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Antropóloga elogia "Tropa de Elite" e critica pirataria
Ruth diz que país melhorou e não opina sobre Serra
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora elogie "Tropa de Elite", a ex-primeira-dama não
gostou da ONG retratada no filme, sobretudo da foto do político na parede. Para Ruth Cardoso, o país melhorou, apesar de
um retrocesso nos programas
sociais. Ela não quis opinar sobre o governo Serra.
(CS)
FOLHA - Viu "Tropa de Elite?"
RUTH - Vi.
FOLHA - No cinema ou na...
RUTH - Não, vi no cinema e briguei com todo mundo que viu
na cópia pirata. Você viu na cópia pirata?
FOLHA - No cinema. Há uma ONG
no filme. E a imagem não é boa.
RUTH - Esse filme tem uma
grande virtude: colocar essa
discussão do consumidor e da
alimentação do sistema da droga. E essa é uma discussão muito difícil no Brasil. Nunca se pode falar disso, porque é uma limitação da liberdade. O modo
pelo qual ele colocou a ONG me
deixou um pouquinho frustrada, porque ele não mostra se
aquela ONG fez alguma coisa
que tivesse significado.
FOLHA - Havia uns óculos ali...
RUTH - Tinha uma coisa, por
exemplo, que me desagradou
muito e que não é o comum das
ONGs. Tinha a fotografia de um
candidato. Para uma ONG poder trabalhar, não pode ter uma
definição política tão clara. Então, é difícil. Mas deve ter um
exemplo parecido. Existe tudo
nesse mundo das ONGs.
FOLHA - A senhora já defendeu a
discriminalização da maconha...
RUTH - Essa discussão já nem
adianta mais. Sou a favor da
discriminalização, mas acho inviável. É melhor nos preocuparmos com a realidade que
existe, o que a gente pode melhorar tal como está. Esse filme
colabora para isso.
FOLHA - Acha o filme fascista?
RUTH - Não. Ao contrário. Acho
que coloca questões muito importantes em debate. Um filme
corajoso e não vejo nada de fascista. Disseram que o capitão
vira um herói. Bom, se aquilo é
herói, francamente, não? O cara bate na mulher, o cara é um
horror. Aparece como humano.
Graças a Deus, porque senão
seria uma caricatura.
FOLHA - A senhora disse há pouco
que houve melhoria no país...
RUTH - Não. Falei, assim, em
geral, que houve avanço? Estava pensando no SUS, que, apesar dos seus defeitos, tem caminhado e os resultados estatísticos me mostram que melhorou.
O Brasil melhorou. Isso que eu
quis dizer, não necessariamente que programas estão melhores ou estão piores, inclusive,
porque a gente não tem nem
muita medida. Agora, houve
um retrocesso na concepção
dos programas, que ficaram
muito mais estatistas.
FOLHA - O que a senhora achou da
unificação dos programas?
RUTH - Não é uma novidade.
Teríamos que chegar nisso. Foi
um pouco prematuro. Os cadastros não estavam suficientemente avaliados. Juntou tudo, o que criou maiores problemas para administração. Juntou tudo e ampliou muito o
programa. O mais grave é que
diminuíram as condições para
receber as bolsas. Outro defeito
sério: não tem limite, não tem
uma meta para chegar.
FOLHA - O aporte maior de recursos para o Bolsa Família virou instrumento de comparação do governo Lula com o de FHC. O PSDB tinha vergonha de lançar mão de um programa de transferência de renda?
RUTH - Pois é. Não prestaram
atenção. Era a semente de uma
coisa feita de maneira diferente. Tanto que servimos de
exemplo para outros países onde estão muito bem planejados.
FOLHA - Não prestaram atenção
quando a senhora defendia mais recursos?
RUTH - A gente não achava que
tinha que ter mais recursos. Esse negócio de distribuição de
renda que vale pela quantidade
é muito complicado. Você não
pode fazer programa com inúmeras famílias.
FOLHA - O PSDB perdeu a bandeira
desses programas?
RUTH - Espero que não. Porque esse programa de bolsas
começou em Campinas com o
prefeito Grama, José Roberto
Magalhães. Depois, foi para o
Distrito Federal com o Cristovam (Buarque). Nesse trajeto,
acho que a bandeira é do PSDB.
FOLHA - Há uma deficiência do
PSDB?
RUTH - O PSDB tem dificuldade em geral de se comunicar
bem. Não é o forte do partido.
FOLHA - Sobre privatizações, o que
a senhora achou da campanha do
partido?
RUTH - O PSDB não quis assumir a bandeira, e o resultado
não foi bom.
FOLHA - Como vê a relação de José
Serra com o meio acadêmico?
RUTH - Teve um triste começo,
complicado, desnecessariamente agressivo, mas acho que
o Serra está conseguindo recompor essa relação.
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