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ELEIÇÕES 2006/COMBUSTÍVEL DE CAMPANHA
Presidente repete gesto de Getúlio ao sujar as mãos com petróleo e diz que auto-suficiência constitui uma "outra independência"
Lula imita Vargas e fala em marco histórico
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Em cerimônia comemorativa
da auto-suficiência brasileira em
petróleo, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva imitou Getúlio Vargas (1882-1954) ao sujar as mãos
no óleo, citou Tiradentes e disse
que a marca constitui uma "outra
independência", um "marco estrutural no desenvolvimento brasileiro", dividindo a história do
país em "antes e depois".
Sob aplausos e conclamado a
disputar a reeleição com gritos de
"um, dois, três, Lula outra vez"
pela platéia de convidados da Petrobras, o presidente criticou ainda as elites, que à época desacreditaram no êxito da exploração do
petróleo no país e agora "desdenham do esforço do governo" de
inclusão social.
A cerimônia comemorativa foi
dividida em duas etapas. A primeira foi na bacia de Campos, a
278 km do Rio. Na plataforma de
Campos, à qual só fotógrafos e cinegrafistas tiveram acesso, Lula
inaugurou a produção de petróleo da plataforma P-50, repetindo
um ato do ex-presidente Getúlio
Vargas, em 1952: Lula molhou as
mãos no óleo e imprimiu as marcas em macacões de funcionários
da Petrobras.
A Radiobrás, agência de informação estatal, colocou até a foto
histórica de Getúlio em seu site,
ao lado da de Lula.
Produção
Maior unidade de produção em
operação no país, a P-50 adicionará 180 mil barris diários à produção nacional (o barril é a unidade
de medida de petróleo líquido,
equivalente a 159,2 litros).
Somente essa unidade, instalada no campo de Albacora Leste,
responderá por 11% de toda a
produção nacional, que passará a
aproximadamente 1,92 milhão de
barris por dia.
Já no Rio, em solenidade no
Museu Histórico Nacional, no
centro, para uma platéia de 500
convidados, Lula comparou em
seu discurso a luta pela auto-suficiência ao esforço de Tiradentes
pela independência brasileira.
"Num dia 21 de abril como hoje,
há 214 anos, na então Vila Rica,
um laço de corda sufocara um anseio de soberania que já pulsava
em nossa terra. Foi inútil a opressão colonial diante do anseio de liberdade de nosso povo. Cento e
sessenta e um anos depois de Tiradentes, nossos anseios e nossas
aspirações germinariam com extremo vigor na campanha do "Petróleo é Nosso", em 1953", discursou o presidente.
Para Lula, a campanha "O Petróleo é Nosso", liderada pelo escritor Monteiro Lobato, foi um
"divisor da história do nosso
país", pois o "povo se elevou por
inteiro" de "maneira inédita". "A
opinião pública então invadia a
cena política nacional e abraçou
uma bandeira que condicionaria
seu futuro e o nosso presente e o
fez com admirável acerto político
e estratégico", declarou.
Na época, como agora, continuou o presidente, as elites reagiram à ação popular: "Somente a
negação das possibilidades nacionais, a mesma que negligenciou o
petróleo brasileiro no passado,
pode desdenhar do atual esforço
do governo para habilitar amplos
contingentes da população à cidadania e à maior integração no
mercado".
Ação social
Em seguida, Lula listou ações
sociais de seu governo, como o
Bolsa-Família, o reajuste real do
salário mínimo e o ProUni (Programa Universidade para Todos).
Lula fez referência à pressão sofrida pelo presidente Getúlio para
a criação da Petrobras. "É importante lembrar quantas críticas o
nosso querido Getúlio Vargas sofreu por ter feito um decreto em
1953 que imaginava tornar o Brasil um dia num país produtor de
petróleo", disse o presidente.
Lula ressaltou a importância
econômica da auto-suficiência:
"Somos testemunhas de um marco estrutural que vai acrescentar
ao desenvolvimento brasileiro
um antes e um depois desse histórico 21 de abril de 2006".
Segundo o presidente, a auto-suficiência não poderia ter vindo
em melhor hora, já que as cotações do petróleo estão em níveis
recordes. "A US$ 70 o barril, com
as reservas mundiais em declínio
e a disputa aberta por seu controle, a auto-suficiência em petróleo
é um formidável trunfo de estabilidade e segurança econômica que
lucidez política adicionou ao nosso querido Brasil."
Ao fim do discurso, Lula recordou as ações de seu governo na
área econômica.
"Hoje, vivemos o melhor ambiente econômico dos últimos 25
anos. Pela primeira vez, a inflação
declina enquanto o salário sobe. A
economia cresce e as exportações
batem recorde há 36 meses consecutivos. Em fevereiro, foram criados 176 mil empregos com carteira assinada, o melhor fevereiro
desde 1992", listou, destacando
ainda a expansão do crédito e da
massa salarial.
Tal cenário, disse Lula, irá "adicionar mais de R$ 20 bilhões à demanda interna neste ano".
O presidente ressaltou ainda o
pagamento antecipado ao FMI
(Fundo Monetário Internacional). "Em vez de contrair novas
dívidas, numa bola de neve ingovernável, que asfixia o país, liquidamos obrigações e desarranjos
que outros fizeram com o FMI."
Ao final do discurso, Lula foi
aplaudido por uma platéia composto por convidados da Petrobras, que gritava em coro "olê, olê,
olê, olá, Lula, Lula".
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