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Votação esbarra em conceito de trabalho escravo, diz senadora
Kátia Abreu, uma das líderes da bancada ruralista, diz que vota emenda que prevê confisco de terras se houver "definição clara'
Ronaldo Caiado (DEM-GO), nega que haja interferência em votação sobre o tema; para ele, poder da bancada é apenas o de se "mobilizar"
DA REPORTAGEM LOCAL
A senadora Kátia Abreu
(DEM-TO), 47, uma das líderes
da bancada ruralista no Congresso, afirmou que "um problema de conceituação" levou a
bancada a decidir não votar a
emenda constitucional que
prevê o confisco de terras onde
ocorra trabalho escravo.
"Ainda nesta semana o [José]
Nery me procurou, o senador
do PSOL, me disse: "Senadora,
vamos votar a PEC do trabalho
escravo?" Aí eu disse: "Se lá for
escrito a mesma definição da
OIT [Organização Internacional do Trabalho], convenção
29, voto na hora". Agora, com
esse leque desse tamanho, sem
definição clara e objetiva, eu
não voto, sou sincera em dizer",
afirmou Kátia, que é proprietária de terras no Tocantins. Indagada se é também essa a posição da bancada, afirmou: "Claro que é, geral da bancada".
A convenção citada pela senadora define a expressão "trabalho forçado ou obrigatório"
como sendo "todo trabalho ou
serviço exigido de uma pessoa
sob a ameaça de sanção e para o
qual não se tenha oferecido espontaneamente".
Um dos líderes da bancada
ruralista e um dos fundadores
da UDR (União Democrática
Ruralista), o deputado federal
Ronaldo Caiado (DEM-GO),
58, negou que a bancada ruralista esteja impedindo votações
sobre o tema do trabalho escravo, como a votação em segundo
turno da emenda que prevê o
confisco de terras com trabalho
escravo. Segundo ele, o poder
que a bancada tem é de "[se]
mobilizar na votação".
O deputado também alegou
que a bancada "não é contrária
à PEC [438], depende do texto".
Caiado disse que "não tem dificuldade alguma para que a
emenda vá à votação". "No momento em que a matéria é pautada, a frente parlamentar se
reúne e diz de que maneira nós
vamos atuar. Ninguém interfere se ela vai ou não ser pautada.
A bancada não tem esse poder."
Caiado atribuiu o aumento
da bancada a uma "resposta dada no voto" por eleitores a supostos problemas enfrentados
pelo setor no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (2003-2006).
"Foi o setor mais massacrado
pelo governo Lula. Essa resposta que é dada no voto é uma reação da classe. Hoje você tem
cartel de frigorífico, cartel de
laticínio, de máquina, de banqueiro. Você tem um governo
que é preconceituoso com o setor rural. E você tem um setor
que é totalmente desprotegido,
não tem seguro, não tem preço
mínimo, todos os males ambientais ou sociais, a responsabilidade é do produtor rural."
O deputado disse que o número da bancada é "em torno
de 120, 130 parlamentares" e
que houve um "crescimento
pouco significativo" na atual legislatura. "A bancada sempre
oscilou entre 100 e 110."
O ex-ministro da Agricultura
(2003-2006) Roberto Rodrigues, que hoje trabalha na FGV
(Fundação Getulio Vargas) de
São Paulo, disse em entrevista
por telefone -ele estava em
viagem a trabalho nos EUA-
que na época da discussão da
emenda 438 não tratou do assunto com a bancada ruralista.
Segundo o ex-ministro, a
emenda "não era um tema ligado ao Ministério da Agricultura, era ligado à Secretaria de Direitos Humanos".
(RV)
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