São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 1998

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GOLPE

Guerrilheiro falso mente e consegue R$ 1.000

da Sucursal de Brasília

Para ajudar supostos ex-guerrilheiros colombianos ilegalmente no Brasil, as representações da ONU e da Cruz Vermelha, a Embaixada da Espanha, entidades ligadas à Igreja e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados armaram, no mês passado, uma discreta operação para conseguir asilo político ao grupo.
Mas tudo não passou de um golpe de cerca de R$ 1.000 aplicado não por um grupo, mas por somente uma pessoa, latina-americana, de identidade até agora desconhecida.
"Foi malandragem, aproveitaram da nossa boa-fé", conta o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Pedro Wilson (PT-GO), uma das vítimas.
Às vezes, se apresentando como Manuel, outras como José ou Walter, mas sempre falando em espanhol, o golpista se dizia porta-voz de um grupo de 15 ex-guerrilheiros colombianos.
Eles teriam deserdado da Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) depois de 15 anos de trabalhos prestados à guerrilha de orientação comunista que atua na Colômbia desde a década de 60, responsável por sequestros, extorsão e sociedade com o narcotráfico local.
Mancando, o falso ex-guerrilheiro dizia que, entre eles, havia mulheres e homens feridos à bala. Teriam entrado no Brasil ilegalmente e estariam fugindo para não serem deportados para a Colômbia, onde eram perseguidos pelo governo e pela Farc.
Com essa história, o tal porta-voz dos ex-guerrilheiros conseguiu dinheiro para viajar de Mato Grosso a Goiás e depois para Brasília.
A PM goiana soube da história, investigou, mas não conseguiu prender ninguém.
Pelo trajeto, o "ex-guerrilheiro" foi deixando uma lista de vítimas, que davam R$ 20, R$ 40 ou R$ 100. Além do deputado Pedro Wilson -que ajudou o "grupo" a viajar para Brasília-, também caíram no conto vários religiosos de Goiás.
Na capital federal, o golpista foi encaminhado à Embaixada da Espanha, ao comitê de refugiados da ONU (Organização das Nações Unidas) e à Cruz Vermelha Internacional. O caso chegou a ser discutido na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Sumiu
Depois de muitos telefonemas trocados entre Brasil, Espanha, Colômbia e Estados Unidos, chegou-se a uma conclusão: havia uma possibilidade real de a Espanha dar asilo político para os ex-guerrilheiros, mas eles deveriam se entregar à Polícia Federal.
Final da história: o grupo nunca apareceu, porque simplesmente não existia. Mas seu "porta-voz" conseguiu tirar pelo menos R$ 1.000 (dinheiro para comida, transporte, remédios etc) dos envolvidos na articulação.
O falso guerrilheiro ainda foi visto nas proximidades da rodoviária de Brasília, dando golpes menos sofisticados. Depois, sumiu.
(LUCAS FIGUEIREDO)



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