São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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Embate com a PF expõe crise sobre a função da Abin

Desconfiança sobre atuação da agência na Satiagraha se soma a críticas por ela não ter previsto caos aéreo e ataques do PCC

Culpa nem sempre é da Abin, mas da burocracia; o GSI, órgão que a controla, foi acusado de não encaminhar a Lula relatórios estratégicos

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A ação de busca e apreensão da Polícia Federal em instalações da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), há duas semanas, expôs a dificuldade do serviço de informação em garantir a ordem em seu próprio quintal. O risco de vazamento de informações estratégicas, segredos de Estado e até da identidade de agentes -dados contidos em computadores confiscados- preocupa funcionários da agência e integrantes da comunidade de informações. A impressão geral, colhida pela Folha em consultas informais e fóruns de debates na internet, é a de que a Abin e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), órgão que a controla, dispõem de pouca confiança dentro do governo Lula.
As queixas do general Jorge Felix (GSI) ao ministro Tarso Genro (Justiça) na carta obtida pela Folha ajudaram a corroborar a versão. A desconfiança no trabalho da Abin não se resume à Operação Satiagraha, mas à percepção de seguidas falhas na missão de identificar ameças internas e externas. A agência não teria conseguido, por exemplo, prever o caos na aviação, entre 2006 e 2007.
Agentes relatam que o serviço de informação da Força Aérea sabia da saturação da malha aeroviária e do movimento sindical dos controladores de vôo. Mas as informações não foram repassadas para a Abin ou para o Gabinete de Segurança Institucional. A inteligência de Estado, que dispõe de 1.700 funcionários, também não conseguiu se antecipar a episódios menores, como a invasão do Congresso Nacional pelo MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), em 2006. Falhou ainda na ocupação da usina de Tucuruí (PA) e em invasões a campos de pesquisa agropecuária, como da Embrapa, por movimentos sociais.
Tampouco previu a onda de ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo, em maio de 2006. A informação chegou primeiro à PF a partir da escuta de uma chamada de um detento em Recife, mas não foi processada em tempo hábil.
A culpa nem sempre é da Abin, mas da burocracia. O próprio GSI foi acusado por arapongas de não encaminhar a Lula relatórios estratégicos sobre a corrupção nos Correios. Felix alegou a necessidade de filtrar os dados.
Há casos em que Abin e GSI não podem ser responsabilizados pela inação do governo, como na ocupação militar da refinaria da Petrobras na Bolívia. Embora avisado com antecedência do risco, o Planalto não tomou medidas preventivas.
Além da dificuldade em assessorar o presidente da República, a Abin também sofre para controlar a atividade de inteligência no país -outra de suas atribuições fundamentais. Empresas de inteligência e arapongas particulares agem livremente, como no caso Kroll, que envolve Daniel Dantas, atual pivô da Satiagraha.
A nomeação do delegado Paulo Lacerda para a direção da Abin, há um ano, precipitou uma crise estrutural, aprofundada agora pelos efeitos da Operação Satiagraha. Lacerda assumiu o órgão com a tarefa de reformulá-lo, mas virou suspeito de usá-lo indevidamente.


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