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FOGO AMIGO
Presidente da Câmara afirma ainda que Fome Zero está mal gerenciado
Governo "bate cabeça" e deve "acertar passo", diz João Paulo
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Câmara dos
Deputados, João Paulo Cunha
(PT-SP), fez uma avaliação bastante crítica dos primeiros meses
da gestão Lula ontem, ao afirmar
que o governo "bate a cabeça" na
composição política no Congresso e demora a enviar as reformas
para o Legislativo. O deputado
disse ainda que o Fome Zero,
principal programa social do governo, está mal gerenciado.
"O governo precisa acertar o
passo. Eu acho que, do ponto de
vista político, precisa definir um
pouco mais as suas prioridades",
afirmou João Paulo, durante café
da manhã com empresários da
Apas (Associação Paulista de Supermercados), em São Paulo.
Na avaliação do petista, o governo "precisa constituir sua maioria
no Congresso". "Estamos batendo cabeça", afirmou o deputado,
que declarou que o governo está
"um pouco desorientado na condução política". Ao ser contestado se se referia ao ministro José
Dirceu (Casa Civil), responsável
pela articulação política do governo, João Paulo disse: "Não sei".
As declarações do presidente da
Câmara têm como objetivo evitar
que o Legislativo se torne o foco
das críticas à demora na condução das reformas tidas como prioritárias para o país.
As críticas de João Paulo enfocam ainda as tentativas do governo, desde o início do ano, de compor uma maioria no Congresso.
As negociações com o PMDB, por
exemplo, já duram meses.
Para João Paulo, o governo precisa enviar para o Congresso, com
a maior rapidez, as propostas de
reformas. "Eu, como presidente
da Casa, vou fazer a pauta e conduzir os debates, mas seria bom, e
evidentemente isso não é imperativo, que o governo apresentasse
as suas idéias", afirmou.
João Paulo conhece o presidente Luiz Inácio Lula da Silva há
mais de 20 anos. Foi líder do PT
na Câmara em 2002 e faz parte do
grupo ligado a José Dirceu.
Outro alvo
O Fome Zero, conduzido pelo
ministro José Graziano (Segurança Alimentar), também não escapou das críticas de João Paulo.
"O Fome Zero é um programa
bom, mas está sendo mal gerenciado. Precisamos tomar providências", disse o petista.
Segundo João Paulo, Graziano
não é o responsável por eventuais
erros na condução do programa.
Ele disse ser "natural" que o ministro não desse conta de conduzir o Fome Zero sozinho.
"O problema é que colocaram
nas costas dele uma carga muito
maior do que ele poderia suportar", afirmou João Paulo.
Na opinião do petista, o pontos
fracos do programa estão relacionados ao tamanho que o Fome
Zero tomou e sua consequente
operacionalização. "A dimensão
que o programa tomou não estava no script", declarou.
João Paulo começou a criticar o
governo ontem quando, durante
sua exposição, passou a tratar dos
erros e acertos da gestão petista.
"O governo não está indo bem
em várias coisas. Tem um portfólio de programas sociais em andamento, que ninguém sabe. Nem
aqui, muito menos no conjunto
da sociedade", afirmou.
Segundo o presidente da Câmara, não é só o Fome Zero que está
indo mal. "Há outros programas
sociais sobre os quais o governo
até agora não apresentou nada."
João Paulo destacou a transição
que foi feita pela equipe de Lula e
afirmou que a eleição do petista
foi uma das maiores demonstrações de ruptura com passado já
dadas pela sociedade brasileira.
Afirmou também que o governo "não vacilou" ao tomar medidas aparentemente impopulares,
como a alta de juros e o aumento
da meta de superávit fiscal.
Para os empresários, ao definir
a composição da Câmara, João
Paulo disse que "a maioria [dos
políticos] é gente conservadora
politicamente, mas gente boa". E
arrematou: "Sou a terceira autoridade do país", ao se referir à linha
de sucessão presidencial.
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