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PERSONALIDADE
Reação do presidente é anterior à morte de Luís Eduardo; para Gregori, governo perde "zagueiros'
"Não me diga uma coisa dessas', diz FHC
do enviado especial a Madri
"Não me diga uma coisa dessas." Essa foi a reação do presidente Fernando Henrique Cardoso ao
saber do infarto de Luís Eduardo
Magalhães. FHC está em viagem
oficial na Espanha, iniciada ontem.
"O governo perdeu a sua dupla
de zagueiros. É como se fosse um
desastre de avião."
Foi essa a reação de José Gregori,
secretário de Direitos Humanos,
amigo do presidente Fernando
Henrique Cardoso e única fonte
oficial disponível, na hora em que
chegou a Madri a informação da
morte do deputado.
A notícia foi conhecida pouco
depois de 1h de hoje (20h de ontem
em Brasília), horário em que o
presidente já havia se recolhido
para dormir no Palácio de El Pardo, sua residência oficial em Madri.
O vice-presidente Marco Maciel,
do PFL do deputado Luís Eduardo
Magalhães, telefonou para o palácio, mas, informado de que o presidente estava dormindo, ficou de
decidir o comportamento a adotar.
FHC soubera do infarto e consequente internação de seu líder na
Câmara dos Deputados por volta
de 22h30 (17h30 em Brasília),
quando terminava o jantar privado de que participou na Embaixada brasileira em Madri.
Sua assessora de imprensa, Ana
Tavares, recebeu a informação e
passou-a ao filho do presidente,
Paulo Henrique, que a levou ao
pai. "Não me diga uma coisa dessas, não é possível", reagiu Fernando Henrique.
Em seguida, pediu uma ligação
para Brasília, para falar com o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães.
ACM tranquilizou o presidente:
'"Está tudo sob controle", disse o
senador, hora e meia antes de Luís
Eduardo morrer.
Ainda assim, o presidente sugeriu que Luís Eduardo fosse removido para São Paulo, mais exatamente para o Incor (Instituto do
Coração, centro de excelência em
cardiologia).
Mas ACM insistiu em que a situação, pelo menos naquele momento, não exigia esse tipo de providência.
Apesar disso, um jatinho de empresa de seguro de saúde já estava
a caminho de Brasília para uma
eventual remoção deputado para
São Paulo.
Depois do telefonema, FHC comentou com os que se encontravam à sua mesa, entre eles o ministro da Cultura, Francisco Weffort, e José Gregori, que Luís
Eduardo estava muito emocionado no enterro de Sérgio Motta, na
segunda-feira em São Paulo.
Além disso, o calor que fazia naquele dia talvez tivesse contribuído para o mal-estar do líder governista no Congresso, especulou o
presidente.
Gregori usou psicologia política
para explicar o que poderia ter
acontecido, ao conversar com os
jornalistas que aguardavam a saída de FHC do jantar:
"Político, de modo geral, se
acha indestrutível. Quando um de
seus pares é vítima, sente-se vulnerável".
Um repórter quis saber se as autoridades brasileiras não estavam
preocupadas com a sucessão de
episódios do gênero. Resposta de
Gregori:
"É mera coincidência. Afinal,
infarto não é dengue, não é contagioso."
Mas admitiu que "os ventos não
são favoráveis" para o governo,
pelo menos no âmbito da saúde de
algumas figuras relevantes.
Outro integrante da comitiva
oficial, o senador Lúcio Alcântara
(PSDB-CE), já estava dormindo
que foi informado pela Folha da
morte do deputado. Reagiu com
espanto: '"Estou siderado. Não é
possível".
(CLÓVIS ROSSI)
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