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ROMBO AMAZÔNICO
Grampo da PF revela que dinheiro financiou candidatos
Verba da Sudam foi usada em campanhas eleitorais
LUCIO VAZ
ENVIADO ESPECIAL A PALMAS
Documentos oficiais sobre investigação de fraudes na Sudam
(Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) realizada
durante nove meses mostram como operam escritórios de consultoria e empresas beneficiadas em
pelo menos três Estados: Tocantins, Pará a Amapá. Parte do dinheiro desviado foi utilizado em
campanha eleitoral.
As 380 horas de gravações feitas
pela Polícia Federal, com autorização da Justiça Federal, aos quais
a Folha teve acesso, desnudam o
esquema de propinas, apresentação de notas frias e documentos
falsos e conivência de servidores
para desviar recursos da Sudam.
O pedido de prisão preventiva
feito pelo Ministério Público Federal em Tocantins à Justiça Federal resulta de um cruzamento de
informações da PF, Receita Federal, auditoria e procedimentos
técnicos da Sudam.
Após cinco dias detidos em Palmas, 19 integrantes do grupo que
atuava nos três Estados foram libertados por decisão da Justiça. A
Justiça Federal em Tocantins havia decretado a prisão preventiva
de 21 pessoas. Mas a investigação
prossegue. Chegaram à cidade
anteontem 1.250 quilos de documentos apreendidos em escritórios de consultoria em Belém.
Diálogo entre o empresário Romildo Onofre Soares e Benjamim
Bispo da Silva, em setembro de
2000, dez dias antes das eleições
municipais, mostra que parte do
dinheiro da Sudam financiou
campanhas eleitorais.
Romildo faz parte do Grupo
Soares, um dos alvos da investigação. "O negócio é o seguinte: esse
dinheiro tem que sair antes da
campanha, porque uma parte dele eu arrumei para a campanha?
Se chegar esse documento lá hoje,
é certeza que até terça-feira nós liberamos...", diz Romildo, que esteve preso em Palmas.
Depois, ele acrescenta: "Pois é,
mas que vai desenrolar vai. Vai
desenrolar a Xuí e o Frango Líder,
tá bom?". Benjamim diz: "É, né,
então está bom, seu Romildo".
Romildo, que foi candidato a vice-prefeito em Altamira (PA) pelo
PMDB, continua as lamentações.
"Era para passar 2.000 e só deu
para passar 1.500. Não tem dinheiro para nada. Aqui, os "sudanzeiros" daqui tá tudo quebrado também; não saiu para ninguém (sic). E nós estamos levando a campanha aqui na marra. O
pessoal aqui tá dando até cheque
pré-datado. O trem tá feio, já atiraram em gente."
O Ministério Público vai investigar se ocorreram outros casos de
uso de verba desviada da Sudam
em campanhas eleitorais.
A investigação que mais avançou sobre fraudes na Sudam iniciou a partir de um dado curioso,
em 1999. A PF em Tocantins apurava a aprovação de quatro projetos em Paraíso do Tocantins
(TO). Descobriu-se que as quatro
empresas apresentaram sua declaração de Imposto de Renda no
mesmo dia, pela internet.
As empresas do Grupo Soares
-Frango Líder, Paraíso Agroindustrial, Café Serrado e Refrigerante Xuí- , que já receberam R$
18,1 milhões em dois anos, foram
abertas por meio de fraudes. Funcionários de Romildo foram usados como "laranjas" nos empreendimentos. Romildo era procurador das empresas, com plenos poderes. Alguns dos sócios-proprietários apresentavam renda anual de R$ 6.588,40 ou R$
6.629,40, conforme declaração de
IR. "Como é possível, com uma
renda média mensal em torno de
R$ 500, possuir um patrimônio
acima de R$ 3 milhões", questiona conclusão de auditoria feita
pela Receita Federal.
Sócios da Frango Líder, Hilton
Campos e Sildely Fantana declararam possuir fazendas em Campos Lindos e Vitória do Xingu, em
Tocantins. Os cartórios locais não
tinham registro dos imóveis.
Apesar de todos os indícios de
irregularidades, os projetos foram
aprovados pela Sudam. Os fiscais
não checaram as contradições entre as declarações de renda e patrimônio. O Ministério Público e a
PF decidiram grampear os donos
das empresas. Nas primeiras gravações descobriram novos personagens, os donos de escritórios
credenciados na Sudam.
A nova fase da investigação chegou aos escritórios de Geraldo
Pinto da Silva e Maria Auxiliadora
Barra Martins, que tratavam das
liberações de recursos na superintendência. Surgiram então os indícios de envolvimento de funcionários da Sudam no recebimento
de propina e tráfico de influência.
Só Maria Auxiliadora liberou
R$ 248 milhões em cinco anos.
É evidente a "existência de laudos técnicos forjados e a conivência criminosa de funcionários para a provação e liberação de recursos", diz o Ministério Público no
pedido de prisão dos envolvidos.
Foram identificados três grupos
no esquema: os sócios de projetos, os escritórios de assessoria e
os funcionários da Sudam. Mas
haveria um quarto grupo, "esboçado por indícios de envolvimento de funcionários do Ministério
da Integração Nacional".
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