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Escolha em SP mostra força de d. Cláudio
D. Odilo pula etapas e faz caminho pouco usual na igreja porque conta com apoio do ex-arcebispo e hoje "ministro" do papa
D. Cláudio esteve à frente de Santo André (SP) e Fortaleza e esperou 23 anos antes de virar cardeal em SP; D. Odilo aguardou 5 anos, sem escala
DA REPORTAGEM LOCAL
A escolha de d. Odilo Scherer
para chefiar a Arquidiocese de
São Paulo mostra que o brasileiro mais influente no Vaticano continua sendo d. Cláudio
Hummes, "ministro" do papa
na Congregação para o Clero.
Este é o resultado da apuração da Folha no Brasil e no Vaticano. O jornal antecipou ontem, com exclusividade, o nome do novo arcebispo.
Não é normal que bispos-auxiliares, como era d. Odilo em
São Paulo, sejam nomeados arcebispos sem antes passar por
alguma diocese ou arquidiocese de algum Estado com menos
importância na geografia católica, para ganhar experiência.
D. Cláudio, por exemplo, foi
bispo de Santo André (SP) e arcebispo de Fortaleza e teve de
esperar 23 anos antes de virar
cardeal em SP. D. Odilo só esperou cinco anos, sem escala.
Ele conseguiu isso porque
tem a confiança de d. Cláudio,
que o transformou em bispo e o
convidou para ser seu auxiliar.
A nomeação também é sinal
de que Bento 16 segue confiando em d. Cláudio. Antes de ir
para o Vaticano, em dezembro,
o cardeal deu uma declaração
em que diminuía a importância
do celibato para a igreja. Ao
chegar à Santa Sé, publicou
uma nota reafirmando sua adesão a esta norma e, recentemente, divulgou um documento defendendo o celibato.
A quantidade de textos desproporcional ao tempo no cargo foi vista como um sinal de
que o brasileiro poderia estar
em baixa em Roma.
Perfil
D. Odilo sempre foi o mais
cotado para suceder d. Cláudio.
D. Orani João Tempesta, arcebispo de Belém, também era
bem avaliado. Logo abaixo, com
menos chances, apareciam
d.Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida (SP), e d.
Geraldo Lyrio, arcebispo de Vitória da Conquista (BA).
Apesar da força de d. Cláudio,
o novo arcebispo também contou com os próprios méritos.
Na CNBB, ele aproximou a entidade da Santa Sé, que sempre
foi considerada por Roma independente demais. D. Odilo, que
trabalhou no Vaticano, "normalizou" as relações. A vinda
do papa ao Brasil também é sinal de que o país hoje é benquisto por Bento 16.
Outros pontos que contaram
a seu favor foram a idade (é
mais jovem que d. Raymundo e
d. Geraldo), a formação intelectual (tem doutorado, e d. Orani,
não) e a visibilidade que ganhou à frente da CNBB. Ele foi
a voz nacional da igreja nas
questões políticas e morais.
Um dos poucos céticos quanto à nomeação é um ex-frade
dominicano, o professor de filosofia na Unicamp Roberto
Romano. "Vi que ele tem abertura à política. Espero que esta
abertura seja mais de diálogo
com a sociedade do que de tentativa de controlá-la."
(LEANDRO BEGUOCI)
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