XICO SÁ
da Reportagem Local

Emocionado pela execução da "Quinta Sinfonia" de Beethoven e com o apoio de setores da Igreja Universal do Reino de Deus, o cardiologista Enéas Carneiro (Prona) lançou ontem, em São Paulo, a sua candidatura à Presidência.
Teve direito a meia hora de discurso -ao contrário do curto espaço que sempre ocupou nos programas de horário eleitoral- e foi aplaudido por um público que demonstrou fanatismo semelhante ao de uma torcida organizada.
Terceiro colocado na eleição de 1994, deixando para trás figuras da política tradicional, como Orestes Quércia (PMDB) e Leonel Brizola (PDT), Enéas e os seus seguidores revelaram ontem o que será a campanha do Partido da Renovação e da Ordem Nacional.
O discurso nacionalista de Enéas incorporou a pregação enérgica dos pastores da Universal e adotou a globalização como o "novo grande mal" da humanidade.
"O Prona não está interessado em roubo de galinha, mas sim nas grandes questões", disse o candidato, aos gritos, andando de um lado para o outro no palco do Teatro Imprensa, na Bela Vista (região central de São Paulo).
Embora tivesse tempo livre para falar, Enéas continua pronunciando de três a quatro palavras por segundo nos seus discursos. O cálculo é da própria direção do Prona.
No lançamento da candidatura, foi apresentado pelo deputado federal e pastor da Igreja Universal De Velasco, que representa o partido do Congresso.
O parlamentar, segundo apurou a Folha, já negociou o apoio de parte da cúpula da igreja para a candidatura de Enéas.
Não deve ocorrer, no entanto, anúncio oficial em nome da direção da Universal, que deseja ter boa relação com outros partidos definidos como conservadores.

Espermatozóides
No meio do seu discurso apocalíptico, Enéas comparou a sua vitória à corrida dos espermatozóides para gerar uma vida.
"Desde esse momento, quando um espermatozóide, entre milhões, encontra o ovócito de segunda ordem, podemos nos considerar vitoriosos", disse.
E explicou: "Ovócito de segunda ordem é o que a imprensa ignorante chama de óvulo".
No final do discurso, a organização do ato político pôs para tocar outra vez a "Quinta Sinfonia".
"Eles querem mesmo é me matar do coração", confessou o inquieto Enéas aos cabos eleitorais que o cercavam.



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