São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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JANIO DE FREITAS

Faz de conta(s)

Não é admissível que os oposicionistas sejam tão mal informados (ou esquecidos) sobre seu tempo de governo

OU É PURA FARSA, na qual Lula caiu de cabeça, ou os oposicionistas aderiram à autoflagelação, com sua aparente insistência em investigar, a pretexto do caos no transporte aéreo, as grandes obras que a Infraero realiza em aeroportos pelo país todo. Entre as obras iniciadas ou continuadas no governo Lula, várias das licitações, que são o momento primordial da corrupção, e muitas das "correções" de custo foram de responsabilidade do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Lula sabe dos seus motivos para determinar a recusa absoluta à investigação na Câmara, como proteção ao governo, mas não é admissível que os oposicionistas sejam tão mal informados (ou esquecidos) sobre os seus tempos de governo.
Caso a oposição desejasse mesmo abrir um rasgo na indumentária moral do governo Lula, disporia logo de dois assuntos cortantes e afiadíssimos: repasses a certas ONGs e similares; e, como demonstrou Marta Salomon na Folha de ontem, os R$ 2,4 bilhões gastos pelo Ministério das Cidades em projetos alheios que nem ao menos apreciara, nos casos em que existiam.
Mas os dois temas envolvem interesses diretos de numerosos deputados e senadores e, portanto, riscos se houvesse investigação. O faz de conta é mais seguro para governo e oposição.

Ora, ora
Diz-se que há suspeita de transgressão de sigilo, para lucros fáceis, rápidos e deliciosos na Bolsa, do negócio de US$ 4 bilhões que foi a venda da Ipiranga a Petrobras, Braskem e Ultra.
Suspeita? Seria possível imaginar um negócio de tal dimensão, no Brasil, que ficasse preservado em plena e santa honestidade?
Até parece deboche, isso de falarem só em suspeitas.

Os donos
A Direção Geral de Impostos de Portugal está fazendo constatações e comprovações formidáveis na dinheirama do futebol. Uma delas, por exemplo, é que os agentes de jogadores, hoje dominando o futebol no mundo todo, só pagam cerca de 10% dos impostos devidos. As fortunas das transações são deslocadas entre países, até chegar a paraísos fiscais, muitos deles, na América Central.
Os mesmos truques servem, também, às comissões pagas em sigilo a dirigentes de clubes e a intermediários. Feitos tais descontos nos formidáveis valores de que a imprensa fala, a respeito de passes e salários, o restante que fica para o jogador também pode valer-se dos truques.
Aqui, naturalmente, empresários, dirigentes de clubes e de federações enriquecem, como os jogadores, na mais irrepreensível honestidade. Inclusive com a Receita Federal, que nunca precisou se preocupar com essas riquezas.

Outro
Não, não, a CPI do Apagão não seria para pesquisar o que aconteceu com a cabeça presidencial, não.


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