São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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Escolha em SP mostra força de d. Cláudio

D. Odilo pula etapas e faz caminho pouco usual na igreja porque conta com apoio do ex-arcebispo e hoje "ministro" do papa

D. Cláudio esteve à frente de Santo André (SP) e Fortaleza e esperou 23 anos antes de virar cardeal em SP; D. Odilo aguardou 5 anos, sem escala


DA REPORTAGEM LOCAL

A escolha de d. Odilo Scherer para chefiar a Arquidiocese de São Paulo mostra que o brasileiro mais influente no Vaticano continua sendo d. Cláudio Hummes, "ministro" do papa na Congregação para o Clero.
Este é o resultado da apuração da Folha no Brasil e no Vaticano. O jornal antecipou ontem, com exclusividade, o nome do novo arcebispo.
Não é normal que bispos-auxiliares, como era d. Odilo em São Paulo, sejam nomeados arcebispos sem antes passar por alguma diocese ou arquidiocese de algum Estado com menos importância na geografia católica, para ganhar experiência. D. Cláudio, por exemplo, foi bispo de Santo André (SP) e arcebispo de Fortaleza e teve de esperar 23 anos antes de virar cardeal em SP. D. Odilo só esperou cinco anos, sem escala.
Ele conseguiu isso porque tem a confiança de d. Cláudio, que o transformou em bispo e o convidou para ser seu auxiliar.
A nomeação também é sinal de que Bento 16 segue confiando em d. Cláudio. Antes de ir para o Vaticano, em dezembro, o cardeal deu uma declaração em que diminuía a importância do celibato para a igreja. Ao chegar à Santa Sé, publicou uma nota reafirmando sua adesão a esta norma e, recentemente, divulgou um documento defendendo o celibato.
A quantidade de textos desproporcional ao tempo no cargo foi vista como um sinal de que o brasileiro poderia estar em baixa em Roma.

Perfil
D. Odilo sempre foi o mais cotado para suceder d. Cláudio. D. Orani João Tempesta, arcebispo de Belém, também era bem avaliado. Logo abaixo, com menos chances, apareciam d.Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida (SP), e d. Geraldo Lyrio, arcebispo de Vitória da Conquista (BA).
Apesar da força de d. Cláudio, o novo arcebispo também contou com os próprios méritos. Na CNBB, ele aproximou a entidade da Santa Sé, que sempre foi considerada por Roma independente demais. D. Odilo, que trabalhou no Vaticano, "normalizou" as relações. A vinda do papa ao Brasil também é sinal de que o país hoje é benquisto por Bento 16.
Outros pontos que contaram a seu favor foram a idade (é mais jovem que d. Raymundo e d. Geraldo), a formação intelectual (tem doutorado, e d. Orani, não) e a visibilidade que ganhou à frente da CNBB. Ele foi a voz nacional da igreja nas questões políticas e morais.
Um dos poucos céticos quanto à nomeação é um ex-frade dominicano, o professor de filosofia na Unicamp Roberto Romano. "Vi que ele tem abertura à política. Espero que esta abertura seja mais de diálogo com a sociedade do que de tentativa de controlá-la."
(LEANDRO BEGUOCI)


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