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Embate com a PF expõe crise sobre a função da Abin
Desconfiança sobre atuação da agência na Satiagraha se soma a críticas por ela não ter previsto caos aéreo e ataques do PCC
Culpa nem sempre é da Abin, mas da burocracia; o GSI, órgão que a controla, foi acusado de não encaminhar a Lula relatórios estratégicos
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A ação de busca e apreensão
da Polícia Federal em instalações da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), há duas semanas, expôs a dificuldade do
serviço de informação em garantir a ordem em seu próprio
quintal. O risco de vazamento
de informações estratégicas,
segredos de Estado e até da
identidade de agentes -dados
contidos em computadores
confiscados- preocupa funcionários da agência e integrantes
da comunidade de informações. A impressão geral, colhida
pela Folha em consultas informais e fóruns de debates na internet, é a de que a Abin e o GSI
(Gabinete de Segurança Institucional), órgão que a controla,
dispõem de pouca confiança
dentro do governo Lula.
As queixas do general Jorge
Felix (GSI) ao ministro Tarso
Genro (Justiça) na carta obtida
pela Folha ajudaram a corroborar a versão. A desconfiança
no trabalho da Abin não se resume à Operação Satiagraha,
mas à percepção de seguidas
falhas na missão de identificar
ameças internas e externas. A
agência não teria conseguido,
por exemplo, prever o caos na
aviação, entre 2006 e 2007.
Agentes relatam que o serviço de informação da Força Aérea sabia da saturação da malha
aeroviária e do movimento sindical dos controladores de vôo.
Mas as informações não foram
repassadas para a Abin ou para
o Gabinete de Segurança Institucional. A inteligência de Estado, que dispõe de 1.700 funcionários, também não conseguiu se antecipar a episódios
menores, como a invasão do
Congresso Nacional pelo
MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), em 2006.
Falhou ainda na ocupação da
usina de Tucuruí (PA) e em invasões a campos de pesquisa
agropecuária, como da Embrapa, por movimentos sociais.
Tampouco previu a onda de
ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo, em maio de 2006. A informação chegou primeiro à PF a
partir da escuta de uma chamada de um detento em Recife,
mas não foi processada em
tempo hábil.
A culpa nem sempre é da
Abin, mas da burocracia. O
próprio GSI foi acusado por
arapongas de não encaminhar
a Lula relatórios estratégicos
sobre a corrupção nos Correios. Felix alegou a necessidade de filtrar os dados.
Há casos em que Abin e GSI
não podem ser responsabilizados pela inação do governo, como na ocupação militar da refinaria da Petrobras na Bolívia.
Embora avisado com antecedência do risco, o Planalto não
tomou medidas preventivas.
Além da dificuldade em assessorar o presidente da República, a Abin também sofre para controlar a atividade de inteligência no país -outra de suas
atribuições fundamentais. Empresas de inteligência e arapongas particulares agem livremente, como no caso Kroll,
que envolve Daniel Dantas,
atual pivô da Satiagraha.
A nomeação do delegado
Paulo Lacerda para a direção
da Abin, há um ano, precipitou
uma crise estrutural, aprofundada agora pelos efeitos da
Operação Satiagraha. Lacerda
assumiu o órgão com a tarefa
de reformulá-lo, mas virou suspeito de usá-lo indevidamente.
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