São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2004

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PERSONALIDADE

Um dos maiores intelectuais do país e criador da Sudene, morreu em casa no Rio; Lula decreta luto oficial de três dias

Economista Celso Furtado morre aos 84

DA SUCURSAL DO RIO

Decano dos economistas brasileiros, Celso Furtado morreu na manhã de ontem aos 84 anos, em sua casa, em Copacabana. Autor do clássico "Formação Econômica do Brasil" (1959), ele fundou a Sudene (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste) na década de 50, foi ministro do Planejamento no governo João Goulart (1961-1964) e ministro da Cultura no governo José Sarney (1985-1990).
Até as 15h de ontem, sua viúva, a jornalista Rosa Freire D'Aguiar, não havia informado o momento exato nem a causa imediata da morte de Furtado. Mas o seu falecimento já era conhecido e lamentado por amigos de longa data, como o ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) Carlos Lessa e a economista Maria da Conceição Tavares.
O corpo de Furtado será velado na ABL (Academia Brasileira de Letras), para a qual ele foi eleito em agosto de 1997.
O presidente da ABL, Ivan Junqueira, ainda tentava no meio da tarde falar com Rosa D'Aguiar para preparar o velório e o enterro de Furtado.
Nos últimos meses, o economista pouco falou em público. Sua saúde estava abalada pela doença de Parkinson e por um câncer ósseo, segundo Junqueira.
Seu último gesto político foi a assinatura do manifesto que defendia a permanência na presidência do BNDES de Lessa, seu discípulo, indicado para o cargo por ele e por Maria da Conceição Tavares.

Desilusão
Com quem conversava, Celso Furtado não escondia a desilusão com os rumos da política econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, cuja eleição apoiou. Numa curta conversa por telefone com a Folha, há quatro meses, ele lamentou a falta de novas idéias para o desenvolvimento autônomo brasileiro.
Em maio passado, por causa da saúde abalada, Furtado não participou de um seminário em sua homenagem promovido pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Numa mensagem lida por seu filho, André, ele criticou o corte "desmedido" de investimentos públicos do governo com o objetivo de cumprir as metas de superávit fiscal, "impostas por beneficiários de altas taxas de juros". Disse que isso escapava "de qualquer racionalidade".
Na mensagem, Furtado avaliou que, no Brasil, "não houve correspondência entre crescimento econômico e desenvolvimento" - para o primeiro se converter no segundo, disse, é preciso que seja "fruto da realização de um projeto, expressão de uma mensagem política".
Celso Furtado nasceu em 26 de julho de 1920, em Pombal, na Paraíba. Bacharel em Direito pela UFRJ e doutor em economia pela Universidade de Paris (Sorbonne), ele participou da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial.
De 1944 a 1945, foi técnico de administração do governo de Getúlio Vargas. No fim dos anos 40, participou da fundação da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), onde contribuiu, ao lado do economista argentino Raúl Prebish, para um novo enfoque sobre as causas do subdesenvolvimento da América Latina.

Exílio
Com o golpe militar de 1964, teve seus direitos políticos cassados por dez anos. No exílio, foi professor das universidades Yale (EUA), Sorbonne (França), Cambridge (Reino Unido) e Columbia (EUA).
Com a redemocratização, foi embaixador do Brasil na Comunidade Econômica Européia, antes de assumir a pasta da Cultura no governo Sarney.
Celso Furtado publicou mais de 30 livros. O último deles, "Em Busca de um Novo Modelo", foi publicado em 2002.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou luto oficial de três dias a partir de ontem.


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