São Paulo, sábado, 22 de março de 2008

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EUA ajudam quando ficam longe, diz Jobim

Ministro da Defesa afirma ter explicado projeto que cria o Conselho Sul-Americano de Defesa à secretária Condoleezza Rice

Jobim diz ter conversado muito sobre "as questões da América Latina, mostrando que temos capacidade de resolver nossos problemas"

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, explicou ontem o projeto do Conselho Sul-Americano de Defesa em encontros separados com a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, e com o assessor do Conselho de Segurança Nacional, Stephen Hadley, dizendo a ambos que a melhor forma de os Estados Unidos ajudarem seria "assistindo de fora, ficando à distância".
O relato foi feito pelo próprio Jobim no CSIS (centro para estudos estratégicos internacionais), com uma explicação um tanto ácida: "Eu não estava pedindo licença [para eles aprovarem o futuro conselho], apenas dando ciência a um parceiro internacional e mostrando que se trata de um assunto claramente da América do Sul".
Depois, a jornalistas, ele disse que a conversa com Condoleezza Rice demorou 40 minutos e "foi ótima": "Conversamos muito sobre a posição brasileira nas questões da América Latina, mostrando que nós temos capacidade de resolver nossos problemas", relatou, citando que o conselho poderia ser útil, por exemplo, em casos como o recente conflito na região, quando tropas colombianas bombardearam guerrilheiros em solo equatoriano.
Segundo Jobim, a secretária norte-americana considerou "muito interessante" a iniciativa do futuro conselho, que Jobim discutirá com os governos da região, começando com um encontro com Hugo Chávez, da Venezuela, em 14 de abril.
O ministro avisou que os países da América do Sul não apóiam grupos guerrilheiros (numa referência às Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e provocou: os países consumidores de cocaína (caso dos EUA) também deveriam combater o problema.

Jatos militares
Jobim, que na véspera havia descartado a possibilidade de comprar aviões de caça F-35 da norte-americana Lockheed Martin, ontem acrescentou mais um dado à questão sobre a renovação do esquadrão de caças da FAB (Força Aérea Brasileira). Segundo ele, não foi nem decidido se haverá compra.
O ministro levantou a hipótese de, em vez de adquirir jatos de última geração na França, na Rússia ou nos EUA, o Brasil investir em projetos da Embraer para aviões de monitoramento, com capacidade para vôos mais baixos -mais adequados à fiscalização em áreas de selva.
Segundo ele, o F-18F Super Hornet da mesma Lockhee Martin seria mais viável para o Brasil pelo preço. Enquanto o F-35 custa entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões, segundo o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, o F-18, modelo que ele substitui, pode chegar a até 10% disso.

Intercâmbio
Um dos interesses de Nelson Jobim na viagem aos EUA -a convite do governo americano- foi estudar o funcionamento das três Forças Armadas. Ele acertou que será destinado um "oficial de ligação" que irá a Washington estudar melhor o sistema.
Ele também combinou de enviar os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para visitas nos EUA. A intenção é consolidar o Ministério da Defesa como órgão coordenador das três Forças.
Após o encontro com Hadley, Jobim teve, à tarde, uma mesa-redonda com representantes da indústria de defesa.


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