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São Paulo, sábado, 22 de março de 2003

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GOVERNO PETISTA

Matilde Ribeiro assume Políticas de Promoção da Igualdade Racial

Lula instala secretaria racial, mas não cita cotas

Bruno Stuckert/Folha Imagem
Lula recebe um pequeno chapéu afro de renda branca e um colar após evento em que Matilde Ribeiro (no destaque) assumiu secretaria


LEILA SUWWAN
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Numa cerimônia marcada pela informalidade e com direito a efeitos musicais de berimbau e atabaque, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalou ontem a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial sem citar o tema das cotas para negros no ensino superior público, uma promessa de campanha.
A nova secretária, Matilde Ribeiro, 42, disse ser pessoalmente favorável às cotas, mas que, como ministra, debaterá o assunto. Ela irá discutir os assunto em um conselho da sociedade, a ser criado. "O melhor exemplo que nós temos em relação à política de cotas e ação afirmativa é o modelo dos Estados Unidos. Com isso, eu não estou referendando a política dos EUA, estou dizendo que lá os negros conquistaram um maior nível de cidadania. O que for de bom lá, aproveitaremos", disse.
O ministro da Educação, Cristovam Buarque, por sua vez, admitiu que considera as cotas o caminho para mudar a "cor" da elite brasileira -que chamou de "quase escandinava"-, mas afirmou que é preciso iniciar um amplo debate.
Além do combate ao racismo e à discriminação, a única medida concreta citada por Lula foi a intensificação do relacionamento do Brasil com países africanos, inclusive com a abertura de novas embaixadas. A primeira a ser inaugurada deve ser em São Tomé e Príncipe, único país africano de língua portuguesa onde o Brasil não tem representação.
Lula também pretende viajar à África até o final do ano e tratou do assunto ontem pela manhã com o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores).
"Essa situação injusta e cruel [de discriminação" é produto da nossa história, da escravidão que durou quatro séculos no Brasil, deixando marcas profundas em nosso convívio social, mas também é resultado da ausência de políticas públicas voltadas para superá-las", disse Lula, que foi interrompido por aplausos e som de tambores diversas vezes.
Em discurso anterior do ex-deputado Abdias Nascimento, 89, um dos mais antigos líderes do movimento negro no Brasil, a implementação de cotas foi cobrada diretamente de Lula.
"Fico feliz porque alguém me assoprou que o ministro Buarque é a favor das cotas", disse Nascimento, em discurso no qual evocou Exu, deus da palavra e da comunicação no candomblé, e chamou a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque de "força descomunal para esmagar o povo".
O presidente pretende incluir a abolição do uso de elevadores separados "social" e "de serviço" no combate à discriminação. Para isso, contou uma história de 1992 quando ele e a então deputada Benedita da Silva, hoje ministra e presente ao evento, foram mandados para o elevador de serviço por um porteiro. "Chegamos, eu com uma camiseta surrada porque tinha andado o dia inteiro fazendo comício, e a Benedita, que não andava tão chique assim ainda. Eis que o porteiro [...] disse: "Pelo elevador de serviço". Ela, já deputada federal, e eu, naquele tempo, já pensava em ser presidente da República", relatou.
Foram homenageados na cerimônia Nascimento, Lélia Gonzaga, Florestan Fernandes e Milton Santos -o mais citado.


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