São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Antropóloga elogia "Tropa de Elite" e critica pirataria

Ruth diz que país melhorou e não opina sobre Serra

DA REPORTAGEM LOCAL

Embora elogie "Tropa de Elite", a ex-primeira-dama não gostou da ONG retratada no filme, sobretudo da foto do político na parede. Para Ruth Cardoso, o país melhorou, apesar de um retrocesso nos programas sociais. Ela não quis opinar sobre o governo Serra. (CS)  

FOLHA - Viu "Tropa de Elite?"
RUTH
- Vi.

FOLHA - No cinema ou na...
RUTH
- Não, vi no cinema e briguei com todo mundo que viu na cópia pirata. Você viu na cópia pirata?

FOLHA - No cinema. Há uma ONG no filme. E a imagem não é boa.
RUTH
- Esse filme tem uma grande virtude: colocar essa discussão do consumidor e da alimentação do sistema da droga. E essa é uma discussão muito difícil no Brasil. Nunca se pode falar disso, porque é uma limitação da liberdade. O modo pelo qual ele colocou a ONG me deixou um pouquinho frustrada, porque ele não mostra se aquela ONG fez alguma coisa que tivesse significado.

FOLHA - Havia uns óculos ali...
RUTH
- Tinha uma coisa, por exemplo, que me desagradou muito e que não é o comum das ONGs. Tinha a fotografia de um candidato. Para uma ONG poder trabalhar, não pode ter uma definição política tão clara. Então, é difícil. Mas deve ter um exemplo parecido. Existe tudo nesse mundo das ONGs.

FOLHA - A senhora já defendeu a discriminalização da maconha...
RUTH
- Essa discussão já nem adianta mais. Sou a favor da discriminalização, mas acho inviável. É melhor nos preocuparmos com a realidade que existe, o que a gente pode melhorar tal como está. Esse filme colabora para isso.

FOLHA - Acha o filme fascista?
RUTH
- Não. Ao contrário. Acho que coloca questões muito importantes em debate. Um filme corajoso e não vejo nada de fascista. Disseram que o capitão vira um herói. Bom, se aquilo é herói, francamente, não? O cara bate na mulher, o cara é um horror. Aparece como humano. Graças a Deus, porque senão seria uma caricatura.

FOLHA - A senhora disse há pouco que houve melhoria no país...
RUTH
- Não. Falei, assim, em geral, que houve avanço? Estava pensando no SUS, que, apesar dos seus defeitos, tem caminhado e os resultados estatísticos me mostram que melhorou. O Brasil melhorou. Isso que eu quis dizer, não necessariamente que programas estão melhores ou estão piores, inclusive, porque a gente não tem nem muita medida. Agora, houve um retrocesso na concepção dos programas, que ficaram muito mais estatistas.

FOLHA - O que a senhora achou da unificação dos programas?
RUTH
- Não é uma novidade. Teríamos que chegar nisso. Foi um pouco prematuro. Os cadastros não estavam suficientemente avaliados. Juntou tudo, o que criou maiores problemas para administração. Juntou tudo e ampliou muito o programa. O mais grave é que diminuíram as condições para receber as bolsas. Outro defeito sério: não tem limite, não tem uma meta para chegar.

FOLHA - O aporte maior de recursos para o Bolsa Família virou instrumento de comparação do governo Lula com o de FHC. O PSDB tinha vergonha de lançar mão de um programa de transferência de renda?
RUTH
- Pois é. Não prestaram atenção. Era a semente de uma coisa feita de maneira diferente. Tanto que servimos de exemplo para outros países onde estão muito bem planejados.

FOLHA - Não prestaram atenção quando a senhora defendia mais recursos?
RUTH
- A gente não achava que tinha que ter mais recursos. Esse negócio de distribuição de renda que vale pela quantidade é muito complicado. Você não pode fazer programa com inúmeras famílias.

FOLHA - O PSDB perdeu a bandeira desses programas?
RUTH
- Espero que não. Porque esse programa de bolsas começou em Campinas com o prefeito Grama, José Roberto Magalhães. Depois, foi para o Distrito Federal com o Cristovam (Buarque). Nesse trajeto, acho que a bandeira é do PSDB.

FOLHA - Há uma deficiência do PSDB?
RUTH
- O PSDB tem dificuldade em geral de se comunicar bem. Não é o forte do partido.

FOLHA - Sobre privatizações, o que a senhora achou da campanha do partido?
RUTH
- O PSDB não quis assumir a bandeira, e o resultado não foi bom.

FOLHA - Como vê a relação de José Serra com o meio acadêmico?
RUTH
- Teve um triste começo, complicado, desnecessariamente agressivo, mas acho que o Serra está conseguindo recompor essa relação.


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