São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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Cachoeira é o vencedor, diz Abrabin

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Abrabin (Associação Brasileira dos Bingos), Olavo Sales da Silveira, disse ontem que a medida provisória que proibiu o funcionamento dos bingos fez do empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o "grande vencedor da guerra que acontece no país pelo mercado lotérico".
Segundo Silveira, a fita em que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz aparece negociando com Ramos foi divulgada estrategicamente pelo empresário na semana em que o Congresso debateria a lei dos bingos e loterias.
Nessa gravação, o ex-assessor da Presidência Waldomiro Diniz exige dinheiro do empresário do bingo. "Diniz era refém de Cachoeira e acabou detonado por não concordar com os interesses dele." Um dos pontos defendidos por Cachoeira é a transformação de videobingos em videoloterias.
Para Silveira, o bingo é o bode expiatório da atual crise política "pela dificuldade de diferenciá-lo de jogo do bicho e da guerra mundial pelo mercado de loterias".
É nessa disputa internacional que o presidente da Abrabin insere Cachoeira. Ele diz que o empresário do bingo representa uma empresa sul-coreana concorrente da GTech, que processa os jogos da Caixa Econômica Federal.
Silveira sustenta que, com a proibição dos bingos, haverá uma natural migração de público para o mercado de loterias, favorecendo Cachoeira e seus parceiros.
O presidente da Abrabin envolveu-se no caso ao ser citado em depoimento ao Ministério Público como intermediário entre o ex-assessor e os irmãos Ortiz, supostos representantes da máfia espanhola no Brasil. Ele nega a relação -diz ter encontrado Waldomiro apenas "três ou quatro vezes".
Silveira comentou que as casas de bingos já planejam medidas para barrar os efeitos da MP. A Abrabin deve atuar em duas frentes: no Congresso e no Judiciário. "Usaremos todos os meios jurídicos possíveis para defender o interesse de nossas empresas e dos trabalhadores." Ele não descartou a estratégia adotada pelas casas de bingo em 1999, quando as autorizações de funcionamento foram obtidas com liminares.
Quanto à atuação junto ao Legislativo, Silveira foi categórico: "Temos certeza de que o Congresso Nacional jamais permitirá que essa situação [a proibição de funcionamento dos bingo] perdure por um prazo superior a 30 dias".

Bom relacioamento
O empresário comentou que a Abrabin tem um bom relacionamento com parlamentares do PT. "Há quatro anos deputados petistas abraçaram a defesa da regulamentação dos bingos", disse. Ele é contra a CPI do Bingo arquitetada pela oposição. "Só serviria para atacar o governo, financiadores de campanha e o Waldomiro, além de fragilizar o governo."
Mesmo descartando demissões nos próximos 30 dias, Silveira chorou ao ser questionado sobre possíveis cortes nas empresas.
"Os bingos são um negócio pequeno, que empregam mais de 320 mil pessoas com salários entre R$ 500 e R$ 2.000. Geramos mais empregos que a indústria automobilística, sem receber um centavo de incentivo fiscal", disse, comparando o dia de anteontem ao 11 de setembro de 2001 -data dos ataques terroristas aos EUA.
Sobre a decisão de fechar as casas de bingo anteontem, Silveira disse ter orientado as empresas a procederem dessa forma. "Não queríamos correr o risco de constranger a clientela com a entrada da Polícia Federal nos bingos."


Colaborou FABIO SCHIVARTCHE, do Painel


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