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PREVIDÊNCIA
Deputado petista que relatará a reforma previdenciária diz ter 30 pareceres jurídicos contrários à tributação
Justiça será obstáculo para cobrar inativo
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A cobrança da contribuição de
aposentados e pensionistas do setor público à Previdência já enfrenta seu primeiro grande obstáculo antes mesmo de ser enviada
pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ao Congresso. O futuro
relator da reforma previdenciária,
deputado José Pimentel (PT-CE),
disse ontem que dispõe de 30 pareceres de juristas contrários à cobrança -e nenhum a favor.
"Todos os pareceres desaconselham a contribuição, com base no
direito adquirido. A posição do
Congresso é aprovar leis constitucionais, e seremos muito criteriosos", disse Pimentel, indicando
que dificilmente a proposta resistirá à tramitação na Câmara. A
mudança será responsável por
uma arrecadação extra de cerca
de R$ 1 bilhão/ano para a União.
Cabe ao relator coordenar a negociação da proposta de emenda
constitucional. Para Pimentel, a
contribuição dos inativos nem
deveria chegar ao Congresso. Ele
é pertence à Articulação, tendência moderada do PT. Pimentel
ainda não foi indicado oficialmente, mas existe um acordo na
bancada para nomeá-lo.
Ouvido sobre a resistência do
colega petista, o ministro Ricardo
Berzoini (Previdência) insistiu
que o governo não abrirá mão da
proposta. "Respeito a opinião do
relator, mas temos convicção da
constitucionalidade da proposta", disse. "Não seríamos levianos
de apresentar uma proposta ao
Congresso para abrir mão dela."
Encampada por Lula por sugestão dos governadores e estímulo
do ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda), a cobrança chegará ao
Congresso com uma margem
grande de negociação. O limite de
isenção, fixado na proposta em
R$ 1.058, por exemplo, poderá ser
aumentado para R$ 2.400, novo
teto de aposentadoria do INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social). O governo também aceita
negociar uma alíquota menor que
11% para pensionistas.
Outro argumento do deputado
Pimentel contra a contribuição
dos inativos é que a proposta não
consta do programa de governo
de Lula, como a criação de fundos
de previdência complementar para os funcionários públicos.
O relator não prevê dificuldades
para a aprovação da proposta que
praticamente põe fim à aposentadoria integral dos servidores. Segundo nota divulgada após a reunião dos governadores com Lula,
na quarta-feira passada, o benefício será proporcional ao tempo de
contribuição a cada sistema (do
INSS e do servidor público). "Isso
é justo", avalia o relator.
Para os futuros servidores, falta
regulamentar os fundos de previdência complementar. O artigo 40
da Constituição já autoriza União,
Estados e municípios a fixar teto
de aposentadoria para os servidores igual ao máximo do INSS.
Pimentel assumirá a relatoria da
reforma da Previdência com duas
prioridades. A maior delas é incluir no INSS quase 19 milhões de
novos contribuintes, trabalhadores que estão à margem do sistema. Outra prioridade é fazer cumprir a determinação constitucional que manda fixar um teto único para os salários dos três Poderes. Hoje, a diferença entre o salário do presidente da República e
dos ministros do Supremo Tribunal Federal é de mais de R$ 8.000.
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