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Executivo decide bloquear R$ 1,2 bi dos outros Poderes
Governo corta de forma inédita verba do Legislativo, Judiciário e Ministério Público
Decisão, que tem potencial para criar atritos, visa garantir pagamento de
juros da dívida fixado pela política econômica
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa decisão com potencial
para criar uma crise entre os
Poderes, o governo federal
anunciou ontem que, pela primeira vez, bloqueará despesas
do Legislativo, do Judiciário e
do Ministério Público da União
sem levar em conta as proteções aplicadas em anos anteriores a esses recursos.
Com a medida, que o Executivo afirma ser mero cumprimento da lei, os demais Poderes perderam a autorização para gastar R$ 1,2 bilhão de um
orçamento total de R$ 5 bilhões, excluídas dessa conta as
despesas com pessoal e outras
de caráter obrigatório. O objetivo é garantir o pagamento mínimo de juros da dívida fixado
pela política econômica.
O bloqueio -ou contingenciamento, no jargão da tecnocracia- de 24,7% atingirá linearmente todos os órgãos do
Legislativo e do Judiciário classificados como unidades orçamentárias, caso, por exemplo,
da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal e do Supremo
Tribunal Federal (veja quadro
nesta página).
Ao anunciar a decisão, o próprio ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) avaliou que haverá transtornos sérios para alguns setores, em especial os
que dispõem de menos recursos e, portanto, menor margem
de manobra para remanejar
seus gastos.
Nessa lista estão a Justiça
Militar, cujo orçamento livre é
de apenas R$ 36 milhões, e, no
Legislativo, o Tribunal de Contas da União, com R$ 156 milhões. Mas, impasses administrativos à parte, a principal
preocupação do governo ontem era com a repercussão política e institucional do novo
contingenciamento.
O TCU é fonte freqüente de
más notícias para o Executivo,
com auditorias que revelam
práticas administrativas suspeitas.
"Sabemos que essa é uma
medida que pode parecer drástica, mas é o estrito cumprimento da lei", disse Bernardo.
Segundo o Planejamento, poupar os demais Poderes do contingenciamento significaria
crime de responsabilidade.
A Lei de Responsabilidade
Fiscal, de 2000, determina que,
nas revisões bimestrais do bloqueio de gastos promovido a
cada início de ano, deve ser feita uma divisão proporcional do
contingenciamento entre os
Poderes, conforme critérios a
serem definidos na LDO (Lei de
Diretrizes Orçamentárias).
A LDO praticamente livra o
Legislativo, o Judiciário e o Ministério Público de contribuir
para o esforço fiscal da União,
ao listar entre as despesas livres de contingenciamento
suas "atividades" -no jargão
orçamentário, a palavra designa quase todos os gastos não
obrigatórios.
Com base na proteção da
LDO, o bloqueio de gastos aplicado sobre os demais Poderes
não deveria passar de R$ 316
milhões, equivalentes a 6,2%
de seus orçamentos e a 1,9% do
contingenciamento total de R$
16,4 bilhões promovido pela
área econômica.
No entanto, argumenta o governo, a LDO prevê, desde
2002, que essa regra somente
se aplica quando a receita total
estimada para o ano for igual ou
superior à estimativa feita no
projeto de Orçamento elaborado pelo Executivo no ano anterior, o que sempre ocorreu
-até este ano.
Previsão
Atualmente, a projeção de
arrecadação total para o ano é
de R$ 598,6 bilhões, 0,8% inferior aos R$ 603,4 bilhões calculados no ano passado. A diferença ínfima torna ainda mais
delicada politicamente a medida do governo.
Há duas explicações oficiais
para a discrepância: a frustração das previsões para o crescimento econômico e a aprovação de medidas de alívio da carga tributária.
Daqui para a frente, o contingenciamento pode ser aliviado
a cada bimestre, mas os demais
Poderes só terão seus recursos
liberados na proporção de sua
contribuição para o esforço fiscal. Ou seja, se a estimativa de
arrecadação se elevar em R$ 1
bilhão, Legislativo, Judiciário e
Ministério Público, juntos, só
poderão elevar seus gastos em
R$ 76 milhões.
O Supremo informou que o
diretor-geral do órgão, Sérgio
Pedreira, irá se reunir hoje com
os presidentes dos tribunais superiores para avaliar o impacto
do contingenciamento. Até a
conclusão desta edição, o Legislativo não havia se pronunciado.
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