São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ

Dirceu telefonou para suspeito de negociar dossiê antes da operação

Conversas com Lorenzetti ocorreram 4 dias antes das prisões; advogado nega que caso tenha sido discutido

PF não considera as ligações em si como prova de que Dirceu possa ter relação com a negociação do dossiê, mas vai investigar telefonemas


LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil de Lula, trocou telefonemas com Jorge Lorenzetti quatro dias antes de emissários petistas terem sido presos pela Polícia Federal com R$ 1,75 milhão que seria usado na compra de um dossiê contra o PSDB.
A identificação das ligações foi feita a partir da análise do sigilo telefônico de Lorenzetti, ex-coordenador da área de inteligência da campanha do presidente Lula e um dos principais suspeitos de montar a operação para adquirir o dossiê.
O advogado de Dirceu, José Luiz de Oliveira Lima, confirmou à Folha que os dois se falaram rapidamente naquele período, sem informar precisamente a data nem o teor da conversa. Ressaltou que o assunto nada tinha a ver com a negociação do dossiê, fechada em 14 de setembro. Na madrugada do dia 15, Gedimar Passos e o ex-petista Valdebran Padilha foram detidos com o dinheiro -a PF está convencida de que foi Hamilton Lacerda quem levou o dinheiro ao hotel.
Por meio de seu advogado, Aldo de Campos Costa, Lorenzetti disse não se recordar de uma conversa por telefone com Dirceu nos dias que antecederam a prisão. Mas contou que esteve pessoalmente com Dirceu em agosto, para "tratar de conjuntura política". Lorenzetti ligou duas vezes de seu celular para um telefone fixo de Dirceu. Os dois telefonemas foram curtos, de cerca de um minuto. Três horas depois, Dirceu telefonou de volta. A última conversa durou alguns minutos a mais que as primeiras.
A PF não considera as ligações em si como prova de que Dirceu possa ter relação com a negociação do dossiê, mas entende que as circunstâncias dos telefonemas devam ser investigadas. Ontem, o superintendente da PF em Mato Grosso, Daniel Lorenz, sem admitir nem negar a existência das ligações entre os dois, ressaltou que fazer qualquer afirmação agora seria precipitação.
Anteontem, Lorenz adiantara que a PF identificara telefonemas entre um dos investigados no caso do dossiê e uma "pessoa conhecida e importante": "Estamos trabalhando para ver se isso é somente um boa tese, uma boa hipótese ou se é uma pessoa que estava na hora errada, no lugar errado".
Lorenzetti teve papel ativo na negociação do dossiê e da entrevista concedida por Luiz Antonio Vedoin -chefe da máfia dos sanguessugas- à revista "IstoÉ" contra o tucano José Serra, governador eleito de São Paulo. Apesar de negar ter tratado de pagamento pelo dossiê ou pela entrevista, Lorenzetti admitiu, em depoimento à PF, ter prometido custear advogados para a família Vedoin. Ele e o petista Oswaldo Bargas chegaram a oferecer o dossiê também para a revista "Época".


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