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AMÉRICAS
Encontro no Chile vai selar criação de centro de estudos sobre drogas, com apoio dos serviços de inteligência dos EUA
Cúpula lança nova iniciativa contra tráfico
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a San José (Costa Rica)
A 2ª Cúpula das Américas, marcada para abril no Chile, lançará
uma nova iniciativa para o combate hemisférico ao tráfico de drogas, o que inclui um centro de estudos na Cidade do Panamá.
Mas não serão meros estudos
acadêmicos: os serviços de inteligência norte-americanos darão
todo o apoio à iniciativa, aliás uma
proposta dos EUA.
A idéia parte de um princípio
que se está tornando consensual
no mundo: não foi só a economia
que se globalizou, mas também o
crime organizado, cujo filão mais
rentável é o narcotráfico.
Para combatê-lo é preciso igualmente desenvolver esforços que
transcendam as fronteiras dos Estados. O governo brasileiro, que
apóia a iniciativa norte-americana, aplica o raciocínio à violência e
à criminalidade nas grandes cidades do país, em especial no Rio.
Desde antes da posse, o presidente Fernando Henrique Cardoso vem dizendo que a violência
não começa nem termina nas
fronteiras do Rio. Tem origem no
narcotráfico, um negócio multinacional que começa nas plantações de coca na Bolívia e no Peru e
termina nos grandes centros consumidores.
Mais recentemente, o governo
FHC concluiu que, isoladamente,
não poderá pôr fim a violência. O
novo centro atende, portanto, à
necessidade de um combate multinacional ao crime organizado
também no Brasil.
O maior ou menor alcance da
nova iniciativa vai depender de serem superadas as resistências que
a maioria dos governos latino-americanos ainda apresenta.
Acham que se trata de abrir uma
brecha para ampliar a ingerência
dos EUA em assuntos internos.
Por isso, o esboço do texto pronto para ser assinado no Chile pelos
34 chefes de Estado/governo da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) é cauteloso. Diz que o
organismo se pautará pelos princípios de respeito à "soberania e à
jurisdição territorial dos Estados,
reciprocidade, responsabilidade
compartilhada e equilíbrio no tratamento do tema".
Há uma segunda fonte de resistência ao projeto, esta mais simbólica, decorrente do local em que
os EUA sugerem para instalar o
centro. São as dependências da
antiga Escola das Américas, um
centro de treinamento para militares latino-americanos que se
transformou em escola de torturas
e formação de agentes para o autoritarismo que marcou a América
Latina nos anos 70 e 80.
A inclusão do combate ao narcotráfico como um dos temas fortes
da cúpula, além de seus aspectos
práticos, decorre igualmente do
fato de que perdeu vigor o que deveria ser o eixo da reunião, o livre
comércio nas Américas.
A cúpula servirá para o início
das negociações nesse capítulo,
mas não há como avançar porque
os EUA, principal motor da Alca,
não têm condições negociadoras.
Falta ao Executivo o mecanismo
chamado "fast track", uma autorização para que o governo negocie
acordos comerciais que, depois, o
Congresso apenas aprova ou rejeita em bloco. Na ausência do fast
track", os parceiros dos EUA relutam em avançar em qualquer negociação, pelo temor que um
acordo alcançado seja, depois, estraçalhado no Congresso.
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