São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006/COMBUSTÍVEL DE CAMPANHA

Presidente repete gesto de Getúlio ao sujar as mãos com petróleo e diz que auto-suficiência constitui uma "outra independência"

Lula imita Vargas e fala em marco histórico

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Em cerimônia comemorativa da auto-suficiência brasileira em petróleo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva imitou Getúlio Vargas (1882-1954) ao sujar as mãos no óleo, citou Tiradentes e disse que a marca constitui uma "outra independência", um "marco estrutural no desenvolvimento brasileiro", dividindo a história do país em "antes e depois".
Sob aplausos e conclamado a disputar a reeleição com gritos de "um, dois, três, Lula outra vez" pela platéia de convidados da Petrobras, o presidente criticou ainda as elites, que à época desacreditaram no êxito da exploração do petróleo no país e agora "desdenham do esforço do governo" de inclusão social.
A cerimônia comemorativa foi dividida em duas etapas. A primeira foi na bacia de Campos, a 278 km do Rio. Na plataforma de Campos, à qual só fotógrafos e cinegrafistas tiveram acesso, Lula inaugurou a produção de petróleo da plataforma P-50, repetindo um ato do ex-presidente Getúlio Vargas, em 1952: Lula molhou as mãos no óleo e imprimiu as marcas em macacões de funcionários da Petrobras.
A Radiobrás, agência de informação estatal, colocou até a foto histórica de Getúlio em seu site, ao lado da de Lula.

Produção
Maior unidade de produção em operação no país, a P-50 adicionará 180 mil barris diários à produção nacional (o barril é a unidade de medida de petróleo líquido, equivalente a 159,2 litros).
Somente essa unidade, instalada no campo de Albacora Leste, responderá por 11% de toda a produção nacional, que passará a aproximadamente 1,92 milhão de barris por dia.
Já no Rio, em solenidade no Museu Histórico Nacional, no centro, para uma platéia de 500 convidados, Lula comparou em seu discurso a luta pela auto-suficiência ao esforço de Tiradentes pela independência brasileira.
"Num dia 21 de abril como hoje, há 214 anos, na então Vila Rica, um laço de corda sufocara um anseio de soberania que já pulsava em nossa terra. Foi inútil a opressão colonial diante do anseio de liberdade de nosso povo. Cento e sessenta e um anos depois de Tiradentes, nossos anseios e nossas aspirações germinariam com extremo vigor na campanha do "Petróleo é Nosso", em 1953", discursou o presidente.
Para Lula, a campanha "O Petróleo é Nosso", liderada pelo escritor Monteiro Lobato, foi um "divisor da história do nosso país", pois o "povo se elevou por inteiro" de "maneira inédita". "A opinião pública então invadia a cena política nacional e abraçou uma bandeira que condicionaria seu futuro e o nosso presente e o fez com admirável acerto político e estratégico", declarou.
Na época, como agora, continuou o presidente, as elites reagiram à ação popular: "Somente a negação das possibilidades nacionais, a mesma que negligenciou o petróleo brasileiro no passado, pode desdenhar do atual esforço do governo para habilitar amplos contingentes da população à cidadania e à maior integração no mercado".

Ação social
Em seguida, Lula listou ações sociais de seu governo, como o Bolsa-Família, o reajuste real do salário mínimo e o ProUni (Programa Universidade para Todos).
Lula fez referência à pressão sofrida pelo presidente Getúlio para a criação da Petrobras. "É importante lembrar quantas críticas o nosso querido Getúlio Vargas sofreu por ter feito um decreto em 1953 que imaginava tornar o Brasil um dia num país produtor de petróleo", disse o presidente.
Lula ressaltou a importância econômica da auto-suficiência: "Somos testemunhas de um marco estrutural que vai acrescentar ao desenvolvimento brasileiro um antes e um depois desse histórico 21 de abril de 2006".
Segundo o presidente, a auto-suficiência não poderia ter vindo em melhor hora, já que as cotações do petróleo estão em níveis recordes. "A US$ 70 o barril, com as reservas mundiais em declínio e a disputa aberta por seu controle, a auto-suficiência em petróleo é um formidável trunfo de estabilidade e segurança econômica que lucidez política adicionou ao nosso querido Brasil."
Ao fim do discurso, Lula recordou as ações de seu governo na área econômica.
"Hoje, vivemos o melhor ambiente econômico dos últimos 25 anos. Pela primeira vez, a inflação declina enquanto o salário sobe. A economia cresce e as exportações batem recorde há 36 meses consecutivos. Em fevereiro, foram criados 176 mil empregos com carteira assinada, o melhor fevereiro desde 1992", listou, destacando ainda a expansão do crédito e da massa salarial.
Tal cenário, disse Lula, irá "adicionar mais de R$ 20 bilhões à demanda interna neste ano".
O presidente ressaltou ainda o pagamento antecipado ao FMI (Fundo Monetário Internacional). "Em vez de contrair novas dívidas, numa bola de neve ingovernável, que asfixia o país, liquidamos obrigações e desarranjos que outros fizeram com o FMI."
Ao final do discurso, Lula foi aplaudido por uma platéia composto por convidados da Petrobras, que gritava em coro "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".


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