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TERRA SEM LEI
Suposto mandante no caso Dorothy é alvo do Ibama, da PF e do Trabalho
Fazendeiro acumula multas e autuação por trabalho escravo
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O fazendeiro Vitalmiro Bastos
de Moura, o Bida, suspeito de ter
ordenado o crime contra a missionária Dorothy Stang, 73, teve
prejuízos financeiros em 2004 e
virou alvo do Ibama e da Polícia
Federal por causa das denúncias
feitas pela freira no ano passado.
Também em 2004, o fazendeiro,
que está foragido, foi autuado por
manter 13 trabalhadores rurais
em condição análoga à de escravos em sua propriedade, a Fazenda Ouro Verde, em Anapu (PA).
Relatório do Ibama com o Ministério Público Federal mostra
que Moura foi multado duas vezes e teve 33 motosserras apreendidas, estimadas em R$ 55,8 mil.
Já outro documento obtido pela
Folha, uma cópia do relatório do
Ministério do Trabalho sobre a
fiscalização havida na fazenda de
Moura, mostra que uma força tarefa, formada por nove policiais
federais, dois fiscais do Ibama e
quatro fiscais do Trabalho entrou
na propriedade em junho passado e resgatou 20 pessoas de lá.
Multas
Moura foi autuado por "destruir e desmatar a corte raso mil
hectares de área de preservação
permanente" no lote 55 do PDS
(Projeto de Desenvolvimento
Sustentável) do Incra em Anapu.
A operação do Ibama foi cumprida a partir das denúncias de
Dorothy feitas por escrito ao procurador da República no Pará Felício Pontes Júnior. O procurador
abriu um procedimento administrativo para cobrar ação das autoridades federais e requisitar relatórios de serviço.
Também cobrada pelo Ministério Público, a PF pediu a prisão
temporária de Moura no ano passado, sob acusação de crimes ambientais e prática de trabalho escravo, mas a Justiça Federal de
Marabá (PA) não acolheu o pedido. O juiz do caso, Francisco de
Assis Garcês Castro Júnior, disse
que agiu dentro da lei.
Trabalho Escravo
O relatório do Ministério do
Trabalho definiu a situação em
que os trabalhadores foram encontrados como de trabalho degradante e forçado descrita no artigo 140 do Código Penal, que, segundo o Ministério Público do
Trabalho, significa condição análoga ao trabalho escravo.
Moura não foi processado porque fez acordo judicial e pagou a
indenização trabalhista.
No processo, chama a atenção o
depoimento dado por ele à PF, em
que admite não possuir documentação comprovando a propriedade das terras, o que pode
indicar se tratar de terras griladas.
Segundo a fiscalização do Ministério do Trabalho, das 20 pessoas resgatadas, 13 eram trabalhadores rurais recrutados por intermediários em outros municípios.
O restante eram familiares.
O relatório diz que eles foram
encontrados em condições precárias, alojados em barracas de palha e plástico preto, sem paredes.
A alimentação foi descrita como
escassa. Não havia água potável.
Os trabalhadores disseram que
tinham sido contratados, a R$ 15
por dia, e que as ferramentas
eram descontadas das diárias.
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