São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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Para ministro de Lula, TV estatal quem faz é Chávez

Sem explicar, Costa afirma que proposta de TV do governo pode ser custeada por PPP

Titular das Comunicações critica pasta da Cultura e afirma que "não tem ninguém querendo fazer culto de personalidade"


HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A TV pública do governo federal poderá ser feita por meio de PPP (Parceria Público Privada), disse ontem o ministro Hélio Costa (Comunicações). As empresas poderiam custear a programação em troca de desconto no Imposto de Renda.
Ontem, em tom de desabafo, o ministro disse que a sua proposta não é a criação de uma TV estatal, e sim de uma TV pública. Segundo Costa, "TV estatal é o que o Chávez faz".
Costa aproveitou também para criticar o Ministério da Cultura, envolvido na discussão sobre o projeto.
"Uma das maneiras que nós temos de tratar a TV pública é propor uma espécie de PPP. Propõe-se PPP para tudo, por que não se pode propor uma PPP para a TV pública?", disse.
"Se alguma empresa estiver querendo participar desse projeto, nós vamos pedir à Receita que estude uma maneira de esse dinheiro colocado na TV pública entrar como desconto no Imposto de Renda. É uma maneira de trazer o empresário para participar de um projeto social importante", afirmou ele, sem dar mais detalhes.
Segundo Costa, esse tipo de parceria valeria mais para os canais de educação e cultura e citou como exemplo o canal Futura. O Futura está nas TVs por assinatura Net, Sky e DirectTV. A Rede Globo, ex-empregadora do ministro, é uma de suas parceiras.
Ontem, quando questionado objetivamente se a TV que defende seria estatal ou pública, Costa aproveitou para provocar setores do governo mais ligados à esquerda. "TV estatal é o que o Chávez faz, TV estatal é o que se faz em Cuba, TV estatal é o que se fazia na Polônia, TV estatal é o que se fazia na antiga União Soviética. Estive em todos esses lugares para saber perfeitamente qual é a diferença entre estatal e público."
O ministro afirmou que a criação de uma rede pública poderia partir da ampliação da Radiobrás que, segundo ele, hoje chega só a 30% do país.
E afirmou ainda ter havido incompreensão do que ele estava propondo. "É um absurdo você pensar que o ministro das Comunicações, que é um profissional do setor de comunicações e um senador, vá fazer alguma proposta que não seja do interesse público", disse.
"Não tem ninguém querendo fazer TV estatal, não tem ninguém querendo fazer culto de personalidade", declarou.

Desabafo
O ministro voltou a entrar em conflito com o Ministério da Cultura, com quem já discutira publicamente há um ano.
"Quem se intitula em querer falar de TV pública -e eu não sei quem lhe deu essa delegação- é o Ministério da Cultura. Fique com eles, estou passando de papel passado. Por favor, quando quiserem falar de TV pública agora perguntem ao ministro Gilberto Gil. Não é comigo mais", disse Costa.
O Ministério da Cultura informou que esperaria a publicação das declarações para se pronunciar.
O secretário-executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira, disse em entrevista à Folha na terça-feira que era a favor de uma TV pública, "e não de uma TV estatal, a serviço do governante de plantão". Ferreira afirmou ainda que "estranhava" o anúncio da iniciativa do governo pelo ministro das Comunicações.
Essa é segunda vez que as duas pastas entram em conflito. Em março de 2006, Gil leu um cordel no qual Costa era chamado de "empresário boçal". O ministro das Comunicações reagiu chamando Gilberto Gil de "Gilberto Vil".


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