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GLOBALIZAÇÃO
Dirigente da organização afirma, porém, que o "modelo político" aplicado no Brasil não serve para a França
PT francês busca inspiração no brasileiro
Mauricio Lima - 21.jan.2003/AFP
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O ativista francês José Bové posa para uma foto após desembarcar no aeroporto de Porto Alegre |
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Partido dos Trabalhadores não
é apenas o nome de uma organização brasileira. Na França também existe um PT, o Parti des Travailleurs, uma organização de linhagem trotskista que concorreu
às eleições presidenciais de 2002.
O PT francês é mais um elemento que faz confluir as linhas de força da política brasileira com a
francesa. Anteontem, o jornal "Le
Monde" debateu com destaque a
hipótese levantada por socialistas
de que a "união de esquerdas" alcançada por Lula deveria ser um
modelo para a esquerda francesa.
O dirigente do PT francês, Daniel Gluckstein, que concorreu à
Presidência, discorda que se possa aplicar o "modelo brasileiro"
em seu país, mas diz que a França
precisa de um forte partido operário tal como o PT de Lula.
Folha - O que a esquerda brasileira alcançou, com Lula, é um modelo para a esquerda da França?
Daniel Gluckstein - Não creio que
seja um modelo. A maioria do povo brasileiro buscou uma solução
aos problemas enormes que o
Brasil enfrenta dando os meios de
governar a Lula e ao PT. Trata-se
de uma resposta dos trabalhadores brasileiros, que buscaram depois de 20 anos construir um partido que fosse seu. Isso corresponde à história particular do Brasil.
A história da França é diferente.
Folha - Por que socialistas como
Jean-Christophe Cambadélis pensam que a união das esquerdas no
Brasil é um modelo para a França?
Gluckstein - Jean-Christophe
Cambadélis tem uma maneira
própria de reescrever a história da
esquerda em nosso país. O que eu
constato é que no Brasil os trabalhadores construíram um partido, o PT, e uma central sindical, a
CUT, para fazer deles um instrumento da luta de classes. O partido a que pertence Cambadélis,
quando estava no governo, não
buscou defender as organizações
construídas pelos trabalhadores,
e esse mesmo governo aplicou diretivas européias de privatização
e do FMI, de privatização e de desregulamentação dos direitos operários, buscando integrar em si
mesmo as organizações sindicais.
Folha - A esquerda francesa precisa se unificar para vencer?
Gluckstein - A classe operária
tem necessidade de realizar sua
unidade com suas organizações
para defender seus direitos e garantias. "A união da esquerda" ou
a "esquerda plural" são categorias
muito diferentes da unidade da
classe operária. É preciso lembrar
que foi o governo Jospin, da esquerda plural, que começou as
grandes privatizações de ferrovias, da eletricidade, da telefonia e
dos hospitais. Ele pagou por isso
em 21 de abril. Ninguém pode desejar ao governo Lula a mesma
sorte. Se você me perguntar se sou
a favor da construção de um grande partido dos trabalhadores, como o PT brasileiro, quando ele foi
criado, sobre o terreno da luta de
classes, eu diria que estou de acordo. Nós pensamos que um partido assim é necessário na França e
é para avançar nessa direção que
nós formamos aqui o PT.
Folha - Quais as diferenças entre
o PT francês e o brasileiro?
Gluckstein - O PT brasileiro foi
constituído com a ruptura de
uma camada de sindicalistas e militantes com o bipartidarismo da
ditadura militar. Ele foi construído a partir de uma onda de mobilização profunda da classe operária brasileira. O PT francês foi
constituído pela confluência de
diferentes correntes do movimento operário, depois da reunião do PC e do PS no poder, à
Europa de Maastricht e sua política de austeridade. O que há de comum aos dois partidos, na fundação ao menos, é a vontade de
construir um partido sem patrões, exclusivamente voltado aos
interesses da classe operária. Temos em comum também a idéia
de que possa haver num tal partido diferentes correntes de pensamento do movimento operário.
Folha - Os partidos tem o mesmo
nome por acaso?
Gluckstein - Não. Nós saudamos
a criação do PT no Brasil como
um passo adiante da classe operária brasileira. A escolha do nome
PT não é fruto de simples acaso.
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