São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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Auto-suficiência não é total, diz Francisco Gros

DA SUCURSAL DO RIO

Para o ex-presidente da Petrobras Francisco Gros, apesar da comemoração "justa" da auto-suficiência, é necessário explicitar que ela foi conquistada apenas "em termos brutos", uma vez que o país continuará dependente de importação de óleo leve e de derivados como diesel e nafta -cuja produção seguirá insuficiente para atender ao mercado doméstico.
Gros, último presidente da companhia no governo FHC e que atualmente preside a Fosfértil, afirmou ainda que será um equívoco se a Petrobras restringir à atual administração o feito da auto-suficiência: "Nada do que está acontecendo surgiu de geração espontânea nos últimos meses. Isso é fruto de um trabalho de 53 anos, dos técnicos da empresa e de inúmeros governos".
Para ele, as cifras gastas com publicidade -R$ 37 milhões só na campanha da auto-suficiência- são excessivas: "Fico um pouco impressionado com os gastos publicitários que acontecem hoje em dia no governo federal, muito maiores do que no passado".
Na avaliação do executivo, diferentemente das duas últimas administrações do período FHC, a Petrobras voltou a atender a interesses do Executivo. "A empresa começou a deixar de ser braço do governo [no final do governo FHC] e a se comportar como empresa eficiente, competitiva e lucrativa, o que era melhor para o país e para todos."
Sob o governo Lula, diz, a estatal está "se voltando às práticas antigas", de ser usada politicamente. "Houve um retrocesso", diz Gros.

"Mudança no discurso"
De acordo com Gros, nada de novo foi introduzido pela atual gestão tanto nas regras de conteúdo nacional como na política de preços da Petrobras. A mudanças, diz, foram muito mais "no discurso" do que "na prática".
No caso do conteúdo nacional, Gros diz que o percentual de encomendas à indústria local se manteve praticamente inalterado na casa de 35% -a Petrobras fala em 60% nas novas plataformas.
Sobre a política de preço, o executivo diz que vale a mesma análise: a mudança ficou apenas no discursos, já que os preços continuaram paritários aos do mercado internacional, sem um alinhamento imediato. "Não há razão lógica em subsidiar o consumo desses produtos [combustíveis], que são escassos e finitos. Não tem nenhuma lógica subsidiar com preços artificiais."
Assim como em sua gestão, diz, a grande discussão que ocorre agora é quanto à periodicidade do alinhamento ao mercado externo, que, na visão de Gros, não deve ser de imediato.
(PEDRO SOARES)


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