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Geração tem tudo, mas é insatisfeita
DO ENVIADO ESPECIAL A QUÉBEC
Os ativistas canadenses que vão
promover um "carnaval antiglobalização" em Québec fazem parte de uma geração que possui tudo o que o capitalismo tem para
oferecer de melhor e, em certa
medida, não está satisfeita.
Jason Pouflle, 21, é um bom
exemplo. Pouflle não estuda, nem
trabalha.
Há sete meses, ele viaja pelo
país, patrocinado por um programa do governo canadense, para
prestar serviços esparsos em várias comunidades e ganhar experiência de vida.
"Se eu quisesse, poderia me formar, ganhar dinheiro, comprar
uma bela casa com jardim, cachorro e tirar duas férias por
ano", comenta Pouflle.
Ele usa um pequeno óculos com
aros retangulares pretos, cavanhaque e cabelos longos trançados.
"No Brasil, poderiam me invejar, mas não é o que eu quero",
afirma o manifestante.
O sonho de Pouflle é ter uma fazenda com plantação de produtos
orgânicos em sua cidade natal,
Peterborough, e criar um movimento local para brigar com as
corporações e defender o direito
das minorias.
"Confiança"
"Meus pais me ensinaram que o
principal na vida não é ganhar dinheiro, mas é o modo como nos
relacionamos com as outras pessoas", diz a estudante de economia e desenvolvimento internacional Faith Mansfield, 24.
Faith é conhecida no acampamento do Movimento Sem-Terra
na cidade paranaense de Nova Laranjeira como "Confiança".
Esse é o nome que ela adotou
para facilitar seu contato com os
trabalhadores rurais.
Faith ou "Confiança" mora na
cidade canadense de Winnipeg e
foi muito influenciada pelos valores religiosos de seus pais, que são
anglicanos.
Além de ter passado quatro meses no acampamento do Movimento Sem-Terra, ela prestou
serviços sociais na África e quer
voltar a atuar no Brasil.
"Quando vejo a coragem dos
trabalhadores sem-terra no Brasil, também me sinto na obrigação de protestar no Canadá", afirma a estudante, que estará na linha-de-frente das manifestações
pacíficas que acontecerão em
Québec.
Qualidade de vida
Os manifestantes canadenses
contam com excelentes serviços
básicos, como educação e saúde,
garantidos pelo governo.
Com uma renda per capita de
US$ 23 mil, segundo dados de
1999, o Canadá está no topo da lista dos países com melhor qualidade de vida.
Seja por solidariedade, consciência social, religião, idealismo
ou busca de aventura, muitos jovens canadenses estão se engajando nas novas formas de luta política e social, trabalhando e prestando serviços para as organizações não-governamentais.
Sebastian Gilbert Corlay, 24, é
neto do ex-chefe do departamento de polícia da cidade canadense
de Montreal.
Ele e o avô, 81, dividem um
apartamento em Montreal e tem
idéias bem diferentes sobre protestos, justiça social e papel dos
governos.
"Ele foi treinado em um ambiente de forte hierarquia", afirma Sebastian, que é jornalista e
trabalha para veículos de comunicação alternativos.
"Eu acho que é preciso contestar as autoridades e sou a favor da
desobediência civil para corrigir
as injustiças no mundo", afirmou
o jovem.
Sebastian trabalha na organização social Alternatives. Em 2000,
ele passou uma temporada no
Marrocos ensinando membros de
comunidades pobres a criar jornais na internet para brigar por
direitos sociais.
"Ganhando corações"
"Estamos ganhando corações e
mentes no Canadá", acredita a
ativista social canadense Maude
Barlow, citada por uma revista de
esquerda como um dos seis nomes mais influentes internacionalmente no movimento antiglobalização.
Todos esses ativistas estão entre
os milhares de manifestantes que
saíram às ruas em Québec no
"carnaval anticapitalismo".
A grande maioria planeja marchas pacíficas e bem humoradas.
Uma minoria vai tentar bloquear
ruas, derrubar pedaços da "muralha da vergonha" e invadir a área
onde se reúnem os chefes de Estado, que participam das discussões
sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
"Cada grupo tem uma estratégia própria", diz Jan Renaud Lauzé, da Gomm, uma das organizações responsáveis pela coordenação do protesto. "O que cada um
vai fazer é imprevisível."
(RG)
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