|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO PETISTA
Matilde Ribeiro assume Políticas de Promoção da Igualdade Racial
Lula instala secretaria racial, mas não cita cotas
Bruno Stuckert/Folha Imagem
|
Lula recebe um pequeno chapéu afro de renda branca e um colar após evento em que Matilde Ribeiro (no destaque) assumiu secretaria |
LEILA SUWWAN
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa cerimônia marcada pela
informalidade e com direito a
efeitos musicais de berimbau e
atabaque, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalou ontem a
Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial
sem citar o tema das cotas para
negros no ensino superior público, uma promessa de campanha.
A nova secretária, Matilde Ribeiro, 42, disse ser pessoalmente
favorável às cotas, mas que, como
ministra, debaterá o assunto. Ela
irá discutir os assunto em um
conselho da sociedade, a ser criado. "O melhor exemplo que nós
temos em relação à política de cotas e ação afirmativa é o modelo
dos Estados Unidos. Com isso, eu
não estou referendando a política
dos EUA, estou dizendo que lá os
negros conquistaram um maior
nível de cidadania. O que for de
bom lá, aproveitaremos", disse.
O ministro da Educação, Cristovam Buarque, por sua vez, admitiu que considera as cotas o caminho para mudar a "cor" da elite
brasileira -que chamou de
"quase escandinava"-, mas afirmou que é preciso iniciar um amplo debate.
Além do combate ao racismo e à
discriminação, a única medida
concreta citada por Lula foi a intensificação do relacionamento
do Brasil com países africanos, inclusive com a abertura de novas
embaixadas. A primeira a ser
inaugurada deve ser em São Tomé e Príncipe, único país africano
de língua portuguesa onde o Brasil não tem representação.
Lula também pretende viajar à
África até o final do ano e tratou
do assunto ontem pela manhã
com o ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores).
"Essa situação injusta e cruel
[de discriminação" é produto da
nossa história, da escravidão que
durou quatro séculos no Brasil,
deixando marcas profundas em
nosso convívio social, mas também é resultado da ausência de
políticas públicas voltadas para
superá-las", disse Lula, que foi interrompido por aplausos e som
de tambores diversas vezes.
Em discurso anterior do ex-deputado Abdias Nascimento, 89,
um dos mais antigos líderes do
movimento negro no Brasil, a implementação de cotas foi cobrada
diretamente de Lula.
"Fico feliz porque alguém me
assoprou que o ministro Buarque
é a favor das cotas", disse Nascimento, em discurso no qual evocou Exu, deus da palavra e da comunicação no candomblé, e chamou a guerra dos Estados Unidos
contra o Iraque de "força descomunal para esmagar o povo".
O presidente pretende incluir a
abolição do uso de elevadores separados "social" e "de serviço" no
combate à discriminação. Para isso, contou uma história de 1992
quando ele e a então deputada Benedita da Silva, hoje ministra e
presente ao evento, foram mandados para o elevador de serviço
por um porteiro. "Chegamos, eu
com uma camiseta surrada porque tinha andado o dia inteiro fazendo comício, e a Benedita, que
não andava tão chique assim ainda. Eis que o porteiro [...] disse:
"Pelo elevador de serviço". Ela, já
deputada federal, e eu, naquele
tempo, já pensava em ser presidente da República", relatou.
Foram homenageados na cerimônia Nascimento, Lélia Gonzaga, Florestan Fernandes e Milton
Santos -o mais citado.
Texto Anterior: Caso Jersey: MP vai investigar ex-acusador de Maluf Próximo Texto: Perfil: Doutora em serviço social fez parte da equipe de transição Índice
|