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PERSONALIDADE
Um dos maiores intelectuais do país e criador da Sudene, morreu em casa no Rio; Lula decreta luto oficial de três dias
Economista Celso Furtado morre aos 84
DA SUCURSAL DO RIO
Decano dos economistas brasileiros, Celso Furtado morreu na
manhã de ontem aos 84 anos, em
sua casa, em Copacabana. Autor
do clássico "Formação Econômica do Brasil" (1959), ele fundou a
Sudene (Superintendência para o
Desenvolvimento do Nordeste)
na década de 50, foi ministro do
Planejamento no governo João
Goulart (1961-1964) e ministro da
Cultura no governo José Sarney
(1985-1990).
Até as 15h de ontem, sua viúva, a
jornalista Rosa Freire D'Aguiar,
não havia informado o momento
exato nem a causa imediata da
morte de Furtado. Mas o seu falecimento já era conhecido e lamentado por amigos de longa data, como o ex-presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) Carlos Lessa e a economista
Maria da Conceição Tavares.
O corpo de Furtado será velado
na ABL (Academia Brasileira de
Letras), para a qual ele foi eleito
em agosto de 1997.
O presidente da ABL, Ivan Junqueira, ainda tentava no meio da
tarde falar com Rosa D'Aguiar para preparar o velório e o enterro
de Furtado.
Nos últimos meses, o economista pouco falou em público.
Sua saúde estava abalada pela
doença de Parkinson e por um
câncer ósseo, segundo Junqueira.
Seu último gesto político foi a
assinatura do manifesto que defendia a permanência na presidência do BNDES de Lessa, seu
discípulo, indicado para o cargo
por ele e por Maria da Conceição
Tavares.
Desilusão
Com quem conversava, Celso
Furtado não escondia a desilusão
com os rumos da política econômica do governo de Luiz Inácio
Lula da Silva, cuja eleição apoiou.
Numa curta conversa por telefone
com a Folha, há quatro meses, ele
lamentou a falta de novas idéias
para o desenvolvimento autônomo brasileiro.
Em maio passado, por causa da
saúde abalada, Furtado não participou de um seminário em sua
homenagem promovido pela
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro).
Numa mensagem lida por seu
filho, André, ele criticou o corte
"desmedido" de investimentos
públicos do governo com o objetivo de cumprir as metas de superávit fiscal, "impostas por beneficiários de altas taxas de juros".
Disse que isso escapava "de qualquer racionalidade".
Na mensagem, Furtado avaliou
que, no Brasil, "não houve correspondência entre crescimento econômico e desenvolvimento" -
para o primeiro se converter no
segundo, disse, é preciso que seja
"fruto da realização de um projeto, expressão de uma mensagem
política".
Celso Furtado nasceu em 26 de
julho de 1920, em Pombal, na Paraíba. Bacharel em Direito pela
UFRJ e doutor em economia pela
Universidade de Paris (Sorbonne), ele participou da Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial.
De 1944 a 1945, foi técnico de administração do governo de Getúlio Vargas. No fim dos anos 40,
participou da fundação da Cepal
(Comissão Econômica para a
América Latina), onde contribuiu, ao lado do economista argentino Raúl Prebish, para um
novo enfoque sobre as causas do
subdesenvolvimento da América
Latina.
Exílio
Com o golpe militar de 1964, teve seus direitos políticos cassados
por dez anos. No exílio, foi professor das universidades Yale (EUA),
Sorbonne (França), Cambridge
(Reino Unido) e Columbia
(EUA).
Com a redemocratização, foi
embaixador do Brasil na Comunidade Econômica Européia, antes de assumir a pasta da Cultura
no governo Sarney.
Celso Furtado publicou mais de
30 livros. O último deles, "Em
Busca de um Novo Modelo", foi
publicado em 2002.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva decretou luto oficial de três
dias a partir de ontem.
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