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"Crescimento vem com fim dos
déficits", diz economista do PT
da Reportagem Local
O economista Guido Mantega,
48, assessor econômico de Luiz
Inácio Lula da Silva, acredita que o
caminho para o crescimento do
país é o fim dos déficits comercial
e de conta corrente.
A seguir, leia sobre as idéias que
deverão nortear o programa econômico -"mais enxuto e objetivo
do que o de 94"- do PT e aliados
nas eleições deste ano.
Folha - Qual é o Real do Lula?
Guido Mantega - O programa
econômico ainda não está pronto.
Minhas idéias vão ser levadas a um
colegiado com a participação dos
economistas do PT e dos partidos
aliados. Depois disso, teremos um
programa econômico oficial.
Mas sabemos que o presidente
Fernando Henrique vai continuar
usando o Real. Só que já queimou
o cartucho principal como arma
de campanha: a estabilidade está
aí. Agora, terá de justificar por que
fez só isso.
Folha - Qual é a alternativa do
PT?
Mantega - O crescimento, porque o Real é um plano somente de
estabilização. É um plano de estabilização que criou uma armadilha
para o crescimento. Para fechar as
contas brasileiras, o governo tem
de trabalhar com juros altos. Isso
não estimula o crescimento interno, aumenta a dívida pública e desestimula o investimento.
Folha - Como sair dessa armadilha?
Mantega - O que nos distinguirá do Real do Fernando Henrique é
que vamos enfatizar a questão do
crescimento porque é o crescimento que gera emprego e permite
distribuir renda. Esses são os eixos
da campanha.
Folha - Como viabilizar isso?
Mantega - Evidente que não se
parte do zero. Vamos partir da situação deixada pelo antecessor. Isso implica determinados ajustes
de sua política em uma fase de
transição, quando o objetivo será
zerar os déficits comercial e de
transações correntes.
Folha - Como?
Mantega - Impulsionando-se
as exportações. O déficit comercial
estimado para 98 é de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões. Melhorou,
mas tem um déficit em transações
correntes de US$ 33 bilhões. O
Brasil perdeu sua posição no comércio mundial. Já respondeu por
1,5% do comércio internacional.
Hoje, a participação é de 1%. O
Brasil tem de ocupar de novo seu
espaço, estimulando as exportações
Folha - Um ponto polêmico do
Plano Real é o câmbio sobrevalorizado. Como o sr. vê essa questão?
Mantega - Vamos mudar a política cambial. Mas isso não significa uma maxidesvalorização. Não,
de jeito nenhum, mesmo porque
isso seria catastrófico no contexto
da instabilidade asiática, que ainda
vai permanecer por algum tempo.
Os problemas na Ásia não foram
eliminados. O vulcão está ativo e,
de vez em quando, entra em erupção. O FMI joga um pouco de água
fria, mas o problema não está
equacionado nem no Japão nem
na Indonésia. Vamos ter novas ondas de instabilidade. Então, nada
de maxidesvalorização.
Folha - Como o PT planeja tratar
essa questão?
Mantega - Em vez de minidesvalorizações de 0,6% por mês, poderíamos aumentá-las até 1% para
corrigir a defasagem, que acredito
ser de 15% a 20%, em um ano.
Folha - Qual é a meta de crescimento econômico?
Mantega - A meta é fazer a economia crescer 6% ao ano porque é
a taxa que cria 1,5 milhão de empregos por ano. Essa é, mais ou
menos, a oferta de mão-de-obra
que entra no mercado de trabalho
a cada ano. O desemprego existe
principalmente pela baixa taxa de
crescimento. É um engano achar
que o desemprego é tecnológico. É
claro que o progresso tecnológico
corta vagas, mas setorialmente.
Do ponto de vista macroeconômico, o que realmente interessa é a
taxa global de crescimento.
Folha - Em quanto tempo essa
taxa pode ser alcançada?
Mantega - É uma previsão difícil de fazer. Não sabemos como vamos encontrar o país no dia 1º de
janeiro de 99. Vamos ter um ano
de transição, no qual vai se eliminado a camisa-de-força, vai-se
mostrando ao mercado a que veio
o governo Lula. O mercado tem de
criar confiança porque vai haver
muita difamação.
Folha - O Lula tem mostrado
preocupação em discutir com os
empresários e sindicalistas uma
política industrial.
Mantega - A política industrial
vai ser discutida com os empresários e sindicalistas com portas
abertas. A transparência é importante para ganharmos confiança
do mercado. O primeiro ano é para
ganhar confiança. No segundo, já
deve dar para acelerar.
Um governo Lula cancelaria as
privatizações?
Mantega - Vemos com muito
maus olhos esse programa de privatização. É um programa apressado, cujo objetivo não é melhorar
o serviço para a população e baixar
o custo, mas dar lucro para os grupos que compram as empresas.
O governo fez uma privatização
apressada, não criou as regras, colocou a carroça na frente dos burros. Primeiro privatizou e, agora,
está acordando para as regras.
A menos que haja prova de que
houve malversação, não vamos rever as privatizações passadas. Vamos fortalecer as agências reguladoras para que obriguem essas
empresas a funcionar de acordo
com o interesse da população. Mas
o atual programa de privatizações
tem de ser interrompido.
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