ligou foi o secretário
de Lula. Pouco antes das 19h do
mesmo dia, foi a vez de Lorenzetti telefonar. Carvalho contou o seguinte:
1) Carvalho estava com Lula
na produtora do jornalista João
Santana, responsável pelo marketing da campanha, quando
recebeu um telefonema. Foi informado de que a PF prendera
Gedimar Passos e Valdebran
Padilha, ligados ao PT.
2) "Assim que recebi essa informação, deixei o presidente
na produtora e vim pra cá [Planalto]. A informação chegou
muito atravessada. Disseram
que o Lorenzetti estava no rolo.
Então, liguei pra ele. Era a pessoa mais próxima que eu conhecia dessa gente", disse Carvalho. "Perguntei: "Lorenzetti,
que loucura é essa?" Ele estava
muito assustado. Explicou que
tinham ocorrido as prisões".
3) De volta das gravações, Lula compareceu a um compromisso de agenda no Planalto.
Em seguida, Carvalho foi ao
presidente. "Antes de ele ir para o almoço, falei: tem uma coisa chata. Não sei direito o que é.
Prenderam duas pessoas em
São Paulo, com dinheiro. Parece que é negócio de dossiê. Falei com o Lorenzetti, mas ele
não soube precisar o que é. O
presidente pôs a mão na cabeça
e disse: "Não acredito que isso
possa estar acontecendo nesse
momento da campanha"."
4) No final da tarde do mesmo dia 15, Lorenzetti discou
para Carvalho. "No primeiro
telefonema, ele não sabia direito o que tinha acontecido. Voltamos a falar às 18h41min. Aí
ele deu mais informações, que
as pessoas tinham sido presas e
estavam tentando saber o que
estava acontecendo. Depois,
não falei mais com ele, até por
prudência."
Consultando os registros da
Presidência, o secretário de Lula diz que, antes do dia 15 de setembro, a última vez que falara
com Lorenzetti fora em 28 de
agosto. "O Lorenzetti intermediava as idas do presidente a
Santa Catarina. Várias vezes eu
falei com ele por conta desse
negócio da agenda."
A partir de setembro, informa Carvalho, a responsabilidade pela montagem da agenda
de campanha de Lula foi transferida para César Alvarez, assessor da Presidência que se licenciou do cargo para trabalhar
no comitê. Desde então, Carvalho diz não ter mais conversado
com Lorenzetti, exceto no dia
15 de setembro.
A quebra dos sigilos revela
que Gilberto Carvalho trocou
telefonemas também com
Freud Godoy. São ligações
"funcionais", diz Carvalho. Godoy era assessor especial da
Presidência, lotado no gabinete
pessoal de Lula, que é chefiado
por Carvalho. A PF não exclui a
hipótese de convocar Carvalho
para prestar esclarecimentos.
A própria polícia informa, porém, que ele não está sendo tratado como suspeito no caso do
dossiê. "Não tenho nada a esconder", disse Carvalho.
Sub-relator da CPI dos Sanguessugas, o deputado Carlos
Sampaio (PSDB-SP) afirmou
ontem que não tem mais dúvida de que o Palácio do Planalto
sabia da tentativa de compra do
dossiê antitucano.
"A ligação telefônica do Gilberto Carvalho para uma pessoa que naquele momento era
desconhecida da imprensa e
das autoridades é uma mostra
inequívoca que o Palácio do
Planalto, por meio do assessor
direto do presidente, sabia de
toda a armação", afirmou.
Josias de Souza escreve o blog "Josias de Souza
- Nos Bastidores do Poder" (www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza)
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Marcelo Coelho: Herança maldita Índice
|